Mais de duas mil pessoas ocupam terreno em BH

Belo Horizonte vive uma experiência inusitada nos últimos dias. Na madrugada da última quinta-feira (09) aconteceu a primeira ocupação urbana na cidade realizada por meio da junção de atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana. Trata-se de uma ação&

A ocupação começou com cerca de 150 famílias, mas no outro dia já contava com 550 barracos cadastrados e numerados. Em alguns é possível encontrar famílias com dez ou quinze pessoas, dentre adultos, jovens e crianças.


 


O terreno está abandonado desde a década de 70, além de acumular dívidas de impostos na casa de 18 milhões de reais. Batizada de “Dandara”, em homenagem a companheira de Zumbi dos Palmares, a ação faz parte do Abril Vermelho, em que se reforçam as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os movimentos.


 


A proposta dos organizadores é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar  subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.


 


Tensão
No final do primeiro dia de ocupação, a Polícia Militar tentou realizar o despejo das famílias, mesmo sem a liminar de reintegração de posse. Ela agia a mando da Construtora Modelo, que alega ser proprietária do terreno. Foram três horas de terror, com a investida de mais de 150 homens do batalhão de choque, que explodiram bombas, lançaram gás pimenta e destruíram dezenas de barracos com vôos rasantes de helicóptero.


 


A comunidade, em apoio aos manifestantes, resolveu intervir, atirando pedras e enfrentando fisicamente a polícia, o que resultou em vários feridos e três presos.
A polícia tem aproveitado o enorme efetivo deslocado para o local para enfrentar o tráfico de drogas da região, unificando o tratamento dado aos bandidos aos lutadores do povo que reivindicam moradia. Também tem atuado de forma arbitrária ao confinar os barracos em uma área restrita dentro do terreno, onde já não cabem mais pessoas, e proibindo a instalação de tendas de reuniões, banheiros e acesso a água e energia.


 


Há intimidações da Construtora Modelo, que através de sua advogada pressionou a retirada das famílias ameaçando do uso de seu poder econômico e de relações escusas com o judiciário. Segundo a advogada, seu marido seria desembargador do TJMG. Mesmo assim o pedido de liminar foi negado pelo plantão do tribunal, o que demonstra a inconsistência dos argumentos da construtora.


 


Informações: Sistema Caracol de Comunicação


Foto: Bruno Figueiredo, jornal O Tempo