Comitê Central impulsiona atuação partidária
Por Walter Sorrentino
A reunião do Comitê Central, encerrada no dia 11 de março, produziu duas importantes Resoluções, destinadas a acelerar o impulso do Partido na disputa de seu espaço político próprio. Compreender bem esses impulsos,
Publicado 15/03/2007 14:03
O ponto de partida das proposições aprovadas pela reunião do Comitê Central dos dias 9 a 11 de março é o acúmulo de fatores que foram se conformando na situação política, que objetivamente expressam uma situação mais favorável à luta.
Isso se cristalizou na orientação traçada na Resolução Política: “Uma tática mais afirmativa e audaciosa do Partido”. Também quanto à força partidária houve acúmulo, expresso nos resultados eleitorais, no protagonismo político e também na estruturação, tornando maior e mais influente a presença militante, consolidando organicamente o Partido.
O clima no Partido hoje é avançado no sentido de crescimento e afirmação. Há razoável demanda eleitoral de prefeitos, parlamentares e lideranças de esquerda, além de ativistas da luta social, que manifestam a intenção de vir para o PCdoB.
A diferenciação política do PCdoB vai sendo compreendida como uma necessidade política: há espaço a ser disputado por uma esquerda coerente e conseqüente, com objetivos políticos mais avançados, capaz de unir forças políticas e sociais, de caráter militante e coesão na ação política.
Outro ponto de partida são as referências críticas à situação do Partido. Que sentido tem esse registro crítico? Primeiro, tem um sentido analítico-factual. Não se avança sem ser inteiramente conseqüente com a avaliação do desempenho partidário; isso é prova de seriedade na luta, e foi registrado, sinteticamente, na reunião do Comitê Central: “Os resultados eleitorais foram positivos, não sendo, contudo, fortemente expansivos do ponto de vista eleitoral, no quadro de forças da disputa política no país. Indicam defasagens partidárias, face ao nível da luta política em curso no país e às responsabilidades assumidas. Envolvem insuficiências quanto à identidade política e eleitoral do PCdoB perante a população; o grau da ligação dos comunistas com o povo; o volume e qualidade do trabalho das organizações partidárias, sobretudo na base e nos comitês intermediários; o restrito aproveitamento da participação em instâncias de governo; a insuficiente base material alcançada para o nível da batalha eleitoral como indicador do grau de articulação política em torno do projeto partidário. E, ainda, o grau de maturidade das direções partidárias na construção, condução e controle do projeto partidário”.
O segundo sentido crítico é o de que sempre que se abre uma perspectiva política ampliada, ela é enfrentada a partir do que foi herdado da fase anterior, defasada perante as exigências.
Isto é natural. Hoje, o Partido precisa de mais musculatura para avançar. São 187 mil filiados; 70 mil militantes participaram ativamente no 11º Congresso. O Partido tem presença marcante no movimento político e social, com um portal na internet de grande penetração política; vem tratando com seriedade a luta de idéias e a formação militante, bem como sua sustentação material.
Mas ainda não construiu uma maior identidade política e eleitoral: representa, proporcionalmente, apenas 2,13% do eleitorado, não chegando a grandes parcelas da população. Particularmente, portanto, registra-se ter havido na trajetória recente do PCdoB uma defasagem especificamente político-eleitoral, na medida em que não se inseriu de forma plena na disputa política disputando cargos majoritários com sua própria legenda e alcançando coeficiente eleitoral próprio. Houve uma certa inércia da tática eleitoral de concentração e coligação desde a década de 90, avançando progressivamente a transição tática desde 2004.
O terceiro sentido de um registro crítico é o principal: a necessidade de extrair conseqüências desse exame, não apenas descrevê-lo ou analisá-lo. Foi o esforço feito na Resolução sobre as Questões de Partido: apontar em que direção é preciso dispor dos esforços partidários.
A Resolução Política, consolidando reflexões que vêm sendo amadurecidas desde a avaliação eleitoral do ano passado, encabeçadas por Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, apresenta dois impulsos centrais. Um é o de que, na nova realidade de forças, a disputa mais afirmativa do lugar político próprio do PCdoB exige aprofundar a transição da tática eleitoral, disputando e conquistando espaços institucionais próprios de governo.
Com isso se alcançam meios mais avançados e concretos para falar e promover políticas voltadas ao povo, gerando identidade política e eleitoral com uma base social determinada. Trata-se de realizar esforço mais bem direcionado para transformar o trabalho permanente dos comunistas na sociedade em força eleitoral efetiva. Isso perpassa uma maior inserção dos comunistas no curso real da vida política e social, alcançar melhor tradução entre essa atividade e a construção de lideranças e redutos eleitorais, e pôr ao serviço desse diálogo, inserção e visibilidade também as responsabilidades de governo que são assumidas, com objetivos mais precisos e concretos nessa direção.
O outro impulso é o de intensificar relações com camadas mais amplas do povo. Como aponta Renato Rabelo, trata-se de reforçar decisivamente os vínculos partidários com o movimento social, tanto com aquele organizado – juvenil, sindical, popular –, como também com as camadas mais pobres, nas grandes concentrações urbanas do país. Conseqüentemente, é necessário agir pelo fortalecimento da unidade de ação dos movimentos sociais, tendo como centro a sua intervenção política na luta em curso no país e na pressão pelas mudanças, por intermédio das suas organizações de tradições de lutas e articulações como a Coordenação dos Movimentos Sociais.
Mas também intensificar relações com organizações culturais, esportivas, religiosas, de lazer e vivência em geral, do cotidiano de extensas camadas populares. Saber transmitir, em linguagem apropriada, as idéias e objetivos partidários, com métodos e meios eficazes para dialogar de fato com os anseios delas. Adaptar e intensificar a propaganda e agitação que se realiza. Incorporar-se aos movimentos reais em curso, ser não apenas o partido das grandes causas do povo e do país, como também das causas cotidianas, com bandeiras, plataformas e lideranças capazes de ir ao encontro das aspirações sentidas dessas camadas. Desenvolver novas interações entre a atuação e instituições dos setores fundamentais – o proletariado, a juventude, a intelectualidade avançada – e as amplas parcelas do povo. Dinamizar e tornar mais presente o trabalho das bases partidárias, a partir do apoio mais concreto dos comitês partidários nos maiores municípios do país.
Já na Resolução Sobre as Questões de Partido se aponta um terceiro impulso fundamental: a exigência de mais quadros, principalmente quadros intermediários, para sustentar o trabalho partidário na luta política e social e como meio para modificar o modo como se opera no trabalho entre a direção e a base. Essa conclusão está indissoluvelmente ligada às anteriores. É o modo concentrado de preparar o Partido para o novo nível de embate política que se apresenta.
É preciso realçar isso: qual é mesmo a principal expressão da visão crítica das deficiências apontadas sobre as questões de Partido? Qual é mesmo a principal expressão dos dilemas, pressões e contradições do processo de estruturação partidária, fruto da necessidade de assumir de forma plena a luta política, concentrada na esfera eleitoral-institucional?
Há eleição de 2 em 2 anos, e isso exige muito de um determinado tipo de trabalho partidário; de permeio, há os anos de conferências e congressos, quando se dedica mais esforço à estruturação partidária. Que efeitos isso tem trazido para a estruturação partidária?
A resposta encontrada é que, fruto da expansão, é muito insuficiente a ligação entre o trabalho de direção e as bases partidárias. Dá-se pouco apoio ao trabalho na base – o que, por sua vez, é responsável por pouca ligação sistemática com os trabalhadores e o povo. Faz-se necessária uma massiva rede de quadros intermediários e de base, os “capitães”, para alargar mais a relação da estrutura militante com o povo. O trabalho de direção geral do Partido precisa descer mais para o meio da estrutura partidária, dar mais apoio em baixo. Aos quadros intermediários deve ser dedicada maior atenção, porque é aí onde se faz sentir mais a pressão do cotidiano, da dispersão, da falta de condições para um bom trabalho de impulsionar a atividade das bases. A capacidade de intervenção do Partido na luta política e social, na disputa concreta de seu espaço próprio, depende hoje, muito decisivamente, da qualidade e dimensão da estrutura de quadros intermediários e de base.
A Resolução “Audácia e determinação para estruturar o partido à altura do atual projeto político” articula esses três impulsos para o processo de estruturação partidária. Pede ousadia e determinação para pôr em outro patamar a força orgânica do Partido, para dar suporte à tática política mais afirmativa e audaciosa. Tudo somado, êxitos e debilidades de Partido, aponta para uma mudança de fase na edificação partidária. Indica a necessidade de outra estratégia de enfrentamento das questões, mais focada e mais determinada, em função do reposicionamento político. Ela apresenta as diretrizes gerais para o plano de estruturação partidária, renovando linhas e estratégias; inclui objetivos nacionais centrais para serem cumpridos em 2007 como propostas de ação. Indica três frentes de concentração de esforços: formação, comunicação e finanças, com medidas intensivas.
O PCdoB vem sendo conseqüente no enfrentamento das perspectivas de construir um Partido verdadeiramente transformador. Desde a 9ª Conferência e o 11º Congresso tem realçado o sentido estratégico dessa luta e o enfrentamento das pressões tendentes a rebaixar seu papel estratégico.
Esta é uma conclusão importante: não se perder quanto ao sentido da luta atual e seus objetivos imediatos, não perder de vista objetivos superiores, nem os meios para alcançá-los.
É a resposta que o Partido dá aos dilemas e pressões da luta presente: combinar com justeza, dialeticamente, as linhas de acumulação estratégica de forças – a luta política, a luta social e a luta de idéias – sem unilateralismos, sem pragmatismo imediatista. Cada qual tem seu tempo próprio, suas características próprias, mas aí está concentrada a questão de buscar o lugar político próprio do PCdoB: sem idéias avançadas não se vai a lugar algum estrategicamente; sem que essas idéias penetrem amplos setores sociais ela não tem força material. Sem que se manifestem num projeto político, imerso na luta política real e concreta – inclusive e principalmente eleitoral hoje – não se desenvolve nem uma nem a outra coisa. Tudo isso significa luta pela hegemonia de forças avançadas, num bloco de forças políticas e sociais, capaz de pôr em movimento das forças sociais motrizes da mudança e conquistar a maioria da nação.
A expressão concreta disso é a capacidade de aplicar integralmente a linha de estruturação partidária, lutar por sua assimilação e desenvolvimento, ao lado da implementação da cultura político-organizacional do Estatuto partidário, que consagra um partido de caráter militante. Essa linha segue atual e é uma exigência para preservar o patrimônio alcançado. Ao mesmo tempo, necessita dos desenvolvimentos exigidos pela presente situação. De modo central, é preciso fortalecer a estrutura militante com quadros intermediários dedicados e apoio maior das direções ao trabalho pela base.
Por isso, sendo inteiramente conseqüente com o registro das insuficiências e debilidades, ao mesmo tempo se deve acertar no exame crítico, para superar dialeticamente a situação dada. Porque o PCdoB está numa rota de permanência e renovação quanto ao caráter do Partido, num aggiornamento de suas concepções e práticas. Não é pequeno o capital político e estruturativo acumulado nesse percurso, em dez anos de esforços sob a consigna de cuidar mais e melhor do partido. Deve-se perseverar na linha traçada. Mas cumpriu-se uma etapa. O esforço de estruturação precisa agora ser ajustado, no sentido de ser desenvolvido, no conteúdo e nos métodos, com intensividade, ousadia e determinação. É o rumo apontado nas Resoluções do Comitê Central.
* Walter Sorrentino, médico, é secretário de Organização do PCdoB
Leia também as resoluções do Comitê Central:
Tática mais afirmativa e audaciosa do Partido
Audácia e determinação para estruturar o partido à altura do atual projeto político