Caso Fábio Assunção: falso moralismo e voyeurismo sádico
O inferno astral de Fábio Assunção começou às vésperas de uma telenovela que ia ter o emblemático título de Juízo Final (hoje, A Favorita) — e na qual caberia a ele o papel de um delinqüente irrecuperável (o Dodi, feito por Murilo Ben
Publicado 25/11/2008 19:58
Aparentemente, a própria família de Fábio fez a denúncia, na presunção caridosa de que, eliminando-se a causa, suprimido estava o efeito. O ator tentou a volta por cima, num Negócio da China — mas o ser humano por trás da máscara sucumbiu.
Esta é a história, sobre a qual, com aquele sadismo paradoxal de voyeur e de moralista, têm desaguado páginas longas e cavilosas. Aqui, neste “Estilo” (seção de CartaCapital), um parágrafo para o folhetim — está de bom tamanho, não está? A agonia pública de um astro com carisma é de fato uma tristeza, mas a gente acredita que é mais solidário, até mesmo generoso, investigar o fenômeno do que chafurdar no fato.
A tevê é o holofote sob o qual querem se aninhar todos os ansiosos da fama. Fábio Assunção, celebridade relutante, sempre trafegou na contramão. Mas não é só a tevê que chama hoje a atenção. A hiper-histeria midiática multiplica-se em mil canais do que a antropóloga argentina Paula Sibilia, professora da Universidade Federal Fluminense, chama de “o show do eu” (título do livro que acaba de lançar pela Nova Fronteira).
Show abastecido hoje por uma miríade de blogs, fotologs, pelo YouTube, pelo Facebook, pelo fascínio editorial e autovisual das biografias — sem falar do exibicionismo selvagem dos reality shows e de certos talk shows.
A intimidade, que o desafortunado Fábio Assunção tanto procurou resguardar, sobe ao ofertório da banalização. O espírito do folhetim prevalece. Os amigos, muy amigos, amplificam, em supostas manifestações piedosas, os suspiros de dramalhão. Os falsos agentes da moral caem de cacetada.
Bom menino, mocinho virtuoso, protagonista — quase sempre — dos bons sentimentos, Fábio Assunção desabou sob o peso da demanda midiática de servir de exemplo e de espelho. Não será o primeiro nem o único herói problemático a sucumbir, num descuido muito sintomático, à tentação de provar do lado podre da maçã. Ante o deleite deletério dos que hoje fazem da vida o despudor virtual de um videogame, no qual cabe tudo, menos recato e anonimato.