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Livro aborda famílias separadas na ditadura argentina

O livro 'De volta para casa', da jornalista argentina Analía Argento conta, por meio de dez  testemunhos,  a história de filhos e netos, argentinos e uruguaios, sequestrados durante a última ditadura militar. Eles tiveram a identidade restitu

''Eles êm pouco mais de trinta anos e já viveram pelo menos duas vidas. Nasceram durante a ditadura e em um só golpe tiveram os pais e a identidade tirados''. É o que se lê na contracapa do livro, lançado ano passado. Essas crianças ''cresceram pensando ser quem não eram, chamando de papai e mamãe – a maioria – aos inimigos de seus verdadeiros pais''.

Poucos casos de reconciliação

O encontro de Analía Argento com a reportagem da Rádio Nederland ocorreu em Buenos Aires e coincide com outras entrevistas sobre o tema da reconciliação, que a emissora internacional da Holanda incluiu em suas séries radiofônicas para esse ano.

''Talvez haja poucos casos de reconciliação. E há muitos que convivem com contradições internas, assinala à Rádio Nederland a autora do livro. Ela se refere àqueles que ''gostam das famílias que os criaram, mas que querem ser filhos dos verdadeiros pais e que vivem esses sentimentos contraditórios e que, às vezes, sofrem por gostarem das pessoas que os criaram.
Sentem essa contradição como uma dor muito profunda''.

''Eu sentia, como jornalista e como argentina, que todos sabemos aqui e no mundo quem são as Avós da Praça de Maio. Mas sentia que não nos interessávamos em conhecer profundamente o efeito que causou o roubo de bebês e a subtração de suas identidades durante a última ditadura'', comenta Analía.

Nova vida

‘De volta para casa' descreve como essas crianças descobriram a verdade. ''Alguns a buscaram, a outros foi imposta, outros a encontraram por acaso. E voltaram a nascer. Têm uma nova identidade, um novo documento e uma nova família'', tal como relata o livro.

Essas crianças, hoje mulheres e homens adultos, contam, finalmente, suas vidas em primeira pessoa. Em muitos casos, pela primeira vez fazem isso em público. E graças à seriedade e ao respeito, manifestados pela escritora durante a pesquisa, alguns dos netos restituídos se animaram a relatar suas histórias completas, não só o ''final feliz'' da restituição.

O caso de Carlos

Analía Argento cita como exemplo o caso de Carlos, a quem acompanhou ao Poço de Banfield, um centro clandestino de detenção que funcionou durante a última ditadura em Lomas de Zamora. ''São celas como as de tortura. Quando alguém vê no cinema que castigavam as pessoas e as fechavam sem luz, assim estavam'', descreve a jornalista.

A autora do livro recorda que viu Carlos entrar na cela onde sua mãe esteve, ''um espaço de um metro e meio, e ficou lá para sentir o que sua mãe havia sentido''… Analía disse que, naquela noite, chegou em casa tremendo. ''Tomei banho quente, mas o frio não saía do corpo; deitei e coloquei três cobertas e acordei a noite inteira com pesadelos e o frio do meu corpo não foi embora''.

O lado obscuro

O roubo de bebês e crianças e a subtração da identidade foi um dos maiores delitos cometidos durante a última ditadura militar na Argentina. Calcula-se que ainda hoje mais de 400 daqueles bebês e crianças continuam desaparecidas, criadas por famílias que não são as suas. Seus familiares e as Avós da Praça de Maio continuam procurando por elas.

Fonte: www.parceria.nl