Por apenas 14 votos, chapa da CTB vence eleição no Sintaema

A chapa Unidade e Luta, liderada pela CTB e encabeçada por Rene Vicente dos Santos, venceu a eleição mais disputada nos 33 anos de história do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo). A vitória — po

Realizada de terça a quinta-feira (25, 26 e 27), com grande participação da base, a eleição mobilizou 9.720 eleitores. A chapa vitoriosa, composta por sindicalistas da CTB e da CUT, além de setores da Intersindical, conquistou 4.683 votos — apenas 14 a mais que a oposição. A Alternativa de Luta, embora também contasse com integrantes da Intersindical, foi liderada pela Conlutas.


 



 


Se os três dias de votação transcorreram com tranqüilidade e sem incidentes, sobrou suspense na apuração, nesta sexta-feira (28), na sede do Sintaema. A oposição chegou a abrir mais de 500 votos de dianteira e liderou a contagem até a abertura da última das 86 urnas. Foi só nos minutos finais que a Unidade e Luta virou a disputa, mantendo a entidade na linha do sindicalismo classista e democrático.


 


O novo presidente


 


Rene tem 35 anos e está na Sabesp há 10. Eletricista de manutenção e formando em Sociologia, ele ocupa, na atual gestão, o cargo de diretor de Imprensa e Comunicação. Ao Vermelho, logo após a apuração, ele declarou que o resultado do pleito serve como alerta para a nova direção.


 


“A diretoria atual apresentou certas deficiências durante o mandato. Vamos ter de melhorar e estar muito mais presentes nas bases.” Entre as demandas urgentes, ele diz que é preciso desenvolver “novas formas de luta”, “promover um debate maior entre os setores administrativo e operacional”, “manter um diálogo permanente com a base” e “investir na formação política dos delegados sindicais”.


 


No entanto, Rene pondera que a apertada vantagem de sua chapa se deve, sobretudo, a uma traição da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O Sintaema exerce a representatividade dos trabalhadores de oito empresas e uma fundação, e a Sabesp é a maior delas. Na campanha salarial de 2007, um acordo entre a companhia o sindicato previa o pagamento de um bônus até o primeiro semestre de 2008.


 


Passado o prazo, a Sabesp não honrou o compromisso — o que foi manipulado pela Conlutas. “A oposição, em vez de ir para cima da Sabesp, mentiu para a categoria e disse que o não-pagamento mostrava a fraqueza da direção. Mas quem conseguiu o bônus foi o sindicato. Quem errou e precisa prestar contas é a Sabesp”, diz o presidente eleito.


 


Na opinião de Rene, uma das prioridades da nova diretoria é lutar contra as terceirizações. “Muitos dos contratados nesse sistema não podem ser representados pelo Sintaema — mas, sim, pelo Sindicato da Construção Civil. Isso prejudica a luta dos trabalhadores e é um ataque à unidade sindical.”


 


Balanço


 


Ao ser empossado, no começo de 2009, Rene será o sexto presidente do Sintaema — o maior sindicato de saneamento básico e meio ambiente da América Latina. Já presidiram a entidade Antonio Muniz Santiago (1975-1984), Roberto Guerra (1984-1987), Nivaldo Santana (1987-1994), Elizabeth Tortolano (1994-2003) e Helifax Pinto de Souza (2003-2009).


 


Na opinião de Helifax, as últimas gestões deixam um legado de valor. “Conseguimos reverter perdas, conquistar mais benefícios para os trabalhadores e fazer mais debate político”, declarou ele ao Vermelho. Ao mesmo tempo, foram mandatos de áridas batalhas contra a privatização e a terceirização. “Enfrentamos, atualmente, um governo estadual muito mais duro e conservador.”


 


Helifax diz confiar no seu sucessor e na nova diretoria. “Fomos ousados. Houve uma renovação grande na direção, o que será bom para o sindicato e as bases”, diz ele, lembrando que muitos diretores antigos — alguns do começo dos anos 90 — não ocuparão mais cargos.


 


Ao fim de sua segunda presidência, Helifax afirma que o Sintaema cristalizou um “modelo sindical de orientação classista, aliando a luta política aos interesses mais imediatos da categoria”. Mas o atual presidente também concorda com Rene: o resultado dramático das eleições desta semana deixa lições. “Precisamos rever conceitos e métodos.”


 


À nova direção se descortinam muitos desafios. Nesse ponto, os discursos de Helifaz e Rene estão mais do que afinados. “Precisamos, por exemplo, estudar as novas técnicas de gerenciamento para entender o setor administrativo”, diz Helifax. “Nossa realidade pede uma nova dinâmica junto à categoria — um trabalho ainda mais próximo dos trabalhadores.”


 


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