Reverendo Luiz Carlos Gabas filia-se ao PCdoB em Cascavel

A pouco menos de um mês uma importante liderança comunitária filiou-se ao PCdoB. Membro da Igreja Anglicana em Cascavel, o Reverendo Luiz Carlos Gabas assinou a ficha de filiação do Partido Comunista do Brasil e  concedeu uma entrevista ao Canto Gera


''Religiosidade verdadeira é aquela que  compromete as pessoas com a transformação das estruturas que dominam este mundo e produzem toda sorte de injustiças.''
 
 
Canto Geral – Primeiro vamos para a apresentação, fale de sua história aqui no município de Cascavel, sobre sua ocupação…
 



Reverendo – Paulista, da cidade de Araçatuba, morei por muitos anos na cidade de Londrina. Desde 2002 estou em Cascavel à frente da Paróquia da Ascensão, uma pequena comunidade que pertence à Diocese Anglicana de Curitiba.
Ao longo destes anos tenho feito um grande esforço para que a nossa comunidade possa ultrapassar os limites do espaço litúrgico (templo) e venha a se envolver em questões ecumênicas, sociais e políticas.
Logicamente há ainda aqueles (as) que preferirão continuar vivendo uma religiosidade descompromissada com a transformação da realidade.
Como comunidade estamos atuando em várias frentes: Conic/Cascavel (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs / Representação Cascavel), Molivi (Movimento de Libertação de Vidas/ Comunidade Terapêutica), Abesp (Associação Beneficente Solidariedade e Paz / Projetos Sociais na região nordeste de Cascavel), Comitê de Combate à Corrupção, etc…



 
Canto Geral – Qual a origem da Igreja Anglicana…



 
Reverendo – A Igreja Anglicana tem sua origem nos primeiros séculos do cristianismo europeu.
Embora possa não ser muito compreensível para algumas pessoas, ela é ao mesmo tempo Católica e Protestante. Católica por causa da sua origem, sua organização institucional e litúrgica.
Protestante por também ter incorporado elementos da Reforma à sua estrutura doutrinal.
A esse jeito de ser da Igreja denominamos de ''Inclusividade''. 
Nós anglicanos brasileiros formamos a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (uma Igreja Nacional) que está em comunhão com a Igreja mãe da Inglaterra.
 



 
Canto Geral – E sobre a participação no CONIC, qual é o papel da entidade, que objetivos ela têm?



 
Reverendo – Anglicano tem que ser ecumênico, isto é, comprometido com a unidade das diferentes Igrejas cristãs em torno da pessoa de Jesus Cristo.
É claro que unidade não pode ser entendida como uniformidade. Cremos que as diferentes Igrejas podem caminhar juntas mesmo sendo diferentes nos entendimentos teológicos, doutrinários e estruturais.
A nível mundial quem trabalha pela unidade dos cristãos é um organismo chamado Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Já no Brasil é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) quem faz esse trabalho. Ele é composto por seis Igrejas: Luterana, Católica Romana, Presbiterana Unida, Ortodoxa Siriana, Cristã Reformada e Anglicana.
Em Cascavel alguns membros das Igrejas Luterana, Romana e Anglicana (padres, pastores e leigos) compõem uma representação local do Conic.


 


Canto Geral – Quais motivos o levaram a se filiar ao PCdoB?
 



Reverendo – A maneira como penso o mundo e como me posiciono diante das questões políticas e sociais parecem ser bastante claras.
Entendo poder contribuir tanto no campo religioso como no político, que não são antagônicos, para ações transformadoras.
Embora tenha sido filiado ao Partido dos Trabalhadores até alguns anos atrás, cativou-me sobremaneira a forte presença de gente jovem (mulheres e homens) na militância do PCdoB.



 
Canto Geral – A religião hoje, na prática da maioria das igrejas, cumpre um papel conservador da sociedade, como uma ferramenta de alienação dos trabalhadores. Qual a sua opinião sobre isto e, no seu entendimento, qual o verdadeiro papel da religião? O senhor acha que as igrejas deveriam adotar outro papel?



 
Reverendo – Os profetas, muito antes de Jesus, denunciaram a prática de uma religiosidade descompromissada com a justiça. Templos, cultos e sacerdotes acabavam sendo instrumentos de alienação porque apresentavam um Deus que se contentava em receber ofertas, dízimos, sacrifícios e holocaustos, e que não estava nem aí com a situação do povo pobre e sofrido. 
Jesus foi duro também com esse tipo de religiosidade. Afastou-se do Templo de Jerusalém e da estrutura religiosa que tentava manipular a Deus. Comprometeu-se com os pobres e os sofredores para mostrar de que lado Deus estava.
Jesus e os profetas foram perseguidos e mortos em conseqüência da postura que adotaram.
Portanto, religiosidade verdadeira é aquela que  compromete as pessoas com a transformação das estruturas que dominam este mundo e produzem toda sorte de injustiças.
É aí que vamos entender porque muita gente prefere trilhar por um caminho aparentemente mais seguro e compensador: o caminho da religiosidade descompromissada. É melhor falar de um Deus que premia e castiga, que se preocupa com orações e devoções, com a roupa e o cabelo, com o culto e o louvor… do que falar de um Deus que quer fazer acontecer a Justiça e que toma partido a favor dos pobres e dos sofredores..
 



 
Canto Geral – O senhor poderia traçar um paralelo entre o socialismo e a religião?



 
Reverendo – Creio não existir antagonismo entre socialismo e religião libertadora.  Um e outro buscam transformar as estruturas injustas deste mundo que produzem a exploração, a opressão, a fome, a falta de terra e de casa, a exclusão… 
Tanto o socialismo, como a religião libertadora, procuram fazer com que os pobres e os sofredores sejam agentes da sua própria libertação.  

 


Diangela Menegazzi – Sec. de Comunicação PCdoB Cascavel