O novo protagonismo das forças de centro-esquerda
Artigo do presidente estadual do PCdoB goiano Luiz Carlos Orro, analisa os possíveis cenários para a disputa de 2010. Publicado noo jornal Diário da Manhã em 22 de janeiro de 2009.
Publicado 22/01/2009 15:10 | Editado 04/03/2020 16:44
Com o advento da era Lula, iniciada em 2002, os partidos de esquerda e de centro assumiram o palco principal do cenário político. A ascensão dessas novas forças políticas e sociais ao comando do governo da República não se deu apenas pelo desgaste dos setores neoliberais então dominantes. Ocorreu também pelo exercício da ampliação das alianças políticas, quando a esquerda (principalmente o PT) vislumbrou que necessitaria do apoio do centro, tanto para ganhar a eleição presidencial quanto para garantir a governabilidade. E assim a chapa Lula-José Alencar venceu com folga em 2002 e foi reeleita em 2006. O operário e o empresário juntos, o que antes era inimaginável para muitos. A reflexão sobre o tema nos faz lembrar da sabedoria do querido João Amazonas, que em 1989 presidia o Partido Comunista do Brasil. Naquele segundo turno imprevisível entre Lula e Collor, o experiente marxista defendia que Lula devia procurar o dr. Ulisses Guimarães e conquistar o apoio do PMDB para ganhar a eleição, pois a esquerda (PT, PCdoB, PSB, PDT) não reunia força suficiente. Sem o centro, perderemos, avaliava o velho comunista, ex-deputado Constituinte de 1945. Não foi compreendido; o PMDB não foi procurado e Collor tornou-se presidente, dando início à implementação das medidas neoliberais, para a infelicidade geral da Nação.
Essas são reminiscências que vêm de vinte anos atrás, mas as consequências e lições não aprendidas daquele momento da história nacional perduraram nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, com as vitórias de FHC: o entreguismo e antipatriotismo das privatizações do patrimônio nacional, o massacre do funcionalismo público, a desidratação do Estado Brasileiro (lembram da propaganda do Estado elefante?), o corte de direitos sociais e trabalhistas, o desprezo pelo povo pobre, a política externa de alinhamento automático com os EUA, a política econômica monetarista ortodoxa, que só privilegiava os lucros dos banqueiros e o ganho dos ricos, desprezando o crescimento, engessando a geração de empregos e renda. Foi o reino fabuloso da plutocracia, o governo dos ricos, para os ricos e pelos ricos, da paridade fictícia real-dólar, que esgotou as reservas e quebrou o Brasil. E tudo isso ocorreu porque a nova direita brasileira – PSDB e PFL/DEM – conseguiu o papel de protagonista principal na década de 90, conquistando o apoio da maior parte do PMDB, que é o principal partido de centro.
O passado tem muita importância, em especial para dele tirarmos os ensinamentos para o futuro. A disputa de 2010 já está em curso, e a questão da correlação de forças se imporá, inexoravelmente. O governo Lula – noves fora os juros altos – vai bem, enfrenta a crise com aumento dos investimentos públicos, inicia um ainda tímido corte de impostos para a classe média, fomenta e apoia a atividade industrial e agropecuária, socorre os pobres outrora famintos e abandonados pelas elites, investe em educação e obras de infraestrutura. E tudo isso só está sendo possível graças à governabilidade que lhe confere o apoio de catorze partidos com assento no Congresso Nacional, uma ampla coalizão de centro-esquerda, que se expressa, legitimamente, também na composição do Executivo Federal. A eleição do sucessor ou sucessora de Lula dependerá, obviamente, da manutenção e até mesmo da ampliação dessa frente política, se quisermos sinceramente que as mudanças que Lula trouxe se mantenham e se aprofundem. E essa costura há de ser feita, e já está sendo feita em cada unidade da Federação, pois envolve também as chapas de governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Não haverá um acordo nacional, para a eleição presidencial, entre os partidos de esquerda e de centro, se esses mesmos partidos não se entenderem em nível dos Estados, pelo menos nos principais, e Goiás está entre eles.
Política é força, como se diz há muito tempo. E como cada partido e cada classe ou segmento social tem a sua própria força, o resultado dos embates depende da correlação de forças, muito mais do que da vontade, do simples querer dos atores políticos. Fazer política apenas com base na vontade, descolando-se da realidade objetiva e subjetiva que cada processo histórico encerra, não passa de voluntarismo, de uma prática primária e infantil do fazer política. Um projeto nacional que garanta a eleição de um sucessor de Lula terá que contar, em Goiás, com o PMDB, PT, PCdoB, PDT, PSC, PR e mais outros partidos do campo de centro e de esquerda, cujo candidato a governador com chances reais de vitória pode vir a ser o prefeito Iris Rezende. E tão claro como um dia de sol, essa articulação vai trombar de frente com os desígnios da direita – PSDB e PFL, travestido de DEM – que quer voltar ao poder da República. O braço goiano para sustentar esse intento – a campanha de Serra ao Planalto – tem o senador Marconi Perilo como principal ator, já posto como candidato ao Palácio das Esmeraldas. Crescem os rumores de uma terceira via para o governo estadual, supostamente com Henrique Meireles como candidato, com o suposto apoio do governador Alcides, e há quem suponha até mesmo o apoio do presidente Lula. Não consideramos uma boa alternativa, mas, se esse movimento vai vingar ou não, o tempo e as ações do atores políticos é que dirão.
O certo é que devemos nós, do pólo de centroesquerda, que estivemos unidos na campanha vitoriosa de 2008 e já estamos atuando juntos na Prefeitura de Goiânia, cuidar da nossa união, ampliar e aprofundar nossas alianças, e não se pôr a incentivar desavenças, a futucar velhas feridas. Todo o esforço possível deve ser empreendido pela ampliação dessa aliança, e o governador Alcides, político de centro, do PP que compõe a base de sustentação do governo Lula, tem papel de alta relevância para a construção de um entendimento ainda mais alargado. Sozinho, ninguém vai a lugar nenhum, principalmente quando se trata de eleição majoritária, e, para as eleições de 2010, mesmo se considerarmos que as peças do nosso xadrez são direções partidárias e líderes goianos, jamais devemos nos olvidar de que o tabuleiro é nacional.
* Luiz Carlos Orro é presidente estadual e membro do Comitê Central do PCdoB e secretário de Esporte e Lazer de Goiânia