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As políticas sociais de Lula e as esmolas de Mino Carta

A turma ''gauche caviar'' gosta de esnobar de qualquer política social efetiva. Fala em ''esmolas'' e ''ricos que ganham mais''. Ora, sabemos que o crescimento econômico implica, necessariamente, em maiores lucros para indústrias e grandes empresas. Qu

Quando falam em ''esmolas'', humilham os milhões de brasileiros que recebem auxílios sociais, auxílios que existem em todo país desenvolvido e que constituem um direito do cidadão e um dever do Estado, e não uma ''esmola''. Também humilha quem recebe salário modesto — recebido e gasto com dignidade e inteligência, vide a explosão no consumo de computadores.


 


Nos últimos anos, a valorização do salário mínimo foi expressiva, acima do que muitos sindicalistas imaginavam ser possível. Paulo Paim, senador petista que há décadas lutava pelo salário mínimo de US$ 100, hoje, diante de um salário mínimo de R$ 465, valor que corresponde a mais de US$ 200 (e que já chegou a valer quase US$ 300), está tendo que quadruplicar sua meta. O salário mínimo é esmola, Mino?


 


Comparar programas sociais estruturantes a ''esmolas'' denota forte preconceito. Apoio estatal a empresas, por exemplo, é sempre considerado como ''investimento'' ou ''incentivo fiscal''. A maior prova, porém, de que a maneira lulista de governar não se restringe a ''esmolas'' são os números do Caged para o mercado de trabalho.


 


Segundo o Cadastro Geral dos Empregados, o saldo entre empregos admitidos e desaparecidos nos quatro últimos anos do governo FHC 1999 a 2002 ficou em 1.815.088 empregos. Nos quatros últimos anos da era lulista 2005 a 2008, o saldo de emprego fechou positivo em 5,55 milhões. Ou seja, 3,73 milhões de empregos a mais que nos tempos fernandinos, ou 206% a mais. Emprego com carteira assinada também é esmola, Mino?


 


A diferença chega a ser assustadora. FHC conseguiu a proeza de provocar saldo negativo no setor mais fácil de gerar empregos, que é a construção civil. Por quê? Porque seu governo não tinha preocupação em gerar empregos, e a mídia não lhe cobrava isso.


 


Nos quatro últimos anos de FHC, a construção civil perdeu 177,6 mil empregos. De 2005 a 2008, o mesmo setor gerou saldo de 545 mil empregos. O plano do governo federal de construir mais 500 mil casas populares, afora as obras do PAC, deverá dinamizar ainda mais a geração de empregos no segmento.


 


Lembro que esses números caíam como bomba junto aos propagandistas da campanha de Alckmin, rival de Lula em 2006. Eles se constrangiam ao ouvir esses números, que davam larga vantagem ao atual ocupante do Palácio do Planalto. Neste segundo governo a vantagem cresceu. A popularidade de Lula não ocorre à toa. Pela mesma razão, o povo brasileiro, em caso de crise econômica, preferirá o certo (Dilma Roussef) ao duvidoso (Serra).


 


O valoroso Mino Carta despediu-se de seu blog soltando farpas que mais convinham a conversas entreouvidas nos corredores do shopping morumbi, referindo-se a ''esmolas'' para os pobres. Tremendo desrespeito. A escola para 1.500 alunos, construída em Manguinhos, área pobre do Rio, inaugurada esta semana, é ''esmola''? As centenas de escolas técnicas federais construídas nos últimos anos são ''esmola''? Preso a rotina de alta sociedade paulistana, Mino não consegue ver as mudanças.


 


Suponho que Mino, jornalista de orientação progressista, cansou-se da pressão terrível de viver sob o mesmo teto da elite paulistóide. Já vinha, há tempos, tendendo a uma melancolia blasé, que costuma aliviar invectivando contra a alta burguesia dos Jardins.


 


A polêmica envolvendo Battisti horrorizou-o duplamente: leitores de direita elogiando-o (com interesse em desgastar a esquerda) e, do outro espectro, leitores acusando a ausência de um mínimo de sentimento nacionalista num cidadão que, desde priscas eras, ganha a vida nas terras de Vera Cruz.


 


De resto, concordo com quase tudo que Mino Carta aponta em seu texto de despedida. Sobre Michel Temer, Sarney, sobre a classe dominante brasileira. Não posso aprovar, todavia, seu tom derrotista, e mais ainda seu indesculpável surto de psolismo, visto que ele conhece perfeitamente as dificuldades políticas enfrentadas pelo governo para aprovar, no Congresso, as reformas que o Brasil precisa. Não é o governo quem elege os parlamentares, nem pode interferir na esfera legislativa sem causar atritos contraproducentes com os partidos aliados e de oposição.


 


Preparei uma tabela especialmente com os números do Caged para o saldo de empregos em períodos de 4 anos de Lula e 4 anos de FHC. Não tive muita escolha quanto ao período, visto que o histórico disponível do Caged tem início em 1999.


 



 


Confira também a evolução do salário mínimo.