Uma farsa

No início da década de sessenta, no século passado, o  movimento operário estava em ascenção. A renúncia de Jânio Quadros provocou um vazio de poder. O ex-governador paulista fez uma jogada, tentando instalar um regime duro, uma ditadura disfarçada.

Mas Jango, como era conhecido, não estava no Brasil. Fizera uma viagem à China Comunista. E as Forças Armadas, em conluio com a elite reacionária, informou que o Vice-Presidente não assumiria o cargo. Exigiam novas eleições. Foi a pedra de toque para que as forças progressistas saíssem em defesa do mandato de Jango. A mobilização provocou uma negociação que terminou com a implantação de um sistema parlamentarista, mas que não durou muito.


 


A pressão popular, liderada pelo movimento sindical de esquerda, os estudantes da UNE e até a chamada Igreja Progressista e a OAB – ou seja, um amplo movimento – exigiu um plebiscito. E o Parlamentarismo foi extinto. O Governo Jango apresentou alguns pontos progressistas, mas sofreu muita pressão. E constantemente a “reação” buscava formas de bloquear as ações progressistas do Governo Jango.


 


Muitas manifestações, greves e protestos aconteceram. Os trabalhadores, os estudantes e outros segmentos sociais tentavam a unidade na ação. Mas cobravam muito do Governo, que não era socialista, mas tinha recebido apoio na eleição. O PTB, partido do então Presidente, tinha uma atuação relativamente avançada. Até que no final de 63 e no inicio de 64, a parte reacionária da Igreja Católica, que inclusive trouxe ao Brasil um representante do clero norte-americano, juntamente com os organismos de espionagem, com o apoio ostensivo do Embaixador americano no Brasil, promoveu movimentações em várias cidades. Era a chamada
Marcaha com Deus pela Liberdade, que culminou com a ditadura de 64, deflagrada em 31 de março daquele ano.


 


Os movimentos de apoio ao governo não estavam efetivamente organizados. E todos sabemos o que significaram os vinte anos durante os quais os organismos de repressão atuaram. Se pouco tempo antes do Golpe já havia divisão na esquerda, durante a ditadura isto ficou mais acentuado. Muitos grupamentos de luta foram formados, com as mais diferentes concepções de luta, mas todos com o objetivo maior que era a derrubada da ditadura. Até nosso Partido assumiu a luta armada, com a histórica “Guerrilha do Araguaia”, onde perdemos valorosos camaradas. E sofremos também com a “chacina da Lapa”, na capital de S.Paulo. Outros grupos de luta também foram reprimidos. Mas não impediu o reagrupamento de várias forças, até que, em 84, vieram as eleições diretas e o fim da ditadura.
 


O tempo passou e conseguimos eleger um Presidente sindicalista. E muitos pensam que conseguimos a solução de todos os problemas sociais. O Governo, que conta com nosso apoio crítico, está deixando a desejar. E muito. E tem levado nosso Partido a buscar formas de cobrança, que precisam ter uma base à partir da mobilização de todos os segmentos progressistas, o que tem sido muito dificil.


 


Mas a direita reacionária não perde tempo. A história se repete como farsa. Num momento de emoção, com a morte de mais de 200 pessoas no maior acidente aéreo de nossa história, direitistas reúnem seus comparsas e saem em passeata não para cobrar soluções para os problemas da aviação. Usam o artificio da mentira e da desinformação, tentando desgastar o Governo Lula. E até a OAB de S.Paulo aparece como liderança do movimento. Enquanto isso, ficamos na discussão estéril, no desgaste entre militantes de movimentos sociais, ao contrário da direita, que procura superar suas divergências.


 


O desafio está lançado. Temos de buscar a unidade, colocando em prática propostas de organização e sobretudo, demonstrando o que queremos para o nosso país. E mandando o recado de que não vamos ficar passivos diante dos acontecimentos. O PCdoB tem propostas e encaminhamentos. E não vamos ficar inertes. A história não vai se repetir.


 


Uriel Villlas Boas, Coordenador da CSC na Baixada Santista, para o Vermelho-SP