Deputado Chico Lopes saúda a UNE pela retomada da sede

O deputado Chico Lopes saudou a União Nacional dos Estudantes pela vitória obtida no início da semana com a decisão judicial de manter os estudantes no terreno de sua sede histórica.

O deputado Chico Lopes (PCdoB) ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira, dia 11, para saudar a decisão do Juiz da 43ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Jaime Dias Pinheiro Filho, assegurando a permanência da UNE no terreno onde funcionou sua histórica sede no Rio de Janeiro. Para o deputado do PCdoB cearense a “decisão judicial marcou a história da juventude brasileira e das lutas de nosso povo”. Para Chico Lopes a UNE é “um símbolo do compromisso da juventude com o Brasil desenvolvido, justo e democrático”, e ressaltou as palavras do juiz que afirmou ser a entidade “um verdadeiro patrimônio do povo brasileiro”.


 


O deputado comunista resgatou o papel da UNE nas lutas democráticas nacionais e acentuou a determinação dos estudantes em assegurar o que lhes e de direito, no caso específico o terreno de sua sede. Citando Gonzaguinha a afirmou que a “a juventude não corre da raia a troco de nada” e por isso não aceita limites. Chico Lopes colocou seu mandato, “conquistado também por milhares de jovens cearenses”, a serviço dos estudantes e encerrou com a histórica palavra de ordem “a UNE somos nós, nossa força nossa voz”. Por fim leu trechos da música “E Vamos à Luta”, de Gonzaguinha.


 


 



Veja a íntegra do pronunciamento:


 


 


Senhor Presidente,



Senhoras deputadas,



Senhores deputados,


 



No início desta semana uma decisão judicial marcou a história da juventude brasileira e das lutas de nosso povo. O Juiz da 43ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Jaime Dias Pinheiro Filho, em sentença memorável, julgou improcedente o pedido de reintegração de posse formulado pelo proprietário de estacionamento clandestino que ocupava ilegalmente o terreno onde funcionou a sede da União Nacional dos Estudantes, a UNE.


 


A UNE é a histórica entidade representativa dos universitários brasileiros, um símbolo do compromisso da juventude com o Brasil desenvolvido, justo e democrático. O próprio magistrado definiu muito bem a UNE como ''um verdadeiro patrimônio do povo brasileiro”


 


A decisão judicial encerrou uma batalha iniciada no início de fevereiro quando os estudantes ocuparam o terreno que lhes pertencia de fato e ali organizaram uma resistência que contou com o apoio de diversas personalidades e instituições. Foram três meses em que os estudantes nos deram aulas de determinação, de habilidade, de alegria, de valorização da cultura nacional e acima de tudo de resgate histórico.


 


Alguém poderia dizer que era apenas um terreno qualquer, situado num bairro tradicional do Rio de Janeiro e que a UNE poderia almejar um outro lugar para construir a sua sede. Mas a juventude nos mostrou que não é pelo fato de ter pouca idade que deixa de valorizar seu patrimônio, sua história, sua memória, como diz o seu hino composto por Carlos Lyra, “a UNE reúne, futuro e tradição”.  Aquele terreno, ironicamente transformado num estacionamento de carros, segundo o presidente da UNE, Gustavo Petta, acolheu, ao longo de muitos anos, a luta dos estudantes. O prédio doado pelo então Presidente Getúlio Vargas foi cenário para o surgimento do Centro Popular de Cultura, de onde sugiram verdadeiros ícones da música, do teatro, da literatura e do cinema nacionais. Dali os estudantes somaram-se aos que resistiam às tentativas golpistas contra João Goulart e por isso a sede da UNE foi o primeiro alvo da quartelada de Primeiro de Abril de 1964.  Invadido e incendiado  no primeiro dia da ditadura,  o prédio foi demolido por ordem dos militares quando estes já começavam a ser atropelados pela onda democrática que foi crescendo no início dos anos 80. A juventude é sempre uma ameaça para os inimigos da democracia e do progresso e por isso fazem de tudo para não deixar vestígios das lutas juvenis.


 


 


Vivi os tempos ásperos em que os jovens eram abordados nas ruas pelo simples fatos de serem jovens e apenas isso os tornava suspeitos. Provei do amargo fel de uma ditadura que elegeu a juventude como inimiga. Mas os jovens nunca se dobraram. Buscaram todas as formas de resistência. Se não podiam estar nas ruas abertamente, atuaram de forma mais discreta ou até mesmo no enfrentamento armado, nas cidades ou no interior, como fizeram os valorosos guerrilheiros do Araguaia. É assim mesmo, a juventude não aceita limites. Como disse o saudoso Gonzaguinha, “a juventude não corre da raia a troco de nada”. Resistimos, vencemos, a democracia prevaleceu e a liberdade abriu as asas sobre nós.


 


 


A vida me levou a ser professor, a conviver diariamente com jovens. Conheci e conheço muito bem a juventude, acredito na rapaziada e por isso saúdo a UNE e os estudantes brasileiros por esta vitória de grande significado. Podem contar sempre comigo, com este mandato que foi conquistado também por milhares de jovens cearenses.


 


Um forte abraço.


 


Viva a União nacional dos Estudantes!



A UNE somos nós, nossa força e nossa voz!


 


 


E Vamos Á Luta


Gonzaguinha


 


Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão


Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada


Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e contói
A manhã desejada


Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser bresileiro


Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada


Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira


E nós estamos ‘pelaí’…


Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão


Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada


Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e contói
A manhã desejada


Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser bresileiro


Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada


Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira


E nós estamos ‘pelaí’…


Eu acredito é na rapaziada



De Fortaleza, Inácio Carvalho