Reunião do G-20 cria expectativa no mundo
Na quinta-feira, 2 de abril, o mundo da economia c]voltará suas atenção pata Londres, onde estará reunido o G-20, grupo dos países desenvolvidos e “emergentes” responsáveis por 85% do PIB global. Em matéria na revista IstoÉ, o jornalista Octáv
Publicado 23/03/2009 14:24
Para o Brasil, o FMI prevê uma forte desaceleração por causa, principalmente, da redução do crédito — uma tecla sobre a qual o presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva tem batido com insistência. No encontro com investidores estrangeiros dia 19em Nova York ele afirmou que “as prioridades para o encontro do G-20 são a garantia de crédito para os países em desenvolvimento, a estatização dos grandes bancos em dificuldade, a regulamentação financeira e a fiscalização dos paraísos fiscais”.
Uma indicação de que esta será a essência da reunião do G-20 é a reunião preparatória da cúpula de 2 de abril, que reuniu ministros das finanças e governadores de bancos centrais do grupo. Tendo havido consenso quanto à necessidade de reforço dos fundos do FMI, ajuda às economias “emergentes”, incentivos a políticas monetárias expansionistas, mesmo por vias menos ortodoxas, e dando prioridade aos estímulos à demanda e ao emprego para promover o crescimento e manter o comércio livre, os previsíveis pontos de fricção entre os EUA e a Europa não deixaram de surgir.
Opinião de Armínio Fraga
Os EUA defendiam um compromisso firme sobre o reforço dos pacotes de estímulos, matéria na qual a declaração final é suficientemente ampla para se perceber que o consenso não foi possível. A Europa favorecia a regulação sobre bancos e instrumentos financeiros, mas os EUA tinham uma visão diferente da regulação de alguns instrumentos em particular. “Esta será, sem dúvida, a agenda de Londres. Tanto assim que a direção do FMI decidiu se antecipar e nesta terça-feira 24 anunciará uma ampla revisão de sua sistemática de empréstimos. Trata-se de um novo modelo de financiamento e de uma nova filosofia. Não faltam aos ilustres e poderosos participantes do G-20 diagnósticos sobre a crise”, escreve Octávio Costa.
A matéria da IstoÉ cita a opinião de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, para quem “a criatividade na engenharia de novos produtos financeiros passou dos limites”. O Prêmio Nobel Paul Krugman faz coro. “A expansão do sistema bancário paralelo, sem nenhum aumento de regulamentação, armou o palco para novas modalidades de corridas bancárias em escala maciça”, relata Octávio Costa. “É enorme, portanto, a pressão por regras mais rígidas e mais seguras, que ponham termo definitivo às manobras irresponsáveis do mercado financeiro”, diz ele.
Medidas drásticas
O jornalista lembra que o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ficou profundamente irritado ao saber da distribuição de bônus, no valor de US$ 165 milhões, aos executivos da seguradora AIG, que havia recebido US$ 173 bilhões de socorro do governo norte-americano. Em resposta, o Senado elevou em 90% a taxação sobre esse tipo de bônus. “O fato, porém, veio mostrar que a cultura dos executivos financeiros não se abalou, apesar da crise”, diz ele.
Segundo a matéria, esse é mais um motivo para que o G-20 adote medidas drásticas para rearrumar a casa. Alerta-se que o mais importante, agora, é restabelecer os fluxos de crédito. “Devem ser adotadas novas regras prudenciais, mas como exigir mais cautela dos bancos se eles já não estão emprestando?”, questiona o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central. “Importante, agora, é dinheiro, é resolver a crise de liquidez. E nesse caso o papel do FMI é fundamental”, afirma Armínio Fraga.
Octávio Costa cita ainda Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do FMI, representante do Brasil e mais oito países da América Latina, que também defende que a nova regulamentação do setor financeiro. Mas ele explica que existe um acordo entre os membro do Fundo de “não tentar impor novas regras agora no meio da crise”. O que será discutido em Londres, segundo ele, é o fortalecimento do FMI, por meio de sua democratização.
Focos nos EUA e na Europa
Segundo a matéria, o objetivo é aumentar de forma significativa os recursos do FMI, mas ao mesmo tempo redefinir as quotas e os votos. “A Europa está super-representada no FMI e os países em desenvolvimento estão sub-representados. O mundo mudou muito desde Breton Woods, em 1945″, diz Nogueira Batista Jr, referindo-se ao acordo mundial do pós-guerra que impôs limites ao capital especulativo. Ele destaca também que o monitoramento (surveillance) do FMI não conseguiu detectar a crise, lembra o jornalista.
Para ele, o motivo é que as crises costumavam ocorrer na periferia dos países desenvolvidos, mas agora tem os principais focos nos EUA e na Europa, que sofrem menor vigilância. “Os novos clientes do FMI são brancos. A área mais conflagrada, desta vez, não é a América Latina, nem a Ásia, nem a África, mas a periferia europeia, como a Lituânia, a Bielorrússia, a Sérvia e a Ucrânia”, afirma Nogueira Batista Jr na matéria. “Após lembrar que a Islândia e a Hungria também pediram recursos ao FMI, ele ressalta que é tempo de a estrutura do FMI refletir essa nova realidade, em termos de quotas e votos dos países emergentes, cita o texto.
Octávio Costa diz ainda que a Europa, porém, resiste por temer pagar a conta da crise. “A tensão social aumenta, sobretudo, na Alemanha e na França”, afirma. Quanto à reestruturação do sistema financeiro, Nogueira Batista diz que é um processo em discussão que tem a ver com o pós-crise. “Procura-se saber hoje como será a configuração do sistema financeiro quando a tempestade passar. Haverá, sem dúvida, maior rigor”, afrima. A matéria lembra que o que existe de mais concreto sobre o tema é o relatório do Grupo dos 30, organização privada que reúne economistas e ex-ministros de Finanças de várias partes do mundo.
Idéias circulando
O grupo é presidido por Paulo Volker, assessor econômico de Barack Obama, e tem como vice-presidente o brasileiro Armínio Fraga. O texto da IstoÉ cita que entre as propostas destacam- se a regulação mais rígida dos hedge funds e dos derivativos, a adoção de novos limites de risco de crédito e a subordinação das instituições não bancárias aos bancos centrais. Na opinião de Krugman, que faz parte do grupo, “qualquer coisa que necessite de socorro durante a crise financeira, por desempenhar papel essencial no sistema financeiro, deve ser submetida à regulamentação, quando a crise tiver sido superada”, afirma.
Octávio Costa ressalta que as ideias já estão circulando, mas enfrentam forte resistência dos Estados Unidos e da Inglaterra, que não se dispõem a abrir mão da soberania nacional, além de temer o que chamam de “overregulation”. Afinado com essa última preocupação, o economista Roberto Teixeira da Costa adverte que “é preciso evitar que se passe ao outro extremo de regras que acabe por engessar os mercados”.
Nogueira Batista discorda frontalmente. “Estados Unidos e Inglaterra acreditam no laissez faire e querem preservar a liberdade, a iniciativa e a criatividade do mercado. Mas todos nós estamos pagando um preço alto demais por esses princípios”, diz. A discussão vai longe e certamente servirá de pano de fundo ao encontro do G-20. “Os novos clientes do FMI são brancos. A área mais conflagrada, desta vez, é a periferia europeia”, afirma, segundo a matéria de Octávio Costa.
Com informações da revista IstoÉ