O assanhamento da extrema-direita na Itália

A posição insistente da Itália em ter de volta o refugiado Cesare Battisti é um bom exemplo do caminho político que o país segue. Na verdade, querem sua cabeça para a alegria da extrema-direita, que hoje parece comandar a Itália. É a mesma direita – di

Após renunciar a luta armada, Cesare Battisti fugiu para a França, onde viveu até 2004, para depois vir para o Brasil. Mesmo assim, a justiça italiana fez o seu julgamento à revelia e o condenou a prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas quando integrava o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). De forma soberana, o Brasil concedeu refúgio para Battisti. Foi o sinal para a direita italiana acusar o país de proteger terroristas. O governo italiano chegou a convocar seu embaixador e sua imprensa também passou a denegrir a imagem do Brasil. Infelizmente, a grande mídia tupiniquim fez eco com os italianos e chutou para a lata de lixo nossa soberania.



A chegada de Berlusconi ao cargo de primeiro-ministro na Itália foi também a vitória de partidos racistas, saudosos dos tempos de Benito Mussolini, com destaque a Liga do Norte e a Aliança Nacional. Sílvio Berlusconi substituiu  dois anos de governo de centro-esquerda de Romano Prodi (2006-2008) já com uma campanha fortemente influenciada pela ameaça do imigrante à segurança pessoal, social e econômica do italiano.



Ódio aos imigrantes



O ministro do Interior italiano, Roberto Maroni – o mesmo que tem criticado o Brasil pelo refúgio concedido – tem incitado o ódio dos italianos contra os imigrantes. Recentemente ele afirmou que “para lutar contra a imigração ilegal não é preciso ser bondoso mas mau, determinado, para afirmar o rigor da lei”. As palavras vieram um dia depois de um imigrante indiano, sem abrigo, ter sido atacado e incendiado por três jovens numa estação perto de Roma.



Maroni é membro da Liga do Norte, o partido xenófobo de Umberto Bossi que é aliado com o Povo da Liberdade, do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.



A xenofobia na Itália ganhou mais um capítulo neste mês. Um projeto enviado por Berlusconi e impulsionado pela Liga do Norte prevê que médicos e enfermeiros poderão denunciar os imigrantes ilegais atendidos na rede pública de saúde. A nova Lei de Segurança na Itália já foi aprovada no senado e seguirá para a Câmara.



A emenda, que agrada em cheio os racistas, aumentará ainda mais o clima de medo e desconfiança em que vivem os imigrantes.



Direitos



Outro caso que demonstra a política direitista de Berlusconi e seus aliados é o de Eluana Englaro, de 37 anos. Em coma desde 1992, em razão de um acidente de carro, seu pai ganhou na justiça o direito de praticar a eutanásia, uma batalha que corria desde 1999. Segundo ele, pouco antes do acidente, Eluana disse que se vivesse de forma vegetativa, preferia morrer.



Apesar de ser uma decisão da justiça, Silvio Berlusconi redigiu um decreto para impedir a eutanásia, porém negado pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano. Não satisfeito, o premiê da Itália decidiu mandar um projeto de lei para o senado, de forma a barrar a morte assistida da italiana.



Neste caso, Berlusconi e seus comparsas da extrema-direita estão de mãos dadas com a Igreja Católica Romana. Para o Papa Bento XVI, há a necessidade de se preservar a vida “mesmo quando há sofrimento”. O pai de Eluana respondeu que a instituição não deveria buscar impor suas crenças e seus valores que derivam da fé a toda a comunidade, que é formada por fiéis de diferentes religiões e por ateus.



OBS: Nesta tarde, dia 9, Eluana veio a falecer.

*jornalista do PCdoB/RJ