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Brasil e UE querem aproximação com Cuba, de formas distintas 

A União Europeia (UE) e o Brasil defenderam, nesta segunda-feira, uma política de aproximação com Cuba, deixando claro que têm diferentes enfoques sobre isso, com mais pré-condições do lado europeu e mais flexibilidade do lado do gigante sul-americano.

Após se reunir com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, a comissária europeia de Relações Exteriores, Benita Ferrero Waldner, indicou que tanto ela quanto seu colega de Desenvolvimento, Louis Michel, são ''muito a favor de um compromisso'' com Cuba, embora tenha insistido na necessidade de novos ''passos'' do governo de Havana para ''mais democracia''.

''A visita do comissário Michel a Cuba (quarta e quinta-feira passadas) foi muito importante. Demonstrou que nós, sim, queremos assumir um compromisso com Cuba. Estamos dando continuidade a nosso programa de cooperação'', disse Benita Ferrero Waldner.

''Queremos também ver alguns passos de Cuba agora rumo a mais democracia, mais Estado de direito'', frisou, por outro lado, referindo-se aos requerimentos para uma normalização completa das relações bilaterais.

Por sua vez, o chanceler Amorim reiterou a posição brasileira de ''cooperação'' e ''compromisso'' com o regime de Havana para fomentar mudanças democráticas, mediante uma aposta que não inclui nenhuma pré-condição.

''O Brasil tem uma posição muito clara de cooperação, de compromisso, e além disso esperamos que venha com uma evolução normal. Fazemos uma espécie de aposta de que as coisas vão evoluir de uma forma positiva, mas não criamos nenhuma pré-condição'', disse Amorim.

Durante a visita de Louis Michel, a UE e o governo cubano fixaram um novo diálogo político para maio, e se anteciparam em forma de cooperação, que já passam de 40 milhões de euros para projetos com a ilha, sobretudo em termos de alimentos e agricultura.

Em 2003, Cuba recusou ajuda da UE, quando o bloco lhe impôs sanções pela condenação de 75 opositores. A Espanha adotou medidas, mas as suspendeu provisoriamente em 2005 e definitivamente, em junho passado, reabrindo as possibilidades de diálogo.

O governo brasileiro, por sua vez, foi um dos promotores da entrada de Cuba no fórum latino-americano do Grupo do Rio, que aconteceu durante uma cúpula regional celebrada em dezembro passado no Brasil.

Em suas declarações à imprensa, Ferrero Waldner classificou esta admissão como ''uma etapa muito construtiva''.

Cuba: elogios ao Brasil e aposta na América Latina.

O  diretor de América Latina e Caribe do Ministério de Relações Exteriores de Cuba, Rogelio Sierra Díaz, declarou que a vontade política dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Raúl Castro é responsável pelo alto nível das relações bilaterais e o fortalecimento das relações de Cuba com a América Latina.

Em novembro, além de participar do Grupo do Rio, Cuba também esteve presente naprimeira Cúpula América Latina e Caribe (CALC). Na ocasião, Raúl Castro foi enfático ao destacar que Cuba não reivindica nem espera mudanças na Organização dos Estados Americanos (OEA), de onde foi expulsa em 1962.

O comércio entre Brasil e Cuba passou de US$ 200 milhões para US$ 500 milhões desde 2003 e é favorável aos brasileiros em US$ 100 milhões. A aproximação permitiu, por exemplo, que o Centro de Engenharia Genética de Cuba firmasse parceria com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), no desenvolvimento de vacinas contra epidemias comuns na África.

Cuba também enxerga no Brasil ''um líder mundial na luta contra o embargo norte-americano à ilha''. Sierra Diaz destaca a postura do ministro Celso Amorim para quem “o Brasil quer ser o primeiro sócio de Cuba e não apenas no comércio”.

Para Rogelio Díaz, “a CALC é um espaço que deve ser fortalecido e que tem o respaldo de toda a região. Trata-se de um mecanismo autônomo sem a ingerência de nações extracontinentais”.

Cuba mantinha relações com 30 das 32 nações latino-americanas, até a semana passada, quando a Costa Rica declarou que pretende reatar os laços com a ilha e o presidente eleito de El Salvador, Mauricio Funes, antecipou sua intenção de também se reaproximar da ilha. A América Latina e o Caribe respondem por 40% de todo o comércio exterior de Cuba.

Em 2005, o país recebeu 25 chefes de Estado dessa região. Em 2007, foram 21 e no ano passado, 31. No mês de dezembro, foi realizada em Santiago de Cuba, a Cúpula Cuba-Caricom que recebeu 14 presidentes.

“São expressões de que os tempos são outros, os anos 70 ficaram para trás. Esse fluxo torna sem efeito a norma da OEA, que também é a expressão de uma política absurda e anacrônica dos Estados Unidos de impor o isolamento de Cuba. Quem está isolado na América Latina são os Estados Unidos”, afirmou Díaz.

O diplomata destacou que os latino-americanos há muito não respeitam as normas impostas por Washington. Na sua avaliação, “manter relações com Cuba é fortalecer a integração regional e a independência frente aos Estados Unidos”.

De acordo com o embaixador brasileiro em Havana, Bernardo Pericás, “a CALC formalizou a reinserção de Cuba na América Latina e o Brasil jogou um papel importante nesse contexto”.

Para o embaixador brasileiro, “Cuba sempre foi muito correta em suas relações com a América Latina e hoje apenas colhe os frutos de uma política externa séria e competente”.

Fonte: France Press e Inforel