Projeto quer combater preconceito contra o funk
O funk deve ser definido como forma de manifestação cultural popular. É o que propõe projeto de lei do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que lembra que gêneros como samba e maxixe também já foram alvo de preconceito. O projeto também determina que o Po
Publicado 18/12/2008 17:14
Chico Alencar enfatizou que o movimento funk é hoje, no País, uma atividade de lazer e cultura popular das mais importantes, reunindo mais de 1 milhão de jovens todos os fins de semana, apenas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. ''Entre cantores, MC's, grupos de dançarinos e DJ's cariocas renomados, estima-se haver atualmente mais de mil em atividade conhecidos no País e, alguns deles, até no exterior'', informou.
O parlamentra socialista, que também é professor de História, lembra que outros gêneros como o maxixe e o samba já foram alvo de preconceito. ''Houve época em que, no Brasil, era proibido sambar! Hoje, é o funk que enfrenta toda ordem de preconceitos e tentativas de desmobilização por parte de segmentos da sociedade que discriminam manifestações culturais das classes menos abonadas, sobretudo as ligadas à cultura negra''.
O parlamentar ressalta ainda que a mídia nacional freqüentemente refere-se ao funk de modo preconceituoso, associando-o, em palavras ou imagens, à marginalidade, à violência e ao tráfico e consumo de drogas.
Pela proposta, o Poder Público deverá garantir a proteção do funk e dos direitos dos artistas do movimento. Deverá ser assegurada a livre realização das festas e dos bailes para sua promoção. O projeto define também que a discriminação e o preconceito contra o movimento funk e seus integrantes estarão sujeitos às penas previstas em lei.
O projeto tramita em caráter conclusivo – sem precisar de votação no Plenário da Casa – e será analisado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça (CCJ).
Trajetória da música
Para justificar a apresentação do projeto, o deputado Chico Alencar conta a história do funk, no Brasil e no mundo. Considerado como uma fusão do Soul, Jazz e Rithm & Blues (R&B), os músicos norteamericanos inicialmente chamaram de Funk uma música com um ritmo lento e caracterizada por frases musicais repetidas. Com as inovações introduzidas nos anos 60, é que o funk passou a ser considerado um gênero musical específico.
Os estudiosos mostram que o funk seguiu sua trajetória como uma versão radical do soul, utilizando arranjos mais agressivos e com um ritmo mais pesado. É tributário de várias linhagens da música black – como a proveniente da Jamaica dos anos 60, de onde se importaram os sound systems das festas realizadas em praças públicas.
Ali, novas músicas eram “construídas” com aparelhos de mixagem, prática que depois é levada para o Bronx nova-iorquino, onde a técnica recebe a adição de elementos como o scratch – uso da agulha do toca-discos como instrumento que arranhava o disco; e o rap – surgido da prática de abrir o microfone a dançarinos, que improvisavam sobre as bases musicais, criando a figura do master of ceremony, ou MC.
Dessa base, o funk se dissemina pelo mundo, caindo no gosto da juventude de toda parte, e passa a integrar o caldo cultural de várias vertentes, como o hip hop.
No Brasil
No contexto musical do Rio de Janeiro, as origens do movimento funk remontam ao início dos anos 70, com os “Bailes da Pesada” no Canecão (espaço cultural na Zona Sul), organizados pelo discotecário Ademir Lemos e pelo locutor de rádio Big Boy, cujo programa na Rádio Mundial fazia grande sucesso entre os jovens.
Em plena ditadura militar, houve uma leitura política do movimento, interpretando a forte presença da militância negra nos bailes e como forma de conscientização da cultura negra pela juventude, que constituía a maioria dos freqüentadores. Na visão mais engajada, o funk deixava de ser mera diversão e se tornava instrumento de superação do racismo e da aculturação.
De Brasília
Márcia Xavier