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Coléra no Zimbábue é resultado de ação ocidental

“A crise no Zimbábue se intensificou. A inflação é incalculavelmente alta. O Banco Central limita até o insuportável a quantidade de dinheiro que os zimbabuanos podem retirar de suas contas bancárias diariamente. Soldados desarmados se amotinam, com su

“O cólera, facilmente evitável e curável em circunstâncias normais, disparou, levando o governo a declarar um estado de emergência humanitária” escreve. “No Ocidente, os representantes governamentais pedem ao presidente do país, Robert Mugabe, que renuncie e entregue o poder ao líder da facção majoritária do Movimento por uma Mudança Democrática, Morgan Tsvangirai, mas não se diz em nenhum momento o que Mugabe fez para causar a crise, nem como a instalação de Tsvangirai fará com que ela desapareça”.



Gowans descreve em seu artigo, publicado no site Rebelion, como a sucessão de eventos desencadeou a atual crise, iniciada no fim dos anos 1990. Para Gowans, o ocidente passou a hostilizar ainda mais Mugabe quando este fez uma intervenção militar na República Democrática do Congo, desbaratando o apoio militar americano e britânico contra Laurent Kabila.



O Zimbábue não aceitou também a intervenção do FMI e o governo do país acelerou a distribuição de terra, confiscando as fazendas dos brancos e, deste modo, cometende uma afronta definitiva contra os donos das propriedades produtivas.



“Para os governos que baseiam sua política externa, em grande medida, em proteger os direitos de propriedade sobre os bens de produção no estrangeiro, a expropriação e, especialmente, a expropriação sem compensação, é intolerável, e deve ser castigada para dissuadir outros de fazerem o mesmo”, explica Gowans



“As causas da atual crise podem ser rastreadas, diretamente, até Ocidente. Em lugar de pribir a exportação de bens ao Zimbábue, os EUA negaram ao país os meios para poder importá-los — sem sanções econômicas, mas com uma diretiva que tem o mesmo efeito”, afirma.



“Estamos certos de que, se Mugabe tivesse recuado em sua reforma sobre a propriedade da terra, e houvesse acatado as exigências do FMI, a crise poderia ter sido evitada. Mas o gatilho foi apertado em Washington, Londres e Bruxelas, e é o Ocidente, portanto, o que carrega a maior parte da culpa”, aponta.



“Os meios de comunicação ocidentais se referem às sanções contra o Zimbábue como dirigidas e limitadas unicamente a autoridades governamentais de alto escalão e outros indivíduos. Isso ignora a Ata para a Recuperação da Economia e da Democracia no Zimbábue e oculta seu impacto devastador, dessa maneira transferindo a responsabilidade  pela catástrofe humanitária dos Estados Unidos a Mugabe”, explica.



“A epidemia de cólera tem paralelo com a epidemia que ocorreu no Iraque após a Guerra do Golfo”, acusa Gowan. Segundo ele, Thomas Nagy, um professor da Universidade George Washington, citou documentos de 2001 que comprovam que os EUA bombardearam de forma deliberada as estações de tratamento de água do Iraque, fazendo com que essa infraestrutura se perdesse e que epidemias controláveis se alastrassem pelo país, para forçar uma mudança de regime.



Em relação ao Zimbábue, a única diferença é que Washington utilizou a Ata para a Recuperação da Economia e da Democracia no Zimbábue, considerada uma sanção de destruição de instalações, em lugar dos bombardeios.



Para Gowan, “a crise econômica do Zimbábue está acompanhada de uma crise política. As conversações para formar um governo de unidade nacional estão paralisadas. O fracasso em obter um acordo está no impasse em apenas um ministério, o de Política Interna”.



Segundo a oposição, Mugabe e seu partido mostra intransigência e insiste em controlar todos os postos chave do gabinete. No entanto, Tsvangirai mostrou pouco interesse em conseguir um acordo, preferindo, pelo contrário, colocar objeções a todas as soluções sugeridas por mediadores externos, enquanto embaixadas ocidentais rondam os arredores da negociação.



Na última reunião da Comunidade de Deseonvolvimento da África Meridional, Mugabe apresentou um relatório no qual alega que milícias do partido de Tsvangirai estariam sendo treinadas em Botswana por militares do Reino Unido. Elas seriam lançadas no país no início de 2009, para fomentar uma guerra civil. O que daria pretexto, segundo Mugabe, a uma intervenção externa.



O primeiro ministro britânico Gordon Brown diz que a epidemia de cólera faz a crise do Zimbábue se tornar “internacional”, já que a doença pode cruzar fronteiras. “Já que uma crise internacional cai no âmbito da 'comunidade internacional', o caminho está livre para que o Ocidente e seus satélites dêem um jeito nas coisas”, afirma Gowan.



“A obstinação do governo de Mugabe em realizar uma reforma agrária, seu repúdio às políticas estruturais neoliberais e o movimento para eclipsar o imperialismo americano no sul da África converteram o Zimbábue em um alvo de um ataque ocidental, baseado em sanções financeira punitivas”, afirma Gowan.



O objetivo, como sempre, é o de permitir que o país se torne ingovernável e que seu governo seja deposto de alguma maneira, permitindo que em seu lugar seja colocado alguém que seja do gosto do Ocidente. Isso faria com que as sanções fossem levantadas, permitindo uma melhoria na situação humanitária do país. “A tal melhoria da situação humanitária seria citada como prova de que o Ocidente tinha razão ao insistir em uma mudança de governo”, aponta Gowan.


 


A íntegra do artigo de Stephen Gowan pode ser lida no site americano “Black Agenda Report“.  Jesus Maria e Mariola Garcia Pedrajas traduziram o artigo para o espanhol e o publicaram no Rebelión.