Arcebispo acha estupro menos grave e não excomunga padastro
Em uma atitude que deve pautar os debates deste 8 de Março, Dia Internacional dos Direitos da Mulher, o arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, defendeu nesta sexta-feira (6) a excomunhão da mãe que permitiu o aborto na filha de 9 anos, mas
Publicado 06/03/2009 19:53
Grávida de gêmeos, depois de estuprada pelo padrasto em Alagoinha, Pernambuco, a menina foi submetida a aborto na última quarta-feira. Por ser contra o aborto em qualquer circunstância, o arcebispo excomungou os médicos que participaram do procedimento e também a mãe.
''Lei humana não tem nenhum valor''
Para o religioso de 76 anos, Jailton José da Silva, o padrasto da menina, que confessou o crime, foi indiciado por estupro e está preso, não está incluído na excomunhão.
''Ele cometeu um crime hediondo, mas não está incluido na excomunhão. Existem tantos outros pecados graves. Mais grave do que isso, é o aborto, eliminar uma vida inocente'', afirmou o arcebispo.
Em outra declaração, dom José chegou aos limites da pregação da desobediência à lei: ''A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor'', argumentou o arcebispo.
Perguntado se todas as mulheres que fizeram aborto após serem violentadas foram excomungadas, Dom Antonio Muniz, da regional Nordeste da CNBB, afirmou que cada caso é um caso e ''continua sendo analisado como tal''. Conforme dados da Federação Internacional de Planejamento Familiar, ocorrem anualmente no Brasil cerca de 1 milhão de abortos clandestinos; e entre 180 e 360 brasileiras morrem a cada ano em consequência dessas intervenções.
Solidariedade aos médicos
A equipe médica que fez o aborto recebeu mais de 500 mensagens de apoio de médicos e especialistas, que afirmaram que a decisão foi correta. A menina deixou nesta sexta-feira o hospital e se recupera bem. Junto com a mãe, ela foi encaminhada a um abrigo e não deve voltar a viver em Alagoinha, onde morava com a família e o padrasto.
A notícia da excomunhão dos envolvidos no aborto correu o mundo e foi comentada pela imprensa de diversos países.
No site da rede britânica BBC, a noticia foi a mais lida durante a quinta-feira. A rede Foxnews noticiou a excomunhão, citando a entrevista do arcebispo à TV Globo, e lembrando dos casos em que o aborto é permitido no Brasil. O espanhol El Pais ressaltou que no Brasil os assuntos de Estado não costumam se misturar com os de igreja. Em sua página, o New York Times citou que o aborto legal foi realizado a despeito da oposição da igreja.
A decisão do bispo pernambucano foi noticiada até no Karachi News, do Paquistão, país de maioria muçulmana onde o aborto è proibido exceto em casos de estupro, saúde física ou mental da mãe (portanto, mais avançado que no Brasil, onde a última exceção não é considerada). Em todos os países desenvolvidos a lei ''dos homens'' admite a interrupção voluntária da gravidez, mesmo contrariando a lei atribuida a Deus por dom José Cardoso Sobrinho.
Da redação, com agências
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