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Passado, presente e futuro marcam ato dos 60 anos da Ubes

A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) comemora seus 60 anos no próximo ano, mas o primeiro ato oficial de homenagem ao aniversário da entidade aconteceu neste sábado (8), em Goiânia, no ginásio Campinas, pouco antes do início da plenár

A importância da participação dos estudantes na construção de um projeto de Unidade Popular no Brasil foi apontada por Antonio Carlos Spis, dirigente da CUT e da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Ele disse que é hora do movimento estudantil juntar-se aos outros movimentos ligados à terra, ao trabalho, às questões de gênero e racismo em um grande projeto de desenvolvimento social brasileiro.


 


O secretário de juventude da CUT, Adriano Soares, também bateu na tecla da unificação, pedindo aproximação dos estudantes com a luta dos trabalhadores, nas centrais sindicais e em outros espaços.


 


Já o reitor da UFG e representante da Asssociação Nacional dos Docentes(Andifes), Edward Brasil, saudou os congressistas e disse que o movimento estudantil tem o compromisso de resgatar a bandeira histórica pela derruba do veto ao Plano Nacional de Educação que garantia os 7% do PIB para a educação.


 


Renan Alencar, do secretariado executivo da Organização Latino Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), trouxe a mensagem de saudações da entidade a todos os presentes e disse que a Ubes, com os seus 60 anos de luta, joga papel fundamental na coordenação das lutas dos estudantes secundaristas da América Latina.


 


Prestígio


 


A presidente da UNE, entidade irmã da Ubes, destacou a vivacidade dos estudantes secundaristas nas principais lutas em defesa do povo brasileiro ao longo destes 60 anos. Disse que sem a Ubes a UNE não teria conquistado tanto prestígio e reconhecimento como tem nos dias atuais.


 


O presidente da Ubes, Thiago Franco, lembrou a trajetória de lutas da entidade para construção de um país mais justo e soberano e deu início às atividades da plenária final dizendo que o caminho ainda é difícil e longo.


 


''A Ubes irá com certeza viver mais 60, 80, 200 anos até construirmos esse outro mundo que queremos'', afirmou.


 


Na tarde deste domingo (9) serão aprovadas as propostas da entidade para os próximos dois anos e eleito o novo presidente da entidade. O candidato do movimento ''Todo mundo pra rua aumentar o som'', Ismael Cardoso, atual tesoureiro da entidade, deverá ser eleito com a maioria dos votos dos estuntes presentes no Congresso. O movimento é liderado pela União da Juventude Socialista (UJS) e tem apoio de outras organizações de juventude, como também de estudantes independentes. 


 


60 ano de história


 


Desde as décadas de 30 e 40, os estudantes secundaristas já se organizavam em diversas regiões para debater e transformar a educação no Brasil. A maioria desses grupos surgia dentro das escolas, nos grêmios dos antigos colégios estaduais, os chamados Liceus. Nessa época, o contingente de estudantes crescia muito e sua participação na vida política do país era cada vez mais urgente. Era preciso que o movimento se organizasse em uma só entidade, para fortalecer a representação e a luta estudantil.


 


Os secundaristas conseguiram com muito esforço realizar o seu primeiro congresso nacional em 1948, no Rio de Janeiro. A Ubes foi criada no dia 25 de julho, mesma data em que foi oficializada a colaboração entre UNE e a Ubes. Nos seus primeiros anos de existência, ainda em fase de estruturação, a entidade enfrentou o conturbado período do fim da era Vargas. Após o suicídio do ex-presidente, em 1954, a ameaça de golpe rondava o país e os secundaristas juntaram forças para lutar pela democracia e pela realização das eleições.


 


A Ubes cresceu e expandiu suas bandeiras, os estudantes se mobilizavam por mais bolsas de ensino, material didático e melhores condições para os alunos carentes. No início da década de 60, durante os governos Jânio Quadros e João Goulart, os estudantes passaram a integrar a Frente de Mobilização Popular, que envolvia outros importantes movimentos sociais brasileiros da época.


 


O Golpe Militar


 


Mas a Ubes recebeu um duro golpe com a chegada dos militares ao poder. Logo que a ditadura se instalou, em 1964, a sede da Ubes e da UNE, que funcionavam no mesmo prédio, na praia do Flamengo, foi atacada e incendiada. As lideranças estudantis foram perseguidas e presas. Muitos militantes fugiram ou foram exilados, mas, mesmo assim, a Ubes se organizou como pôde. O movimento continuou dentro das escolas, com os grêmios, e através de diversas passeatas e manifestações. Houve muita luta contra o acordo MEC e a USAID, instituição norte-americana que iria buscava intervir diretamente na educação brasileira.


 


A situação se tornou mais complicada com o Ato Institucional 5, em 1968. Todas as atividades estudantis foram postas na ilegalidade, a repressão era intensa e violenta. Um episódio então marcou a história da Ubes e do país no dia 28 de março de 1968. Uma manifestação no Rio de Janeiro contra o fim de um restaurante popular resultou no assassinato do estudante secundarista Edson Luís Lima Souto, de 16 anos. Edson tornou-se o símbolo da resistência não só para os estudantes, mas para todos os que lutaram e sonharam com o fim da ditadura e a recuperação da liberdade.


 


O cortejo de seu enterro, com saída da Cinelândia, onde foi velado, até o cemitério São João Batista, reuniu milhares de pessoas, comparável somente ao de Getúlio Vargas. Nas palavras de Arthur Poerner, no livro O Poder Jovem, temos um relato impressionante ao dizer que “coberto pela bandeira nacional, o caixão desceu as escadarias da Assembléia sob os acenos de milhares lenços brancos. O povo entoava o Hino Nacional. Do alto dos edifícios caíam pétalas de flores e papéis picados, a multidão gritava “desce”, “desce!” para os que, nas janelas, se limitavam a içar bandeiras negras. Muitos desciam e se integravam ao acompanhamento. Mas os gritos mais ouvidos – igualmente inscritos em centenas de faixas – eram “Poderia ser seu filho!”, “Fora assassinos!”, “Brasil, seus filhos morrem por você!”.(sic)


 


Reconstrução e Fora Collor


 


A repressão continuou e a Ubes precisou se manter em pequenos congressos secretos com menos participantes, mas que mesmo mantiveram a unidade e a chama do movimento estudantil acessa. A reconstrução veio aos poucos, a partir de 1977. Algumas entidades secundaristas conseguiram fortalecer a sua atuação nos chamados centros cívicos de algumas cidades e começaram a reaparecer alguns grêmios e um movimento nacional pelo renascimento da Ubes. A consolidação aconteceu com muito esforço em 1981, em Curitiba. Um antigo galpão, sem teto, banheiros, salas e cadeiras, serviu de base pra as discussões. No local, apenas muita poeira. Muitos estudantes foram para o sul do país sem dinheiro para voltar. Pedágios foram armados para levantar recursos. A polícia chegou a invadir o Congresso com a cavalaria. Mesmo com tantas dificuldades, a Ubes renasceu.


 


Em 1984, a Ubes participou ativamente da campanha Diretas Já e apoiou a eleição de Tancredo Neves. O então presidente da entidade Apolinário Rebelo foi o primeiro a discursar no famoso Comício da Candelária que reuniu um milhão de pessoas. Os estudantes pintaram o rosto de verde e amarelo e foram para as ruas exigir a democracia de volta no país.


 


Pouco tempo depois, durante o governo do presidente Fernando Collor, os secundaristas de caras pintadas seriam novamente protagonistas de um episódio marcante na vida do país. Em 1992, ainda em fase de reestruturação, a Ubes foi uma das protagonistas do movimento que ficou conhecido como o “Fora Collor”, com participação de vários seguimentos da sociedade. Os secundaristas eram maioria nas manifestações que pipocavam por todo país exigindo o impeachment do presidente corrupto.


 


Era FHC


 


O forte posicionamento dos secundaristas foi marca registrada durante o governo FHC, quando os estudantes defenderam a manutenção do ensino público de qualidade, o passe livre nos transportes e o fim da política neoliberal na educação. Desde o início do governo Lula, a Ubes apoiou as reformas importantes para o país, defendendo, entretanto, mudanças na política econômica e mais recursos para a educação e a cultura.


 


Após quase 60 anos de história, a Ubes está enraizada na sociedade brasileira e presente nas principais discussões em curso no país. As lutas dos secundaristas de hoje são pelo Passe Estudantil (Meio Passe ou Passe Livre) no transporte público municipal e intermunicipal para os estudantes, o combate à evasão escolar e pela obrigatoriedade do ensino da Sociologia e Filosofia no Ensino Médio. A Ubes também defende a reserva de vagas para estudantes da rede pública nas universidades e a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o Fundeb. A instituição participa do Conselho Nacional de Juventude e da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), ao lado da UNE, MST, CUT movimentos de moradia, pastorais e diversos sindicatos. Sempre a favor da juventude e da cultura, os secundaristas continuam rebeldes, com causa e personalidade para transformar o Brasil.


 


Presidentes que já passaram pela entidade:


 


1948 – Luís Bezerra de Oliveira Lima
1949 – Carlos César Castelar Pinto
1950 – Lúcio Abreu
1951 – Tibério César Gadelha
1952 – Édson Fontoura
1953 – Dinéas Aguiar
1955 – Nissin Costiel
1956 – Helga Hoffman
1957 – José Luís Clerot
1958 – Celso Saleh
1959 – Raimundo Nonato Cruz
1960 – Jarbas Santana
1961 – Alcino Pinheiro do Rego
1962 – Políbio Braga
1964 – Olímpio Mendes
1965 – Não há informações
1966 – Não há informações
1967 – Tibério Canuto
1968 – Marcos Melo
1969 a 1980 – Ubes extinta pelo regime militar
1981 – Sérgio Amadeu da Silveira
1982 – Não houve congresso
1983 – Apolinário Rebelo
1984 – Delcimar Pires
1985 – Selma de Oliveira
1986 – Rovilson Brito
1987 – Altair Lebre
1988 – Manoel Rangel
1990 – Não houve congresso
1991 – Leila Márcia Santos
1992 – Mauro Panzera e Antonio Parente (Totó)
1993 – Joel Benin
1995 – Kerison Lopes
1997 – Juana Nunes
1999 – Carla Santos
2002 – Igor Bruno Freitas
2004 – Marcelo Gavião
2005 – Thiago Franco


 


Da redação, com informações do EstudanteNet