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Zé Celso comemora sete DVDs que misturam teatro e cinema

Zé Celso Martinez Corrêa, o criador do Teatro Oficina, anda mais tecnológico que nunca. Fala em ações multimídia, acha que a internet vai revolucionar a cultura e está com coceira nos dedos para começar um blog. É que Zé Celso sabe que, não fosse a tecnol

“Eu adoro multidão, adoro público. Quer coisa melhor que poder lançar estes DVDs como se lançasse um foguete?”. O diretor, sempre teatral, comemora o lançamento da caixa Festival de Teat(r)o Oficina com o entusiasmo de quem, de alguma maneira, volta às próprias origens.


 


“O meu primeiro encantamento foi o cinema. Tanto que comecei no teatro filmando em Super-8. Nós filmamos O Rei da Vela, em 1967, com a presença do público, no Teatro João Caetano. E o filme foi proibido pela ditadura. O Oficina sempre caminhou ao lado do audiovisual.”


 


Mistura de teatro e cinema


 


Talvez esteja aí uma das chaves para a compreensão da riqueza dos sete DVDs lançados nesta semana. Os filmes reúnem quatro peças, Boca de Ouro (Nelson Rodrigues), Cacilda! (Zé Celso), Bacantes (Eurípedes) e Ham-Let (William Shakespeare), sob a direção cinematográfica de Tadeu Jungle e Elaine Cesar.


 


Esqueça, porém, a ideia do teatro filmado. O que se vê nesse trabalho que levou sete anos para ficar pronto – em parte por causa das dificuldades nas negociações dos direitos autorais das músicas – é uma autêntica interseção entre cinema e teatro, entre público e câmera.


 


A improvável arquitetura do Oficina, desenhada por Lina Bo Bardi (1914-1992), contribui para a fluidez das imagens. As câmeras espalhadas pelo teatro em forma de arena puderam acompanhar as encenações como se fossem, de fato, os olhos do espectador, que busca ora a expressão de um ator, ora o todo, ora as estruturas de ferro que sustentam o teatro.


 


Descobrir o Teatro Oficina


 


Para quem, seja por desinteresse, seja por receio, seja por impossibilidade geográfica, nunca viu o Oficina, os DVDs surgem, de fato, como uma possibilidade de conhecer um dos mais lendários e longevos grupos do país. Criado em 1958, o Oficina atravessou o tempo com a alegria e a energia de quem sabe se reinventar.


 


Há as loucuras de Zé Celso, os excessos, as orgias, as polêmicas que se repetem e a eterna luta “imobiliária” com o Grupo Silvio Santos, vizinho do Oficina. Mas quem, no Brasil, pode dizer que vive há 50 anos de teatro? De um teatro que sempre buscou ser autêntico e nunca temeu a contramão? Quase ninguém. “A cultura tem mil impedimentos, mas é sempre vitoriosa. Tarda, mas não falta”, aposta Zé Celso.


 


Além de lançar os DVDs, o grupo, para celebrar os 50 anos de vida, vai reencenar, a partir de 29 de março, em Araraquara, As Bacantes, peça que, com seus jogos dionisíacos e sua orgia, resume o espírito que move Zé Celso e sua trupe.