A aplicação da tática eleitoral mais ousada na realidade de Vitória e do Espírito Santo

Nas inúmeras batalhas eleitorais travadas em todo País desde que obteve sua legalidade em 1985 o PCdoB pôde experimentar distintas táticas. Por mais de 20 anos encaramos disputas para vereador, deputado estadual, federal, senador, prefeito e governador. C

Por Namy Chequer*


 


Um dos objetivos – e não o único – da tática eleitoral mais ousada que pretendemos exercitar como orientação mais geral nas eleições de 2008 é o de lançar mais brilho sobre a nossa personalidade original, por vezes ofuscada pelo PT. São muitas as razões que nos movem neste sentido, entre elas a de nos permitir desenvolver relações mais estreitas com outras forças do mesmo espectro político que nos distinga com mais eqüidade. O Bloco de Esquerda que estamos ajudando a erguer no Brasil é uma criação política genial contemplando esta intenção, embora esta idéia não tenha que se materializar necessariamente em toda parte já em 2008. Não pretendemos forçar a barra onde a realidade ainda não está dada.


 


Evidentemente, no Espírito Santo, também marchamos de forma pronunciada com o PT em muitos pleitos eleitorais. Porém, a conjuntura política local oportunizou aos comunistas capixabas uma variedade maior de opções para alianças e coligações, conforme demonstra um pequeno histórico do período:


 


1- Em 85 estivemos com o PMDB na conquista da prefeitura de Vitória; em 82 já havíamos apoiado a eleição do peemedebista Gerson Câmara para governador.


 


2- No ano seguinte, em 86, nós nos coligamos novamente com o PMDB para eleger Max Mauro governador, mas em 88 participamos da vitória do PT na capital, com Vitor Buaiz; no ano anterior, 87, o partido em Vila Velha apoiara, numa eleição extemporânea, o candidato do PT, Magno Pires. Talvez tenha sido aquela a primeira aliança eleitoral municipal do PCdoB com o PT em nível nacional, tendência que só se generalizaria pelo País em 88).


 


3- Na sucessão estadual de 90, nos coligamos com o PDT para a eleição de Albuíno Azeredo. Porém, na disputa municipal da capital em 92, ficamos com o candidato do PT, João Coser, estendendo depois a aliança para o plano estadual a fim de elegermos, em 94, Vitor Buaiz governador.


 


4- Vem 96 e nossa coligação na disputa pela prefeitura de Vitória volta a ser com o PMDB, tendo Rita Camata como candidata.


 


5- Em 98, nova eleição estadual, a nossa coligação é com Renato Casagrande, do PSB.


 


6- Chega a eleição municipal de Vitória em 2000 e a opção de coligação recai sobre a candidata petista, Iriny Lopes.


 


7- Em 2002 o PCdoB decidiu apoiar Paulo Hartung, então no PSB, ao governo do Estado, mas em 2004 voltamos a formar coligação com o PT para a eleição de João Coser para a prefeitura de Vitória.


 


8- E, finalmente, no último pleito, em 2006, demos nosso apoio à reeleição de Hartung, agora já no PMDB.


 


Os exemplos acima são apenas os que dizem respeito à disputa majoritária para o governo e prefeitura de Vitória. As modalidades de coligações proporcionais foram ainda mais diversificadas. Acrescente-se ainda a enorme multiplicidade de alianças e coligações firmadas nos diferentes municípios capixabas. Daí poder-se concluir que o partido, no Espírito Santo, possui amplas possibilidades de rematar a assimilação que se faz com o petismo, em que pese nosso continuado apoio às candidaturas de Lula a presidência da República e ao seu governo.


 


O lançamento de um candidato próprio à prefeitura de Vitória, hoje dirigida pelo PT e seu conhecido cacoete hegemonista, tem, portanto, um objetivo claro: caracterizar melhor nosso partido na capital e conseqüentemente no estado. Se em outras unidades da federação uma operação desta ordem pode encontrar maiores óbices, em razão de circunstâncias políticas peculiares, este não é o caso capixaba, felizmente. O povo capixaba é a maior testemunha da independência política do PCdoB e por isto não haverá de estranhar que nosso partido ressurja na batalha de 2008 com o entusiasmo próprio de quem pretende desafiar o jogo de cartas marcadas no qual foi transformada a política municipal.


 


O prefeito Coser se julga blindado pelo apalavrado apoio do governador, que dele recebeu apoio à reeleição no ano passado. Confiante, o prefeito deprecia as forças que também com ele estiveram na disputa de Vitória de 2004. Dá-se ao luxo de preparar o desembarque até do seu vice, do PSB, numa nova chapa para o ano que vem. Desdenha eventuais concorrentes, já que os mais competitivos vão sendo, um a um, suprimidos da disputa: Luis Paulo (PSDB), Lelo Coimbra (PMBD), ambos deputados federais, e César Colnago (PSDB), deputado estadual, não desejam contrariar o governador, medindo força com Coser, que passou a proclamar-se aberto para receber apoio peemedebista e tucano. As coisas andam de tal modo que dá para acreditar que de fato existe a propalada lista reunindo a totalidade dos atuais vereadores, os quais teriam reeleição bancada pelo prefeito. A exceção é o vereador Luciano Rezende (PPS), que insiste em manter sua candidatura a prefeitura, não obstante ter sido também chamado ao palácio (Anchieta, é claro), para uma conversa sobre sucessão municipal da capital.


 


A conseqüência disso tudo é o inegável constrangimento que o combinado Hartung/Coser causa no próprio círculo político do governador, onde por isto germina a expectativa por algo que balance o tabuleiro. A insatisfação está em toda parte, lamentavelmente fragmentada demais. Mas com astúcia é possível reunir forças. A disputa pela prefeitura é o tipo de batalha na qual o efetivo da tropa pode ser adensado no curso da luta. Dezenas de pré-candidatos a vereador articulam neste momento arranjos de filiações partidárias que os mantenham longe dos atuais detentores de mandatos. Os vereadores do prefeito podem acabar tendo que armar coligações entre eles próprios, atropelando-se e abrindo espaço para que novos sejam eleitos. Os comunistas estão chamados a colaborar no esforço para impedir a asfixia da política municipal. Sabem que as forças vivas da capital capixaba são imensamente mais numerosas do que o pequeno e seleto conjunto dos protegidos. Nossa cidade não tem donos. É a capital de um estado que, na era Hartung, passou a forjar sua unidade exatamente na crença de que os novos tempos incorporariam no cenário político forças sadias antes obstaculizadas por aqueles que privatizaram a política capixaba. Uma coisa é certa: protagonizar neste jogo é uma obra de tamanha grandeza que o PCdoB jamais poderá ser o mesmo ao final da jornada, independentemente do seu resultado.


 


*Namy Chequer é jornalista e Vice-presidente do PCdoB de Vitória, Capital do ES.