Messias Pontes  –  Entre a hipocrisia, a desinformação e a má fé

Já estamos em meados de abril (mês de chuvas mil) e a perspectiva é de que mais da metade da safra agrícola deste ano, no Ceará, seja perdida. Em muitos municípios, a perda de algumas culturas é total. Muitos agricultores fizeram empréstimo bancário e não

A triste paisagem de carros-pipa e de pessoas com lata na cabeça ou puxando jumentos com canecos para encher de água a quilômetros de distância, é uma realidade que vai perdurar até que tenhamos rios perenes em nossa região. E com o aquecimento global, a perspectiva é de que nas regiões Norte e Nordeste a temperatura suba até cinco graus centígrados até a década de 80. Isto vai implicar mais seca, mais miséria e mais morte.


 


O quadro não é nada animador e não tem outra saída para nós senão a integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, que envolve o agreste e o sertão de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. O desenvolvimento sustentável desta região só será possível com água, e não tem outro meio senão através do Velho Chico. E não é muito que se quer dele: é apenas 26 metros cúbicos por segundo, ou pouco mais de um por cento da água que é jogada ao mar. A quantia é tão pequena que nenhum aparelho, por mais moderno que seja, é capaz de detectar.


 


Diz a sabedoria popular que todo mal traz um bem. Com a situação de penúria vivida com a prolongada estiagem deste ano, está na hora das lideranças políticas, empresariais, sindicais e populares do Nordeste Setentrional exigirem o imediato início das obras do Projeto de Integração do Velho Chico, já que o Ibama forneceu o estudo e o relatório de impacto ambiental, e já há recursos financeiros garantidos.


 


Essa cantilena apregoada pelo ministro da Integração Nacional, o baiano Geddel Vieira Lima, de que é necessário um amplo processo de discussão sobre o assunto, não passa de protelação. Não há mais o que discutir. Várias audiências públicas foram realizadas desde Minas Gerais até o Ceará. E onde não houve é porque os contra impediram. Portanto é preciso fazer a hora. Está na hora do presidente Lula bater o martelo e dizer que não aceita mais protelação e que quer o início das obras já.


 


Pode-se dizer, sem medo de errar e sem cometer injustiça, que o Projeto de Integração do São Francisco só trará benefícios para todos. Com abundância de água, ninguém mais migrará para as grandes cidades por necessidade. Portanto, quem se posiciona contra ou é hipócrita, ou desonesto ou muito mal informado. A maioria, com certeza, está mal informada como acredita o engenheiro Cássio Borges, ex-diretor regional do Dnocs e uma das maiores autoridades brasileiras em recursos hídricos.


 


Os que defendem outras soluções técnicas, como a captação de água em lençóis subterrâneos por meio de poço precisam saber que 70% do Polígono das Secas é constituído de terreno pedregoso que não permite a infiltração de água. Além do mais, a qualidade da água de poço, na maioria das vezes, contém alto teor de sais e outros minerais, o que a torna imprópria para o consumo humano ou mesmo para irrigação.


 


Os que defendem cisternas de placa como solução para o problema do semi-árido são hipócritas ou estão ganhando dinheiro com elas. Qualquer criança sabe que cisterna só enche se chover, e mesmo assim só dá para o consumo humano durante seis meses. E os animais? E as plantas?


 


Deputado Chico Lopes, continue na luta pela interligação de bacias, mobilize o maior número de lideranças da região e exija do ministro da Integração Nacional que dê início às obras, pois os sertanejos do Nordeste Setentrional não podem mais esperar. Convide o ministro Geddel Vieira Lima para passar uma semana conhecendo o sofrimento da população cearense atingida pela estiagem prolongada este ano. É preciso ver para crer.


 



Messias Pontes é jornalista