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Luis Nassif: “Aumentar juros, para quê?”

Há um enfoque incorreto se generalizando, sobre as maneiras do país enfrentar o terremoto externo. Todo o coro do Mercado está sendo vocalizado para aumento da taxa Selic e do ajuste fiscal.


 


Por Luis Nassif*

A lógica está incorreta. O moto da crise internacional é o seguinte:



1. Uma super-liquidez mundial, que levou a uma bolha global de endividamento.



2. Estouro do mercado de “subprime”, provocando a desaceleração da economia americana



3. Como conseqüência, redução do ritmo de crescimento da China.



4. Queda nos preços das commodities importadas pelos chineses (aço, celulose, minério de ferro), assim como dos preços dos alimentos, ampliando o desaquecimento da economia mundial.



Agora, vamos trocar em miúdo a lógica da política monetária do Banco Central.



1. Para manter a inflação dentro da meta, o BC mantém juros elevados, em proporção muito maior do que os juros internacionais.



2. Esse diferencial atrai dólares do exterior. Somados aos dólares que entram pela balança comercial, há uma apreciação do real, que tira a competitividade das exportações. O que sustenta a balança comercial é o boom das commodities.



3. A apreciação do real torna-se a peça central do combate à inflação.



Onde está o furo dessa estratégia? É que há limites para a apreciação do real. A cada apreciação fiscais difícil exportar, mais fácil importar e os saldos comerciais vão se reduzindo até entrar no vermelho. Quando estiver próximo da sinuca, os investidores sairão em desabalada carreira, provocando uma explosão do câmbio.



Como enfrentar a crise? O ponto essencial é que a crise internacional é favorável ao combate à inflação, e poderá ser fatal para o equilíbrio das contas externas.



No caso da inflação, porque provocará redução nos preços das principais commodities agrícolas e minerais, e aumentará os excedentes de exportação que serão direcionados para o mercado interno.



No caso das contas externas, o risco é grave porque, alem da apreciação cambial tirando a competitividade das exportações, o desaquecimento da economia mundial reduzirá ainda mais as exportações – e provocará uma briga de foice entre todos os paises, para preservar sua fatia no comercio mundial.



Este é o nó. Ontem, as quedas enormes nas bolsas internacionais foram puxadas pelas mineradoras. Isto porque o mercado começa a apostar que o desaquecimento da economia mundial derrubará o preço das commodities.



Ora, foram esses preços, recordes, que garantiram a tranqüilidade nas contas externas brasileiras, quando a valorização do real arrebentou com o crescimento das exportações de manufaturados.



Hoje em dia, com as commodities ainda ostentando preços recordistas, o quadro externo brasileiro é enrolado. Nas três primeiras semanas do ano, o saldo foi de US$ 396 milhões, contra US$ 1,655 bi no ano passado



O que acontecerá quando despencarem preço e quantidade de commodities? Para onde irão as contas externas brasileiras? E se houver explosão do câmbio, para onde irá a inflação?



Por tudo isso, pergunto: qual a lógica de propor aumento de juros ao COPOM (Comitê de Política Monetária)? Para valorizar mais ainda o real e ampliar ainda mais o rombo nas contas externas?



Fonte: Blog do Nassif