Antonio Neto: os descaminhos da mídia colonizada
“Indústria desaba. Consumo cai e já se teme 2009 com recessão”. “Queda do PIB no Brasil é uma das piores do mundo”. As manchetes poderiam se enquadrar, como faca na manteiga, à atual situação da economia norte-americana ou de outros de países desenvolv
Publicado 02/04/2009 19:14
No entanto, elas foram exibidas, no dia 11 de março, pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo, numa alusão às consequências da crise mundial em nossa economia. Bastou que o IBGE divulgasse uma queda de 3,6% no crescimento nacional no último trimestre de 2008 para que os jornalões apostassem pesado no aprofundamento da crise.
O jornal paulista simplesmente omitiu um dado que considerou irrelevante no atual cenário econômico: o fato do PIB brasileiro em 2008 ter apresentado o segundo maior crescimento mundial, o que equivale dizer que outras manchetes seriam possíveis e bastante razoáveis, desde que se respeitasse o princípio fundamental da isenção e da ética de um jornalismo minimamente sério.
“Apesar da recessão global, PIB cresce” seria uma manchete honesta, longe da pequenez política de uma mídia colonizada que tenta projetar no Brasil e em outros países emergentes o colapso em que mergulhou as economias centrais que eles tanto bajulam.
O que vemos nessas manchetes que ignoram a realidade não é exatamente uma incompetência técnica de compreensão dos fatos — e sim uma tentativa despudorada de submeter o eleitor ou o telespectador à desinformação, ao fatalismo e, principalmente, à erosão da popularidade do governo Lula. Nada mais.
Manipulam grosseiramente dados econômicos objetivos sobre os quais não cabem subjetivismos. Podem merecer, sim, análises sobre cenários futuros, mas não a distorção dos fatos e da própria realidade. No fundo, apostam na crise pois sabem que há, por conta da elevada popularidade do presidente Lula e de diversos acertos nas políticas de seu governo, uma grande chance do país, após as eleições de 2010, continuar sendo governado pelas forças que dão sustentação política e parlamentar à atual administração.
É a mesma mídia que ainda não se conformou com as duas eleições consecutivas de Lula, pois foi com ele, principalmente em seu segundo mandato, que o Estado, numa aliança com os trabalhadores e os setores produtivos da economia nacional, reassumiu o comando do desenvolvimento do país, depois duas décadas de devastação neoliberal, agravada nos dois mandatos de FHC.
Não aceitam que o Brasil, como diversos outros países da América Latina que se livraram democraticamente do neoliberalismo, ao fortalecer o papel do Estado como força indutora do desenvolvimento nacional e de regulação das políticas públicas, tornou-se muito mais capaz de enfrentar as crises que tentam nos importar. Em que pese a forte e crescente sangria externa, via grandes monopólios, o país está muito mais preparado para enfrentar a crise e manter ou mesmo aprofundar seu ritmo de crescimento.
Recentemente, o governo deu mais uma demonstração de compromisso real com o combate à crise ao lançar o programa Minha Casa, Minha Vida, um projeto que prevê a construção de um milhão de moradias para famílias com renda até três salários mínimos, sinalizando que continuará enfrentando os maus ventos que vêm de fora com políticas públicas de incentivo ao setor produtivo e a geração de empregos para os trabalhadores.
Trata-se de uma postura inteiramente oposta aos grandes monopólios, nacionais e internacionais, que buscam, a todo custo, passar aos trabalhadores, com o desemprego, aos consumidores, com os super-preços, e ao povo em geral, com a especulação, os custos dos seus descaminhos na voragem financeira. Estão aí os exemplos dos bancos e monopólios externos a confirmar o que estamos dizendo.
Estão aí a Vale do Rio Doce e a Embraer, privatizadas na bacia das almas do governo FHC, que se utilizam da crise para sacrificar os trabalhadores, revelando uma ausência total de compromisso com o mercado interno e o interesse nacional e reforçando a consciência de que o nosso desenvolvimento sustentável é incompatível com a existência de monopólios privados cuja nacionalização entrou na ordem do dia. Afinal, até na Meca do capitalismo, os Estados Unidos, Obama está estatizando bancos.
Voltando à mídia, convencemo-nos, diante daquelas manchetes, que ela adotou um jornalismo de campanha, já que a realidade, hoje, diferentemente do início da década de 90, conspira abertamente contra suas teses de “estado mínimo”, “fim da história” e “endeusamento do mercado”. Pois bem! Há 20 atrás, entregaram ao Deus mercado a solução e a regulação de tudo e de todos e deu no que deu!
Bem, mas seria muito pedir a eles uma autocrítica ou, ao menos, uma simples análise crítica. Eles preferem o caminho da manipulação e da distorção, numa tentativa desesperada de ocultar a verdade e a própria realidade, projetando, como sempre, nos outros, a sua submissão política aos interesses dos cartéis e monopólios e sua podridão ideológica.
Felizmente, como as últimas eleições demonstraram, o povo está muito mais maduro, consciente e preparado para evitar novos retrocessos e se manter no caminho da construção de uma nação verdadeiramente independente e soberana.
* Antonio Neto é presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB)