“Novo jeito de governar” de Yeda anuncia demissão de 300
*Por Regina Abrahão
Por conta do corte de custeio proposto para todos os órgãos da administração estadual, serão demitidos esta semana cerca de 300 trabalhadores da ASCAR-EMATER, entidade que presta assistência ruderal para cerca de 260 mil famílias
Publicado 20/08/2007 21:40 | Editado 04/03/2020 17:12
Este orçamento previsto pela EMATER serve para o pagamento das estruturas utilizadas pelos escritórios regionais e municipais, voltados para geração de renda e capacitação para o trabalho através de atividades que incluem assistência agrícola, assistência social, educação, saneamento básico e encaminhamentos para saúde.
Se considerarmos que 260 mil famílias podem representar cerca de 1,3 milhões de pessoas, chegaremos à quantia de menos de 34 reais/mês para cada seis pessoas (em média) fixadas no campo por uma quantia irrisória. E com atividades que permitem seu sustento.
O efeito nefasto desta economia será, primeiro, a expulsão destas famílias do campo. Expulsos por falta de estrutura, virão a engrossar ainda os cinturões de miséria das grandes e médias cidades.
E nas cidades, serão atendidos também por um serviço público que já não consegue atender dignamente seus cidadãos. Sofrerão internações hospitalares causadas pela falta de saneamento básico, padecerão das doenças típicas da miséria. Padecerão com a falta de vagas para o trabalho e para a escola. Sem qualificação, ocuparão sempre as piores ocupações, as mais baixas remunerações. Não disporão de serviço social que lhes dê encaminhamentos, pois a máquina estatal, chamada de draconiana, continuará a ser enxugada.
Alguém já pensou na origem dos milhares de cidadãos que perambulam pelas ruas das cidades em busca de esmolas ou pequenos bicos? Quem são os pais das crianças que vendem trecos nos sinais, nas mesas dos bares noturnos até que serem encaminhados aos abrigos, já fragilizados, violentados em sua inocência e decência de seres humanos? Quem são estes que engrossam as estatísticas do abandono e da solidão, com um custo humano altíssimo para eles e para seus cuidadores? Enquanto houver cuidadores, já que a voracidade do novo jeito de governar não hesitará em extinguir o que ainda resta de estrutura do estado.
De onde vêm estes, e porque enveredaram pela criminalidade, praticando geralmente pequenos delitos os usuários dos serviços penitenciários, já superlotados, e que em vez de ressocializar mais parecem com escolas do crime?
Onde estariam eles caso houvesse pleno emprego, verbas para educação, reforma agrária, política para fixação do homem do campo?
Quando lemos na grande imprensa o desabafo das pessoas “de bem”, apavoradas com os mendigos, com os criminosos, com a violência, com o atual estado das coisas, com os “vagabundos que não querem trabalhar” deveríamos nos lembrar dos milhões de trabalhadores expulsos do campo, desiludidos, desastistidos, adoecidos. Então, para dar jeito nas coisas, são necessários mais investimentos para segurança, mais presídios, mais albergues, mais vagas nos hospitais, são reivindicadas mais melhorias nas favelas, mais saneamento básico… e o estado, então, não consegue se modernizar. E outra vez a culpa será dos trabalhadores do setor público, que incham a folha de despesas do estado, apesar de todo o esforço do governo em modernizar a máquina. E será necessário então mais economia!
Mas para onde irá este dinheiro economizado com as demissões? Qual sua função social? Quem será beneficiado com esta economia?
Certamente o agronegócio, à silvicultura, os interesses de quem já tem muito e mais quer. É o desmonte do estado, com o apelido de “reforma”, “reestruturação” ou “adequação”. Ou seja, o novo jeito de governar.
Afinal, elegemos um governo estadual que claramente já fez sua opção de classe: governar para os poderosos. E danem-se os pequenos. Azar o da extensão rural e de seus colonos.
Para não chorar depois.
Regina Abrahão é da executiva da CUT RS