Árabes e até israelenses boicotam Salão de Paris pró-Israel
O Salão do Livro de Paris – um dos maiores eventos literários da Europa – foi inaugurado nesta sexta-feira (14) para o público sem a participação de diversos países e editores árabes, que protestam contra a escolha de Israel como convidado de honra. O boi
Publicado 14/03/2008 17:52
“Todo escritor israelense deveria, no fundo de sua consciência, boicotar o Salão do Livro de Paris”, declarou Ziffer, segundo a edição desta sexta do jornal Folha de S.Paulo. Escritores como Ilan Pappé – que vive na Inglaterra – e Aaron Shabtai se uniram às vozes dissonantes do país e não participarão.
Em 2008, a criação do Estado hebreu completa 60 anos. A seleção de Israel como convidado de honra no salão é vista, por parte do mundo árabe, como um apoio velado à política racista do premiê Ehud Olmert, principalmente às incursões israelenses em territórios palestinos.
Nas últimas semanas, as manifestações de protesto não pararam de aumentar, mesmo entre intelectuais israelenses. Entre os países que se pronunciaram oficialmente, o Líbano, pedra angular da francofonia no mundo árabe, foi o primeiro a afirmar que não participaria do encontro – iniciativa seguida por Arábia Saudita, Iêmen e Irã. Editores de outros países, como Argélia, Marrocos e Tunísia, também cancelaram a presença.
A Isesco (Organização Islâmica para Educação, Ciências e Cultura) foi uma das primeiras entidades a se manifestar, pedindo publicamente aos seus 50 países membros que boicotassem o evento. A União dos Escritores Palestinos e a União dos Escritores Árabes, com sede no Egito, também pediram às editoras que suspendessem os estandes no salão, que segue até a próxima quarta-feira.
Por que o hebraico?
Para o escritor Abdallah Naaman, os autores oficialmente convidados para representar a literatura israelense não representam o conjunto da população. “Como explicar o fato de que todos os convidados escrevam em hebraico, quando sabemos que o árabe é muito presente no país, sem falar nos escritores que se exprimem em outros idiomas, como francês, russo e o inglês?”, questiona Naaman.
“A escolha do hebraico como única língua prova que uma parte importante da população é rejeitada”, afirma o escritor – que também é conselheiro cultural da Embaixada do Líbano em Paris.
Os organizadores se dizem surpresos com o boicote. “Não é Israel que é convidado, mas, sim, a literatura israelense”, diz o presidente do salão, Serges Eyrolles, que lamenta o que chama de “politização” do debate.
Eyrolles insiste sobre a casualidade entre a participação de Israel e o aniversário de sua criação como Estado. “Tudo isso é uma grande coincidência. Eu mesmo só soube que neste ano se celebrava a criação de Israel em dezembro do ano passado”, afirmou à imprensa.
Mas o argumento não convence todos. Eric Hazan, um dos donos da La Fabrique (pequena editora francesa que publica obras traduzidas do hebraico e do árabe), dispara contra a hipocrisia.
“O chamado campo da paz, formado por escritores como Amos Oz e Yehoshua e Grossman, é uma falácia”, sustenta Hazan. “Eles não deram uma só palavra sobre os ataques recentes na Faixa de Gaza, que são uma forma de legitimação moral e cultural da política de Israel.”
Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo