Celebrações marcam centenário de dom Helder Câmara
Belo Horizonte celebrou nesse sábado o centenário do religioso que marcou para sempre a história do catolicismo no país. Dom Helder Câmara (1909-1999) foi homenageado com uma emocionante missa, na Catedral Nossa Senhora da Boa Viagem, no Bairro Funcion
Publicado 08/02/2009 14:23
A celebração marca a abertura oficial das comemorações dos 100 anos de nascimento do homem que fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952, e teve uma vida dedicada à luta pelos direitos humanos e pela justiça social e contra o autoritarismo e a ditadura militar.
A missa foi presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e contou com a presença de familiares do religioso, estudantes e professores da Escola Superior Dom Helder Câmara, fundada em 2002 na capital.
A abertura oficial dos eventos do centenário também foi marcada pelo lançamento de um selo comemorativo dos Correios, carimbado por dom Walmor, e que agora vai circular em todo o país.
As homenagens ao “Profeta da Paz”, como ficou conhecido depois de sua indicação a um Prêmio Nobel da Paz, também foram feitas em Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
Belo Horizonte foi escolhida para sediar a abertura das celebrações por causa da Escola Superior Dom Helder. “BH foi um terreno fértil, onde a mensagem de paz de dom Helder fecundou, germinou e ainda gera muitos frutos. Ele tem o pressuposto dos grandes líderes que ajudaram a recuperar a liberdade de expressão e a lutar pelos direitos humanos. Dom Helder foi uma janela do Brasil para o mundo ao denunciar a perseguição política no país”, disse o diretor da escola superior, padre Paulo Humberto Stumpf.
Na primeira fila da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, uma sobrinha de dom Helder não conteve a emoção. Filha de um irmão do religioso, Myrna Câmara veio do Rio de Janeiro para participar da celebração. “Estamos agradecidos com a homenagem, que é uma forma de perpetuar sua existência.
Dom Helder teve humildade para aceitar de Deus a missão de espalhar pelo mundo a esperança, a justiça e a fraternidade”, afirmou. A cerimônia também contou com a presença do prefeito de BH, Márcio Lacerda (PSB).
Biografia
Natural de Fortaleza (CE), dom Helder foi ordenado sacerdote aos 22 anos, depois de cursar filosofia e teologia no Seminário Prainha de São José, na capital cearense. Na época, foi preciso uma licença extraordinária da Santa Sé, pois ele ainda não tinha a idade mínima necessária para a ordenação (24 anos).
Na década de 1940, foi nomeado bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde fundou a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência, entidades de amparo aos pobres. Em 1952, o religioso fundou a CNBB, órgão do qual foi primeiro secretário-geral durante 12 anos e, depois, secretário de Ação Social, até 1968. Dom Helder também exerceu o cargo de delegado do Brasil na Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, sendo seu vice-presidente entre 1958 e 60 e em 1964.
Em março de 1964, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife (PE), onde só se aposentou 21 anos mais tarde. Recém-empossado na arquidiocese, dom Helder divulgou um manifesto de apoio à ação católica operária no Recife. Por esse documento, o governo militar o acusou de comunista e ele foi proibido de se manifestar publicamente. Na década de 1970, num pronunciamento em Paris, dom Helder denunciou, pela primeira vez, a prática de tortura contra presos políticos no Brasil.
Ele também deixou seu nome na história da educação no país. Na década de 1930, foi nomeado assistente técnico do Secretariado de Educação do Distrito Federal e exerceu o cargo de diretor do Ensino Religioso e da Renovação Catequética do arcebispado, além de ser nomeado inspetor de ensino do Ministério da Educação. Dom Helder ainda foi autor de 22 livros. Aos 90 anos, depois de lutar contra uma pneumonia, faleceu em casa, de insuficiência respiratória, em 27 de agosto de 1999. Ele foi sepultado na Igreja da Sé, em Olinda.