Rede Globo persegue Maradona
Por Billy Culleton*
O astro Diego Maradona foi execrado pela Rede Globo, incansavelmente durante 24 horas seguidas. Numa cobertura sem precedentes para uma única informação, no dia 4 de setembro a emissora passou a mesmíssima matéria nos seus cinco jor
Publicado 18/09/2007 17:20
Após a introdução ao assunto, era mostrado um vídeo dele numa festa, captado poucos dias antes. Os telejornais induziam o telespectador a pensar que El Pibe estava tendo um comportamento inadequado. Qual o crime? Estar em Bogotá, cantando “músicas românticas” – na verdade, o famoso tango Cuesta Abajo, de Carlos Gardel. Cada apresentador fazia caretas desabonadoras ao comportamento do argentino. A maioria das frases remontava aos seus antecedentes de envolvimento com drogas: “Ele não parava de rir. Parecia feliz e se esbaldou na música romântica.”
Cristiane Pelajo chegou a repetir que Maradona tinha sido “flagrado numa festinha particular, beeem animada”. O que a câmara de celular flagrou de tão proibido? Ele se divertindo e fazendo malabarismo com uma bola. A apresentadora emendou: “Aparentando não estar preocupado com o pedido de prisão, ele também mostrou seu conhecido talento para a festa cantando ao lado de uma dupla colombiana”.
Eu fiquei preocupado com o futuro de Maradona na prisão e fui ao site do maior jornal da Argentina (Clarin.com) para aprofundar o assunto. Absolutamente nada sobre o tema; menos ainda sobre a possibilidade de Maradona ir para a cadeia.
No arquivo de notícias, a partir da palavra “Maradona”, três referências recentes chamavam a atenção. Tinha sido lançado dois dias antes o livro Potreros, que significa 'campos de várzea', nos quais a criançada mais humilde dá seus primeiros passos no futebol. O livro tinha o apoio de Maradona, ele mesmo um dos que mais usou esses locais antes da fama. O prefácio era de sua autoria. A foto de capa, também dele, quando tinha 9 anos.
A outra notícia sobre El Diego, datada do final de agosto, também estava ligada à área cultural. Uma série de contos sobre Maradona estava sendo leiloada. A arrecadação seria integralmente destinada à manutenção de um museu.
A terceira notícia na busca de Clarín era relacionada à música. Era uma banda de música popular argentina, Tifosis del Rey, que é apadrinhada por Maradona desde 1997. Eles são pouco conhecidos na Argentina, mas o pequeno sucesso obtido até hoje é graças a El Pibe.
Esse tipo de notícia 'boa' sobre o ex-craque parece não interessar à Globo, que cultiva incessantemente a rivalidade com a Argentina. Parece que o futebol é a referência para rejeitar os vizinhos. Não se tenta aqui dizer que Maradona é um exemplo para nossos filhos. Apenas que não merece ser perseguido e injuriado por estar se divertindo em público. Muito menos se deve distorcer informações para promover um suposto furo de reportagem do correspondente da Globo em Buenos Aires.
Ah, e a tal ordem de prisão contra Maradona? Desistindo do Clarín, fui para o arquivo virtual do segundo maior jornal da Argentina, La Nación. Neste, sim, havia uma nota fazendo referência ao assunto. Um promotor disse que Maradona deveria ir depor na Justiça argentina e que faria cumprir a decisão 'nem que fosse à força'. Tudo por causa de um leve acidente de trânsito envolvendo o argentino, que não teria prestado socorro. A matéria do jornal argentino termina dizendo que não havia nenhuma possibilidade de Maradona ir à prisão.
Recapitulando: apesar de a Rede Globo ter insistido em todos os seus telejornais que Maradona seria preso “assim que voltasse para a Argentina”, não há qualquer perspectiva dele ir para a cadeia.
Então, existe perseguição de parte da imprensa brasileira contra Maradona ou estou ficando paranóico na defesa do meu ídolo?
* Billy Culleton é jornalista e professor universitário
Fonte: Fenaj