Embaixador denuncia: invasão colombiana matou equatorianos
O embaixador equatoriano em Bogotá, Francisco Suescum, acusou neste sábado as autoridades militares da Colômbia de matar compartiotas seus, na incursão do dia 1º que eliminou o dirigente das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Raúl Rey
Publicado 21/03/2008 17:35
“Cidadãos equatorianos foram – aqui cabe, sim, o termo – sequestrados e assassinados pelas forças militares ou paramilitares do lado da Colômbia, e depois devolvidos ou disfarçados como se fossem guerrilheiros, nevando a acreditar em algo completamente contráriuo à realidade”, acusou Suescum.
O pai de Aisalia acusa
Das 25 pessoas mortas pelo bombardeio colombiano enquanto dormiam, na madrugada do dia 1º, pelo menos um era equatoriano: Franklin Aisalia Molina, cujo cadáver foi transportado a Bogotá e apresentado ali como sendo do guerrilheiro Juan Conrado. Familiares de Molina, que sustentam a afirmação, reconheceram-no em uma foto, ao lado de Reyes, e viajarão à Colômbia para exigir uma identificação.
Aslaia era mecânico, tinha 38 anos e morava em Quito. Estava desaparecido desde 21 de fevereiro, uma semana antes da operação militar colombiana. Seu pai, Guillermo Aisalia, declarou à rádio que “não resta praticamente nenhuma dúvida” quanto à identificação. “Em nenhuma parte do mundo pode haver dois físicos iguais”, argumentou.
Uma história mal contada
As investigações equatorianas vão levantando também outras suspeitas sobre a versão da Colômbia para a desastrada “Operação Fênix”. As autoridades colombianas sustentaram que se tratou de um ato “de legítima defesa” e o bombardeio foi efetuado por aviões Super Tucano (fabricados pela brasileira Embraer). A Força Aérea equatoriana afirma que não.
Uma investigação da Força Aérea equatoriana, publicada nesta sexta-feira (21) pelo diário El Comercio, de Quito, afirma que as bombas americanas usadas no ataque não poderiam ser disparadas de um Super Tucano.
Duas toneladas de bombas
Em 6 de março, especialistas em armas da Força Aérea equatoriana iniciaram uma perícia sobre o bombardeio em Angostura, onde estava o acampamento das Farc e onde morreu o porta-voz internacional da organização, Raúl Reyes. De acordo com o relatório dos peritos, foram utilizadas dez bombas GBU 12 Paveway 2 de 227 quilos, que deixaram crateras de 2,40 metros de diâmetro por 1,80 metro de profundidade.
O jornal ainda afirmou que, segundo as especificações do fabricante da bomba GBU 12, a Texas Instruments, esta pode ser guiada por laser, GPS ou tecnologia intersensorial. A GBU 12 foi usada pelas tropas dos Estados Unidos durante a invasão do Iraque, há cinco anos. Ocorre que um guia de identificação de armas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico do Norte) diz que as bombas GBU 12 podem ser transportadas apenas por aviões A7, A10, B52, F111, F117, F15, F16, F/A 18 C/D, F14 e A6, diz El Comercio.
O Ministério da Defesa colombiano afirmou que o ataque em Angostura, usou aviões Super Tucano. No entanto, segundo a Otan, estes aparelhos não estão incluídos entre os que podem levar bombas GBU 12.
O relatório da Força Aérea equatoriana diz também que foram encontradas cápsulas de projéteis no setor sul do acampamento, disparadas por metralhadoras de helicópteros que fizeram a segurança dos soldados que realizaram a infiltração, depois do bombardeio, para buscar os cadáveres.
Avião americano em missão não conhecida
A Força Aérea equatoriana tafirmou que continuará investigando para determinar que tipo de aeronave foi utilizado no ataque. Segundo dados da Inteligência Naval, um avião norte-americano HC-130 saiu da base de Manta, às 19h local de 29 de fevereiro e retornou às 16h30 do dia seguinte, publicou El Comercio.
“Lamentavelmente não se conhece o rumo tomado por essa aeronave dos EUA”, observa o jornal equatoriano.
Situada no litoral do Equador, a base foi cedida ao Pentágono em 1999. Ao tomar posse, o atual presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou que não renovará em 2009 o contrato que cede Manta aos EUA.
El Comercio tentou ouvir a Força Aérea Colombiana (FAC), mas o seu departamento de imprensa respondeu que não era possível dar nenhum detalhe sobre o armamento usado em 1º de março, a não ser que o Equador os solicite por vias oficiais. No entanto, este caminho está obstruído, já que a crise entre os dois países levou ao rompimento do convênio de colaboração entre as duas forças armadas.
Da redação, com El Comercio