Para além da ''sobra do emprego…''

*Marinaldo Clementino Braga


Os últimos dias de 2007 revelaram indicadores favoráveis da economia brasileira tanto do lado dos investimentos como do lado do consumo e da renda dos trabalhadores. O crescimento acima de 5% do PIB e a possibilidade

As análises feitas pela imprensa, estudiosos e até mesmo pessoas críticas ao governo, coincidem com o argumento de crescimento sustentado do consumo (pesquisa da FGV aponta para o aumento da confiança do consumidor), do aumento do rendimento real domiciliar per capita (IBGE revela em suas pesquisas que em 2007 este crescimento deverá ultrapassar 4,5%), da queda das taxas de desemprego (em nov/2007, a referida taxa, atingiu 8,2%, a menor da série histórica e com perspectiva de cair para 7,6%, em dez/2007).


 


 


A novidade é que depois de duas décadas perdidas, o Brasil vive um momento econômico relevante, com políticas consolidadas em se tratando do controle da inflação, manutenção da taxa de juros, prevista para a casa dos 10%, expansão do PIB crescendo 5% (acima da inflação) e, principalmente o crescimento do consumo dos brasileiros que já é superior ao dos chineses.


 


 


Mesmo com a derrota do governo na CPMF, fica evidente algo que está sendo colocado por toda imprensa: o quadro de recuperação da economia brasileira ultrapassa a fase da ''construção interrompida'' e do stop and go que vai dos meados da década de 80 até os primeiros anos do século XXI. Esta performance dos indicadores econômicos e sociais levantados pelo Banco Mundial coloca o Brasil ao lado de países como o Reino Unido, França, Itália em se tratando da paridade e poder de compra da economia, assim como a queda do risco país em que o investimento passa a ter um peso mais expressivo do que a especulação.


 


 


Neste contexto virtuoso da economia brasileira o mais relevante é o que vem sendo divulgado por outras instituições, ou seja; o poder de compra dos mais pobres tem aumentado de forma significativa. Segundo estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de 2001 a 2006, os 20% mais pobres têm um aumento real de aproximadamente 30%, enquanto a média de rendimento sobe 3,75%. Mas a recuperação entre 2004 e 2006 foi mais expressiva, principalmente nos rendimentos dos mais pobres, que cresceram cerca de 10% real ao ano. Esses dados não revelam apenas o efeito positivo de uma inflação cadente, mas também o aumento real do salário mínimo e as transferências de rendas através das políticas públicas.


 


 


Nos programas focalizados de transferências de renda, não se deve discutir a necessidade desse tipo de política, mas, sim, o grau de solidariedade desejável para a sociedade brasileira. Na conclusão de um trabalho feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) seus técnicos reafirmam a necessidade destas políticas e colocam ''que em todos os países que conseguiram erradicar a pobreza absoluta e reduzir expressivamente seus níveis de desigualdade possuem políticas de transferências de renda. Isso ocorre porque, mesmo em economias de renda alta, há uma parte da população que não consegue por razões diversas, ter sua subsistência assegurada pelo trabalho. Admitir essa realidade, adotando políticas que respondam a ela significa dar um passo adiante na construção de uma sociedade mais justa''.


 


 


Todas as transformações que estão ocorrendo na economia brasileira desembocam em um campo fértil, que é o dinamismo do mercado de trabalho, através do seu fortalecimento, redundando na ampliação do número de postos de trabalho criados no setor formal nos últimos quatro anos e que em 2007 vai ultrapassar os dois milhões de empregos. Ao anunciar a ''sobra de emprego'' nos meios de comunicação, com a queda da procura por trabalho nos postos de atendimento do Sine/IDT, prepondera em algumas regiões como o nordeste, ocupações ligadas ao turismo, segurança pública e o sul ocupações na área de engenharia, programação, técnicos de enfermagem, talvez estejamos caminhando para uma trajetória ocupacional sustentada, do emprego formal em todas as regiões do Brasil.(a maioria dos trabalhadores contratados nos últimos meses estão na formalidade e tem até doze anos de estudo).


 


 


Esta se constitui mais uma porta de saída para segmentos expressivos da população que estiveram fora do mundo do trabalho, cuja inserção contribui para facilitar a saída de pessoas do Programa Bolsa Família, que ao receber as transferências de renda, estão condicionadas a contrapartidas comportamentais nas áreas de educação e saúde.


 


 


Quando os dados mostram o crescimento do emprego neste período do ano, a leitura dos seus resultados, apontam em direção não somente a ampliação do emprego temporário, mas também do emprego formal. Neste quadro de recuperação sustentada do emprego, deve-se levar em conta a idéia dos pesquisadores do IPEA, no Comunicado da Presidência sobre a ''Demanda e perfil dos trabalhadores formais no Brasil em 2007''. Existe um déficit estimado de mão-de-obra qualificada e com experiência profissional no Brasil em 2007, que deve ultrapassar 123,3 mil vagas formais abertas nos setores da indústria de transformação, de extrativismo e do comércio e reparação de produtos. Dos subsetores não industriais, os serviços de apoio à atividade industrial devem registrar a falta de quase 11 mil trabalhadores, assim como os serviços de comunicação e telecomunicação esperam-se um déficit de mais de 2.500 trabalhadores qualificados e com experiência profissional.


 


 


Portanto aos empregos que sobram resta uma política de qualificação profissional capaz de atender ao dinamismo de uma economia em transformação, de acordo com as demandas da nova revolução tecnológica. Daí a importância de uma mudança radical no processo de formação, o que colocaria o país em posição de vanguarda na preparação de pessoas capazes de pensar um projeto de desenvolvimento de longo prazo.


 


 


Marinaldo Clementino Braga – Economista do IDT e Assessor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Fortaleza.