Avellar: Globo continua a enxergar comunista embaixo da cama
É incrível como, em pleno século 21, ainda funciona a mentalidade de certos dirigentes de empresas jornalísticas, formadores de opinião, em relação aos menos favorecidos. A qualquer suspeita de desvios ou irregularidades desses, surgem logo as poderosa
Publicado 07/04/2008 17:47
Agora, quando os suspeitos são os contumazes caloteiros e os grandes ladroes dos cofres públicos, têm tratamento de primeira classe e, até que se prove o contrário, são considerados cidadãos acima de quaisquer suspeitas.
Baseado no parecer do TCU, o editorial “Cai a máscara”, da edição do Globo de 29 de março, destila ódio e veneno contra o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Segundo o Tribunal de Contas da União, houve indícios de desvios por parte do MST, no convênio assinado com o Ministério de Educação, no valor de R$ 4,4 milhoes, para o programa de alfabetização de jovens e adultos daquela instituição.
A cegueira do editorial em atacar tão-somente o MST é tanta que ele se omitiu de comentar, por questão ideológica, é claro, que a valorosa tarefa de educar cabe quase que exclusivamente ao Estado – portanto, ele é o maior responsável de assinar esses convênios com organismos que não são do ramo.
O mesmo editorial ainda cometeu outras aleivosias e distraçoes: tacha de golpe, no sentido de estelionato, as irregularidades apontadas pelo TCU contra o MST; e, em outro momento de cólera e cochilada, afirma que ONGs, “fundaçoes” (as aspas são minhas), ou similares são também beneficiárias de convênios ditos sociais. Ora, é o que dá quando se quer ser mais realista que o rei: acaba-se por tropeçar nos próprios calcanhares.
Esqueceu o editorial que as Organizaçoes Globo têm uma Fundação, que leva o nome do patriarca e já foi alvo de muitas denúncias, de tentativas de abertura de CPI na Câmara Federal, abortadas pela bancada parlamentar sob o controle das Organizações, e até de um livro famoso, que foi escrito na década de 80, narrando os escândalos da dita Fundação.
O interessante é que os críticos do MST não se posicionam com a mesma ira diante do rombo de mais de R$ 5 bilhoes que os empresários dos “agronegócios”, os “produtores rurais”, a bancada ruralista e similares deram nos cofres públicos, verba bilionária essa que poderia estar resolvendo os problemas crônicos da educação e da saúde e outras mazelas sociais que transbordam pelo país afora.
Realmente, é uma estranha forma de julgamento essa. Para o MST, a execração pública; para os poderosos, o silêncio pensado. Porém, nada é mais ridículo e alarmista do que a ligação que o referido editorial vê entre Hugo Chávez e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.
Chega a falar em “ouro de Caracas”, chamando a atenção para os investimentos que o presidente da Venezuela fez no Brasil, como se outros países também não fizessem o mesmo, lembrando o “ouro de Moscou”, de triste memória, na época do denuncismo, ou no pior estilo do macarthismo.
Pelo visto, o editorial do Globo continua enxergando comunista embaixo da cama, comendo criancinhas.