Cearense ignora crise e vai às compras sem medo dos juros

Consumidor cearense ignora a crise financeira mundial e pretende continuar comprando, segundo pesquisa do IPDC. Mas a Anefac mostra aumento de todas as taxas de juros das operações de crédito

Esperar para comprar só daqui a dois, três meses, porque as condições de crédito pioraram muito. Os juros subiram e os prazos foram reduzidos. Essa é a avaliação da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) que divulgou ontem que em setembro, pelo quinto mês consecutivo, todas as taxas de juros das operações de crédito subiram. Não é o que pensa o cearense. Levantamento do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC) mostra que 75,05% dos consumidores consideram o atual momento (início de outubro) bom ou ótimo para comprar bens duráveis.


 


Além disso, para 84% dos entrevistados pelo IPDC a situação econômica da família está melhor ou muito melhor que há um ano. “As expectativas são favoráveis e estão acima da média do trimestre anterior”, afirma o superintendente da Federação do Comércio do Ceará (Fecomércio-CE), Roberto Feijó. Ele considera que o varejo não foi atingido. Avalia que só nas compras de médio e longo prazos, como de automóveis e de imóveis, é que pode ter havido mudança.


 


Para Feijó, no Ceará, ainda não há repercussão do aumento dos juros e da redução dos prazos de compra. Reforça que, no momento, não há indícios de que haja retração para a maioria dos setores. Para ele, o quadro deve permanecer assim até o fim deste ano. Adianta que o comércio está abastecido, preparado para atender bem ao consumidor. A pesquisa realizada pelo IPDC, no início deste mês, revela que quase 50% dos consumidores entrevistados realizar suas compras com pagamento em dinheiro.


 


Impacto



O vice-presidente da Anefac e coordenador do trabalho, Miguel José Ribeiro de Oliveira, diz que o impacto maior não são os juros, que representam apenas alguns centavos a mais, mas o encurtamento dos prazos. Como exemplo cita que uma geladeira de R$ 1.500 comprada em 36 meses teria prestação de R$ 104,68. Em 24 meses a prestação sobe para R$ 122,07. “Nesse caso a parcela sobe 17%”, explica, ressaltando que é melhor esperar. Se decidir comprar deve pesquisar bastante porque a variação de preços e condições de pagamento é grande. Ele acredita que dentro dois ou três a situação deve voltar a patamares anteriores.


 


Miguel de Oliveira observa que a dificuldade maior será para as pessoas de baixa renda que escolhem os prazos mais longos para pagar prestações de menor valor. A pesquisa de juros de setembro da Anefac explica que as elevações dos juros foram provocadas pela taxa básica de juros (Selic) que passou de 13% ao ano em agosto/2008 para 13,75% ao ano em setembro, bem como pelo agravamento da crise externa que elevou os juros futuros.


 


Destaca ainda que com a tendência de alta nas taxas, as instituições financeiras estão reduzindo os prazos para empréstimos e estão mais atentas ao grau de endividamento do consumidor. O vice-presidente da Anefac também salienta a redução de 12 meses nos prazos de financiamentos. Exemplos: No caso de veículos os prazos máximos foram reduzidos de 72 meses em agosto/2008 para 60 meses em setembro/2008; e de bens diversos (linha branca, linha marrom, móveis, computadores) o prazo foi reduzido de 36 meses para 24 meses no mês anterior.



E-MAIS


 


– Dados da pesquisa de juros da Anefac demonstram que a taxa média de juros das operações de crédito para pessoa física passou de 7,39% ao mês (135,27% ao ano) em agosto/2008 para 7,46% ao mês (137,12% ao ano) em setembro passado.


 


– Para a pessoa jurídica a taxa média de juros passou de 4,27% ao mês (65,16% ao ano) para 4,36% ao mês (66,88% ao ano) em igual período.


 


– Considerando todas as quedas e elevações da taxa básica de juros (Selic) promovidos pelo Banco Central, desde setembro/2005, houve neste período (até setembro/2008) uma redução da Selic de seis pontos percentuais (queda de 30,38%) de 19,75% ao ano em setembro/2005 para 13,75% ao ano em setembro/2008.


 


– Neste período a taxa de juros média para pessoa física apresentou uma redução de quatro pontos percentuais (queda de 2,83%) de 141,12% ao ano em setembro/2005 para 137,12% ao ano em setembro/2008.


 


Juros do Comércio


Houve uma elevação de 1,46% passando a taxa de 6,17% ao mês (105,13% ao ano) em agosto/2008, para 6,26% ao mês (107,22% ao ano) em setembro/2008. A taxa deste mês é a maior desde novembro/2003 (6,65% ao mês / 116,54% ao ano).


 


Cartão de crédito
Elevação de 0,19%, passando a taxa de 10,44% ao mês (229,24% ao ano) em agosto/2008, para 10,46% mês (229,96% ao ano) em setembro/2008. A taxa deste mês é a maior desde novembro/2003 (10,47% ao mês / 230,32% ao ano).


 


Cheque Especial
Em setembro registrou 7,88% ao mês (148,48% ao ano). A taxa deste mês é a maior desde fevereiro/2007 / 7,91% ao mês / 149,31% ao ano).


 


CDC / Bancos
A taxa passou de 3,13% ao mês (44,75% ao ano) em agosto/2008, para 3,19% ao mês (45,76% ao ano) em setembro/2008. É a maior desde fevereiro/2007 (3,22% ao mês / 46,27% ao ano).


 


Empréstimo Pessoal Bancos
A taxa de juros de 5,41% ao mês (88,18% ao ano) em agosto/2008, para 5,50% ao mês (90,12% ao ano) em setembro/2008. É a maior desde novembro/2006 (5,51% ao mês (90,34% ao ano).


 


Empréstimo Pessoal Financeiras
Houve uma elevação de 1,06% na taxa de juros média, passando a taxa de 11,36% ao mês (263,71% ao ano) em agosto/2008, para 11,48% ao mês (268,44% ao ano) em setembro/2008. A taxa deste mês é a maior desde novembro/2006 (11,56% ao mês / 271,62% ao ano).


 


Fonte: Anefac