Para que transformar Serra Vermelha em reserva florestal?
Em artigo enviado ao Vermelho, o secretário de estadual do Meio Ambiente do Piauí, Dalton Macambira, questiona a quem interessa que uma enorme área do Piauí seja transformada em parque e pare de produzir a riqueza de que tanto precisam
Publicado 16/04/2007 18:59 | Editado 04/03/2020 17:02
Para que transformar Serra Vermelha em reserva florestal?
A quem interessa que a discussão acerca do projeto de manejo florestal da Serra Vermelha se mantenha no nível em que vem sendo tratado? A quem interessa ignorar a discussão técnica que, por mais de uma vez, caracterizou o projeto como um autêntico manejo florestal e continua falando no maior desmatamento do Nordeste? A quem interessa citar o projeto da Serra Vermelha como mais um passo rumo ao aquecimento global, quando o Protocolo de Kioto propõe que iniciativas desta natureza sejam contempladas com créditos de carbono, exatamente por contribuírem para o seqüestro do carbono que os nossos automóveis a gasolina lançam na atmosfera?
É difícil dizer a quem interessa isto. Muitos dos interesses atrás destas questões estão muito bem disfarçadas de “interesses ambientais”. A verdade, entretanto, é que o projeto da Serra Vermelha foi proposto pelo Ministério do Meio Ambiente, em substituição ao projeto de produção de grãos por ser uma alternativa muito melhor que a anterior. É importante que se diga que, no projeto anterior, não havia qualquer ilegalidade ou qualquer dano ambiental não previsto na legislação brasileira.
Não. Não havia qualquer irregularidade no projeto de plantio de grãos que estava proposto para a Serra Vermelha. A proposta do Ministério do Meio Ambiente foi feita apenas pelo fato de ser ambientalmente muito melhor que o plantio de grãos.
E qual é a grande vantagem deste projeto? É o combate ao aquecimento global pela via do seqüestro de carbono, ou seja, é a captação do carbono existente na atmosfera pelas árvores em crescimento. E como é que isto está acontecendo na Serra Vermelha? Ora, o manejo prevê o corte de um grande número de árvores em um determinado lote. A madeira destas árvores vira carvão, ou seja, energia. Esta energia substitui a energia gerada pela queima de petróleo ou de carvão mineral que também lançam carbono na atmosfera. Ocorre que as árvores cortadas rebrotam e crescem novamente e, ao crescer, buscam na atmosfera o carbono lançado pela queima do carvão vegetal. No caso da queima de carvão mineral ou petróleo, não há seqüestro de carbono.
Qual a diferença entre o manejo e o desmatamento? No desmatamento as árvores são inteiramente retiradas, pela raiz. No manejo elas são cortadas e rebrotam. No projeto em questão, estão previstos treze lotes. Como a cada ano será manejado apenas um lote, o corte das árvores de um mesmo lote só será repetido a cada 14 anos, possibilitando a recomposição total da floresta e sua manutenção, indefinidamente. Há exemplos de manejo que foram extremamente bem sucedidos por mais de 60 anos. Nestes manejos a floresta sempre se regenerou e sempre garantiu a satisfatória manutenção da biodiversidade.
A quem interessa desconhecer isto e propor simplesmente a criação de uma unidade de conservação? A simples criação de unidades de conservação não deterá ou diminuirá o aquecimento global. Isto não está sendo dito. O que estamos necessitando é de alternativas para seguir produzindo, sem provocar o aquecimento do planeta. Por isto é que foram propostos os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, no âmbito do Protocolo de Kioto. Para produzir sem aquecer o planeta. Uma das possibilidades claras neste sentido é o manejo florestal para produção de energia renovável. A quem interessa transformar a Serra Vermelha em um parque. Todos sabemos que os parques não são garantia de preservação, uma vez que não podemos garantir segurança para todos eles. A quem interessa que uma enorme área do Piauí seja transformada em parque e pare de produzir a riqueza de que tanto precisamos, sem que isto represente qualquer garantia de preservação. No Manejo, a terra produz riqueza e recupera a biodiversidade. E isto sem custo para o estado. A quem interessa isto?
*Dalton Macambira (PCdoB) é secretário de estadual do Meio Ambiente, Piauí