Mais um trabalhador é assassinato por conflito de terras
A Comissão Pastoral da Terra denunciou quinta-feira (5) mais um assassinato de trabalhador rural no Brasil provocado por conflitos de terra. José Campos Braga, 56 anos, foi encontrado morto, no final da tarde da quarta-feira (4), na área de Fundo de Pa
Publicado 08/02/2009 20:12
O trabalhador era considerado referência na comunidade como símbolo de resistência na luta pela permanência na terra. José Campos era pai de dez filhos e resistia dentro da área, debaixo de uma lona, mesmo depois que sua casa foi derrubada em março do ano passado. O enterro deve ocorrer nesta sexta-feira.
“Acreditamos que os executores desse assassinato são os mesmos jagunços que já vinham rondando a região na tentativa de assustar os moradores e fazer com que deixassem a área. Nos parece que com esse assassinato eles querem dar um recado ao restante dos trabalhadores”, afirma a agente da CPT em Juazeiro, Marina Rocha.
A comunidade de Areia Grande denuncia que há duas semanas grileiros tentaram entrar na área. O fato foi comunicado à Polícia, mas nenhuma providência foi tomada. Desde o início dos conflitos, em março de 2008, todas as ameaças são denunciadas à polícia local. Porém, de acordo com o delegado que assumiu recentemente o cargo, não existe nenhum registro dessas ocorrências.
“A impunidade é muito grande. Nunca um pistoleiro foi preso aqui na região. Eles andam pela cidade como cidadãos comuns. Todas as agressões foram denunciadas aos órgãos públicos. Hoje a gente espera que os mesmos efetivos usados nas ordens de despejos dos moradores do local sejam utilizados nas investigações desse assassinato”, ressalta Marina.
O Ministério Público e a Ouvidoria Agrária do Estado já foram acionados para acompanhar e tomar as providências cabíveis sobre o caso. Segundo a agente da CPT, esse foi o primeiro assassinato desde o início do conflito em 2008 em Casa Nova: “A comunidade teme que essas ações gerem um clima de intranqüilidade na região. Mas os trabalhadores vão continuar denunciando para que os órgãos públicos tomem as providências necessárias para garantir a proteção da comunidade”.
A CPT acredita que o assassinato é provavelmente uma resposta dos grileiros à vitória dos trabalhadores, no final do ano passado, quando o juiz de Casa Nova acolheu a ação de desapropriação proposta pela Procuradoria Geral do Estado, suspendendo as ações que tramitavam sobre o caso na comarca de Casa Nova. As famílias das comunidades da Areia Grande comemoraram, em dezembro, o fato de não terem sido expulsas do local.
Mais de 336 famílias de quatro comunidades, do município baiano de Casa Nova, vivem tradicionalmente numa área de uso coletivo chamado de Areia Grande, que conta com mais de 13 mil cabeças de cabras e ovelhas. Os moradores vivem da apicultura, produzindo e plantando gêneros alimentícios para seu sustento e para comercialização. Este é um caso de uso sustentável da caatinga à beira do lago formado pela represa de Sobradinho.
Desde a década de 80, os agricultores familiares sofrem ação truculenta e violenta de grileiros, com a conivência do poder público local. O conflito estourou em março de 2008, quando efetivos da Polícia Militar, agentes da Polícia Civil, e a Polícia da Caatinga, sob supervisão de um Oficial de Justiça, entraram na área tentando expulsar, de modo brutal, as famílias. Destruíram casas, inúmeros chiqueiros e currais, roçados, milhares de metros de cercados, e exigiram a imediata retirada de cerca de três mil caixas de colméias de abelhas instaladas no local há mais de cinco anos pelos apicultores das comunidades.