Messias Pontes – Eleições continuam viciadas
Apesar de todos os esforços das entidades mais representativas da sociedade como a CNBB, OAB, ABI, FENAJ, Ministério Público, centrais sindicais, dentre outras, o primeiro turno das eleições municipais deste ano foram marcadas pelos mesmos vícios das ante
Publicado 15/10/2008 09:59 | Editado 04/03/2020 16:36
Em pronunciamento na manhã de ontem (14.10.08) na Assembléia Legislativa do Ceará, o deputado tucano Fernando Hugo declarou que as eleições municipais deste ano foram as mais corruptas que ele já viu em toda a sua vida pública. A denuncia é muito séria e precisa ser investigada a fundo pelo Ministério Público e pela Justiça Eleitoral. A denúncia foi tão consistente que nenhum deputado presente ousou contestá-la.
Os vícios verificados na disputa por uma vaga de prefeito e de vereador saltavam aos olhos. Só o Ministério Público e a Justiça Eleitoral não viram. Mas ainda está em tempo de corrigir pelo menos em parte, pois os que cometeram desvio de conduta e foram “eleitos” ainda não foram diplomados e muito menos empossados.
A desonestidade começou com o vergonhoso uso de institutos de pesquisa fajutos. São os “institutos valem quanto pagam”. Isto mesmo, o resultado era ditado por quem pagava. Para comprovar esse absurdo, também denunciado da tribuna da Assembléia Legislativa, basta pegar os jornais locais de um mês antes das eleições para constatar. No mesmo município e no mesmo período “pesquisado”, os números apresentados eram diametralmente opostos. Tudo para manipular a intenção do eleitor.
Já que o Ministério Público e a Justiça Eleitoral não coibiram esse abuso, faz-se imperiosa a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar essa enorme tramóia. É inadmissível alguém sustentar que a diferença era em função da metodologia aplicada. Até porque a diferença era abissal. É preciso checar o endereço desses “institutos de pesquisa”, os seus responsáveis e, principalmente, quem os contratou.
Outro dado que precisa ser investigado com todo o rigor é a imoral prática de transferência de eleitores. Isto não demanda muito trabalho. Basta comparar o número de habitantes com o de eleitores de cada município para se constatar esse crime eleitoral. Para tanto, o IBGE fornece a população e o TER o eleitorado. Para facilitar, a consulta pode ser feita pela Internet.
Para constatar a compra de votos, notadamente no interior do estado, basta conversar com as pessoas nas feiras, mercados, barbearias e mesmo nos bancos das praças. Ou ainda verificar a contabilidade das lojas e depósitos de material de construção. Nunca tanto cimento, tijolo, madeira e telha foram vendidos ultimamente. As contas ainda não foram de todo pagas. Prestações atrasadas de motos, de eletrodomésticos e mesmo contas de energia elétrica e de água (onde tem) foram quitadas. Isto sem falar nas mirabolantes promessas de emprego feitas por um nada desprezível número de candidatos a prefeito e a vereador.
Outra imoralidade que pode ser facilmente constatada é a pressão sobre funcionários terceirizados. Estes, com medo de perder o “emprego”, se sujeitam a trabalhar e votar em quem o prefeito mandar, mesmo sendo simpatizantes ou filiados a partidos adversários. As ameaças são feitas sem a menor cerimônia até mesmo por prefeitos(as) ditos(as) de esquerda.
Mais do que nunca a sociedade precisa pressionar o Congresso Nacional para realizar uma reforma política que fortaleça os partidos e democratize o processo eleitoral, notadamente no que diz respeito ao financiamento público exclusivo de campanha.
Enquanto isto não for feito, as eleições continuarão sendo viciadas.
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/Ce