Democracia e poder na mídia

Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação, James Gorgën critica a concentração da mídia e diz que a hegemonia das grandes redes fragiliza a comunicação regional.

As três principais redes de televisão do Brasil possuem afiliadas distribuídas por todo o território nacional, e acabam estendendo sua influência às outras mídias. Em meio a uma guerra pela audiência, Globo, Record e SBT controlam ou têm influência sobre a maioria dos veículos de informações em todos os estados brasileiros.


 


 


Para o jornalista gaúcho James Gorgën, coordenador de projetos do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), esta concentração do poder da informação na mãos de poucos, não é salutar. “Quanto mais veículos de informação, mais pessoas terão acesso e mais pontos de vista serão colocados em debate. Quando isso não acontece, existe a grande possibilidade de manipulação”, explica. Segundo Gorgën, falta a aplicação de uma visão pública sobre os meios de comunicação. Ele foi o convidado, na última quinta-feira, do Fórum Permanente de Impressa e Democracia.


 


 


“O País vive com um sistema privado de comunicação muito grande, hipertrofiado, e, por outro lado, um sistema público muito frágil. Isso gera uma situação um pouco perversa, pois os sistemas privados privilegiam os interesses privados e não o interesse público. E a discussão da democratização é justamente essa: como fazer incidir sobre esses meios privados uma ótica sobre os interesses públicos”, ressalta.


 


 


A pouca quantidade de veículos de informação regionais também é vista com preocupação. No Ceará, ressalta Gorgën, existem três grupos fortes: Jangadeiro, Cidade e Verdes Mares, vinculados a SBT, Record e Globo, respectivamente. “O POVO corre por fora por ter uma formação independente, o que é interessante, uma vez que no Brasil existem poucos grupos como esse, que preserva uma identidade local”, explica. “Na maioria dos estados não há investimento em programação local, apenas repassando a programação nacional das grandes emissoras”, conta.


 


 


Mas o jornalista ressalta que, no Ceará, existe uma estrutura de retransmissão para o Interior que acaba sendo financiada pelo poder público. “As redes privadas são suportadas pelas retransmissoras que as prefeituras e a Funtelc (Fundação de Teleducação do Ceará), que é ligada à TV Ceará, mantêm. Isso é irônico, pois os contribuintes pagam para levar a programação da rede privada, que ganha dinheiro com isso”.


 


 


Um dos mecanismos para buscar maior democratização da mídia, seria uma política pública de financiamento conforme parâmetros técnicos. “Todos os meios de comunicação, sem distinção, receberiam publicidade estatal e não mais teríamos vínculos políticos para anúncios”, comenta Gorgëm.


 


 


 


Fonte: O Povo