Luiz Favre: Ir além da aritmética eleitoral
Concluídas as eleições municipais corresponde avaliar a situação política e as novas relações de força que emergiram do escrutínio. Com a mesma ênfase com que pretendia que as eleições municipais eram essencialmente locais e não tinham qualquer relação
Publicado 31/10/2008 16:19
Essencialmente os resultados das eleições municipais de 2008 (os números, tanto de votos, como de prefeituras) repetem o mapa das eleições de 2004, mas amplificando a votação e as conquistas dos partidos da base do governo, em detrimento dos partidos da oposição (DEM-PSDB-PPS).
Sem desprezar as vitórias obtidas pela oposição, sua força simbólica e seus desdobramentos políticos, a aritmética eleitoral mostra uma diminuição de sua influência e dos municípios por ela governados, particularmente nas cidades acima de 200 mil habitantes e nas capitais.
As eleições municipais confirmaram o quase desaparecimento do DEM-PFL das prefeituras. Perdeu Rio de Janeiro, onde contrariando a tendência que favoreceu a continuidade, Cesar Maia não fez seu sucessor. Afastou o “carlismo” de um retorno com ACM Neto em Salvador e ganhou sobrevida com a vitória de Kassab, porem estreitamente limitada as decisões de José Serra. O PPS virou pó e o PSDB conseguiu manter sua força, diminuída de muitas prefeituras, em cidades já governadas por eles. No plano nacional, a oposição e a mídia não podem sustentar na aritmética eleitoral uma vitória, de fato inexistente, ou uma derrota de Lula e do governo federal. O PT foi o segundo partido mais votado no país e passou a governar 566 prefeituras, 143 a mais que em 2004 . O PMDB, por sua vez, cresceu 54% em termos eleitorais em relação a 2004 (Fonte jornal VALOR).
Mas entre a aritmética eleitoral e a política, as percepções e suas repercussões nos partidos, não existe automaticamente equivalência ou identidade. Por isso não é suficiente constatar os ganhos e perdas, requer-se ir além e aprofundar a analise política sobre as projeções dos resultados eleitorais.
Vou tentar aportar minha opinião em várias notas sobre diversos elementos destas eleições, sem a pretensão de aportar respostas a uma série de problemas revelados nesta campanha. Em outras notas tratarei especificamente das eleições em São Paulo.
Se no plano geral do cômputo municipal, os partidos da base do governo federal obtiveram as maiores vitórias, um analise pormenorizado mostra que destes partidos, é o PMDB quem mais se fortalece e o crescimento dos municípios conquistados pelo PT não compensa este fato, diminuído assim o peso do partido do presidente, na disputa política no campo da base aliada.
A diminuição do voto e dos municípios controlados pela oposição, não deve ocultar a importância política da vitória de Serra na cidade de São Paulo. Não só por ter conseguido a reeleição de Kassab, mas por ter obtido este resultado derrotando ao mesmo tempo seu principal adversário no PSDB, o ex-governador Alckmin e impedido assim o crescimento em São Paulo de seu rival Aécio Neves. A vitória de Serra é por isso uma vitória política muito significativa, reforçada mais ainda pela derrota de Marta e do PT, por uma margem grande e significativa.
Ao mesmo tempo, os limites desta vitória inegável de José Serra é que ela não conseguiu se projetar fora do Estado, na vitória de Gabeira no Rio, candidato do Serra e maior esperança deste segundo turno, após Kassab, para a oposição e a mídia. A vitória do candidato de Aécio em BH também constituí um limitador da vitória do paulista e de suas pretensões para 2010.
O PT deverá proceder a uma avaliação aprofundada sobre sua situação. Ele não pode limitar sua avaliação dos resultados a constatar o simples crescimento em prefeituras e em votos obtido pela legenda, ou no crescimento dos partidos da base do governo. Em primeiro lugar porque o PMDB é um aliado muito dividido nos diferentes Estados (em São Paulo está na oposição). Em segundo lugar, porque o PT, como partido, não conseguiu resolver o divórcio com uma parte significativa do eleitorado, particularmente da região sudoeste e sul e nestas regiões, de seu afastamento de contingentes significativos de eleitores da classe média urbanizada. Isto é particularmente válido nas capitais, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.
Fonte: Blog do Favre