A praça, a estação e os ferroviários

Ferroviários aposentados ajudam a contar a história da Estação João Felipe e a praça Castro Carreira, no Centro. Locais importantes para o desenvolvimento e história da Capital, a Estação e a praça estão separadas pela rua Doutor João Moreira.

Ao lado da Estação Ferroviária João Felipe, no Centro da Cidade, o ferroviário aposentado Luís Ribeiro Martins, 64, observa o movimento da praça Castro Carreira, mais conhecida como praça da Estação. A praça e a Estação fazem parte da história dele. Foram muitos anos trabalhando como ferroviário e, por isso, freqüentando a área. Embora, para muitos, a praça seja hoje apenas um ponto de passagem e a quantidade de viagens de trem seja bem menor, Seu Luís é testemunha de que, em outros tempos, isso foi diferente. Ele teve a oportunidade de acompanhar vários dos benefícios que as linhas de trem trouxeram para a Capital. As lembranças – dele e de outros ex-ferroviários – reconstroem a história do espaço.


 


 


''Vim morar aqui em 1966, essa praça era uma feira livre. Era movimentada. Aos domingos, intensificava mais'', recorda. O amigo, o também aposentado Clodoaldo Correia, 76, lembra que a feira funcionava em meio a um areal tremendo. Depois, passou a ser um parque de diversões. ''Se chamava a festa da mocidade. Tinha muitas barracas, os circos se instalavam aqui'', lembra, acrescentando que era o local ideal para os casais de namorados. Segundo Seu Clodoaldo, o lugar demarcava as desigualdades sociais, pois no centro da praça circulavam as pessoas de melhor condição financeira.


 


 


Bonde


 



Para ele, deixam saudade também dos passeios de bonde que havia por ali e de outros pontos nas proximidades, bastante freqüentados à época, como a Praça do Passeio público e o Cine Luz. ''O bom gostoso aqui na praça ficava lá do lado do Shopping Acaiaca, onde existia o famoso cinema Cine Luz, tradicional, por exibir os seriados sem fim, com 10 e 15 capítulos e os filmes de caubói. Eu gosto das lembranças'', ri.


 


 


A história do espaço também é marcada pela chegada e saída de mercadorias do Interior e de outras cidades, por meio dos trens da Estação Central. ''Aqui tinha armazéns, caminhões de cargas. A mercadoria naquela época vinha toda de trem. 90% do transporte das pessoas também era o trem. Era muito animado'', lembra Clodoaldo. Seu Luís complementa: ''A Estação foi preponderante para o desenvolvimento do Estado''. Mas, com a redução no transporte de cargas e de pessoas, o movimento da Estação foi se reduzindo. ''Foi um crime extinguir as linhas de longo percurso'', lamenta Seu Luís.


 


 


Em 1991, é reinaugurada a praça Castro Carreira assim como é hoje, um terminal de ônibus. ''Foi bom, porque interligou os dois terminais. O passageiro chegava de trem e o ônibus estava na porta'', diz Seu Luís. Já o aposentado Edson Dantas, 62, ressalta que, por estar localizada em frente à Estação João Felipe, a praça deixou de ser conhecida pelo nome original, Castro Carreira. ''Muitos não sabem (o verdadeiro nome). É Praça da Estação e acabou-se'', brinca.


 


 


Separando a Estação e a praça Castro Carreira, a rua Doutor João Moreira forma um corredor histórico, com vários outros pontos significativos para a Capital, como a Praça do Passeio Público. Na mesma rua está também o antigo prédio do Museu da Indústria, na altura do número 143, que, neste ano, de 10 de outubro a 11 de novembro, sediará a Casa Cor Ceará. Essa é a primeira vez que a mostra de decoração é realizada no centro histórico de Fortaleza.


 


De segunda a sexta-feira vários ex-ferroviários reúnem-se na Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará, situada ao lado da Estação João Felipe, fundada há 22 anos. ''Nós ainda estamos aqui porque amamos o trem. Até hoje digo para os meus filhos que foi o trem que criou eles. Se pudesse começar de novo, seria ferroviário de novo'', disse Luís Ribeiro Martins.


– Castro Carreira, que dá nome à conhecida Praça da Estação, nasceu em Aracati em 1820 e faleceu no Rio de Janeiro em 1903; Foi médico, senador, financista. Destacou-se no cenário político nacional pela inteligência e cultura. Como médico, esteve trabalhando em várias localidades do Interior, combatendo surtos de febre amarela e varíola. Essas informações foram coletadas do livro Praças De Fortaleza, de Maria Noélia Rodrigues da Cunha.


 


 


Fonte: O Povo