Desacreditado, premiê israelense agarra-se ao cargo
Por Michel Bôle-Richard, no Le Monde
No fim de agosto de 2006, logo depois da Guerra do Líbano, os reservistas que protestavam diante do gabinete do primeiro ministro Ehud Olmert, em Jerusalém, contra as trapalhadas na condução das operações,
Publicado 18/01/2007 12:38
Por enquanto eles têm poucas chances. Mas a demissão do generl Halutz provocou estupor, ainda que todos soubessem que os dias do chefe do exército israelense estavam contados. É a primeira vez que um chefe de Estado-Maior entrega o cargo, depois de submetido a meses de virulentos ataques.
Ainda será preciso esperar algumas semanas para conhecer as conclusões da Comissão Winograd, encarregada de investigar os malogros do Tsahal (nome hebraico das forças armadas de Israel), para apurar as responsabilidades de Olmert e Peretz nas ações desastradas que jogaram no descrédito um exército que os israelenses consideravam como um dos melhores do mundo.
Já na quarta-feira, Amir Peretz advertiu “os inimigos de Israel” de que “a decisão prematura do general Halutz não deve ser interpretada como um sinal de fraqueza”. Contudo, a dupla Olmert-Peretz (que encarna a coalizão Kadima-Trabalhistas), já atingida por múltiplas cisões, parece cada vez mais frágil.
Primeiro, porque todo mundo considera que o ministro da Defesa não é o homem para estar à frente das forças armadas; segundo, porque o primeiro ministro, depois do fracasso libanês, tem que enfrentar numerosas investigações judiciais que colocam sua honestidade em dúvida.
O procurador do Estado Eran Shendar decidiu, nesta terça-feira, abrir um inquérito criminal contra Olmert em virtude de indícios de uso de sua influência como ministro das Finanças, em 2005, para favorecer dois amigos na privatização do segundo maior banco do país, o Leumi. Isso jogou mais uma sombra sobre o futuro político do sucessor de Ariel Sharon, que assumiu a chefia do governo há apenas nove meses.
Olmert é acusado de modificar as condições da licitação de modo a favorecer um empresário australiano, Frank Lowy, igualmente implicado em outros inquéritos em torno de transações imobiliárias. O leilão contudo foi vencido por um outro candidato.
Segundo a imprensa israelense, Olmert está absolutamente tranqüilo quanto a caso e deseja que o inquérito se conclua rapidamente, para que seu nome saia limpo. Muitos outros episódios relacionados com ele são objeto de investigações — especialmente a venda de um imóvel que levanta suspeitas de financiamento oculto –, mas nenhum outro inquérito oficial foi aberto até o momento.
Segundo o diário Maariv, os questionamentoa aparecem até no interior do próprio Kadima (o nome significa “Avante”), partido criado por Sharon e herdado por Olmert. As pesquisas indicam uma dramática queda das intenções de voto. O primeiro ministro já contam com apenas 14% de apoio e, no caso de eleições, sua sigla não teria mais que 20 cadeiras parlamentares num total de 120 e contra 29 atualmente; já o Likud arrasaria.
Apesar de tudo, a despeito das nuvens que se amontoam sobre o governo israelense, Ehud Olmert não parece disposto a sair. Ele ainda dispõe de uma confortável maioria no interior do Knesset (parlamento de Israel). Yossi Verter, colunista político do jornal Haaretz, compara a sorte do primeiro ministro ao suplício chinês da gota que tomba sempre sobre o mesmo lugar. E indaga como, nas condições atuais, o homem pode continuar governando. “Aqueles que conhecem bem Olmert dirão que ele é feito de aço, pois não entra em pânico, nem em depressão, e está convencido de que todas essas investigações se destinam apenas a fabricar manchetes”.