Batalha do Jenipapo completa 186 anos buscando reconhecimento

Um dos conflitos mais importantes na luta pela independência do país ainda é pouco conhecido, apesar dos quase dois séculos. No mundo considerado pós-moderno, a luta tem armas e motivos distintos: argumentação e reconhecimento histórico.

Um dos conflitos mais importantes na luta pela independência do país ainda é pouco conhecido, apesar dos quase dois séculos. No mundo considerado pós-moderno, a luta tem armas e motivos distintos: argumentação e reconhecimento histórico.

 

Há exatos 186 anos, o riacho Jenipapo, na cidade de Campo Maior, era palco de uma batalha desigual, porém decisiva para o fim do colonialismo brasileiro em relação a Portugal. Homens e mulheres, com sede de liberdade, foram à luta armados de facões enferrujados, velhas espingardas, pedras e água quente. Contra a população enfurecida e primitivamente preparada, as tropas do Major João José da Cunha Fidié, homem de confiança da Coroa portuguesa. A máxima ‘perderam a batalha, mas ganharam a guerra’ resume bem o resultado final do confronto. A Batalha do Jenipapo foi um dos mais marcantes e sangrentos conflitos pela independência do Brasil, mas, apesar de seus quase dois séculos, o desconhecimento do heroísmo daqueles piauienses, até mesmo por seus conterrâneos, ainda é um combate a ser vencido.

 

A Revolução

 

Quando D.João VI retornou a Portugal em 1821, o clima no Brasil era de luta pela Independência. Por toda a colônia, clamores de um povo cansado dos abusos e desmandos da então metrópole. Temendo perder o controle do rico rebanho bovino do norte brasileiro (Piauí, Maranhão e Ceará), o rei enviou o Major Fidié, em 1822, para Oeiras, na época capital piauiense, nomeando-o ao comando das armas.

 

Ainda naquele ano, o príncipe regente D.Pedro cede às pressões e proclama a Independência do Brasil. O Piauí manifesta seu apoio ao príncipe e o aclama Imperador, considerando-se também independente no dia 19 de outubro.

 

Em 24 de janeiro de 1823, Oeiras se levanta e Manuel de Sousa Martins assume a presidência da Junta do Governo do Piauí. Fidié, que tinha ido a Parnaíba sufocar o primeiro levante de libertação, recebe a notícia da revolta na Capital e segue para lá com mais de mil homens sob seu comando. A ordem era suprimir de vez o crescente desejo de independência. No caminho, a informação de que as forças separatistas nacionais estão concentradas em Campo Maior fazem o Major alterar a rota. Enquanto isso, cerca de mil piauienses sem instrução militar se juntavam a centenas de cearenses e maranhenses mal armados, dispostos a lutarem até o fim para se livrarem do domínio português.

 

O encontro das tropas aconteceu no dia 13 de março. Em um combate que durou mais de mais cinco horas, as perdas foram expressivas para os dois lados. Apesar da vitória aparente do exército português, os homens estavam debilitados e sem mantimentos. Abrigado em Caxias-Maranhão depois da batalha, Fidié foi cercado por revoltosos remanescentes e obrigado a se render meses depois.

 

As comemorações

 

O espírito de bravura dos sertanejos garantiu a unidade brasileira, mas não rendeu muitas honras. A Batalha do Jenipapo não consta nos livros de História e é, portanto, desconhecida da maioria dos brasileiros.

 

No local do conflito, foi erguido o Monumento aos Heróis do Jenipapo. Desde 1975, o memorial conta a história da Batalha a visitantes, na tentativa de resgatar a importância desse movimento. Todos os anos, nos 13 de março, que ficou conhecido como o dia da Batalha do Jenipapo, autoridades se reúnem em solenidade no monumento para entrega de comendas. Na ocasião, atores tomam o lugar daqueles que mesmo diante da derrota iminente não deixaram de defender uma causa. A encenação da Batalha é um dos momentos mais aguardados das comemorações por reproduzir, com a licença dramática, o que não foi possível presenciar.

 

Buscando o reconhecimento dos nossos heróis, a Assembléia Legislativa do Piauí aprovou por unanimidade, em 2005, a inclusão da data da Batalha na bandeira do Estado, atendendo a propostas e pedidos de historiadores.

 

O conhecido autor de livros didáticos e historiador, Cláudio Vicentino, está em Teresina para participar de debates sobre a Batalha e alerta que ''existem inúmeras Batalhas do Jenipapo no Brasil. A maneira como os fatos são contados é alterada de acordo com os interesses locais, principalmente o das elites'', Cláudio reconhece que não sabia da grandeza desse confronto e aprova as discussões e o empenho para torná-lo conhecido. ''Com o reconhecimento da Batalha, vai haver uma maior divulgação da História do Piauí, repercutindo inclusive nos livros didáticos'', afirma.

 

Na manhã de ontem, os senadores piauienses e o governador Wellington Dias defenderam no Senado a inclusão do dia 13 de março no calendário nacional. Em sessão solene, os representantes do Estado pediram pela justa homenagem aos bravos guerreiros da Independência.

 

Aos poucos, o merecido prestígio aparece, a passos mínimos. Em 186 anos, surgiram outras batalhas, morreram outros heróis e o povo busca outras independências. Mas esses outros que surgiram depois, encontraram um Brasil menos dependente da metrópole portuguesa, graças aos esforços dos que primeiro levantaram: os piauienses.