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Tarso diz que pensa em governo do RS e descarta presidência

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não gosta de ouvir falar que é candidato à presidência do Supremo Tribunal Federal. Quando o assunto é eleição para o governo do Rio Grande do Sul, no entanto, ele se mostra bastante entusiasmado. “Se a maioria achar

O que o senhor destacaria de melhor e de pior nos quase seis anos de governo Lula?


O melhor é participar de uma verdadeira revolução democrática no País. Todos os setores e classes sociais foram colocados no mesmo plano de diálogo com o governo e no processo de produção de políticas públicas. Estamos mudando a estrutura social do Brasil, incluindo pessoas na sociedade formal, na educação, em uma vida civil digna. O que tem de pior são os sobressaltos como ministro. Assumi vários ministérios que sofreram com contingenciamentos por causa de situações imprevistas.



Como o que está acontecendo agora por causa da crise econômica.


Sou uma pessoa muito metódica, muito organizada. Não está entre os meus defeitos ser espontâneo. Venho acompanhando o governo e sempre tenho aquele planejamento que se faz cuidadosamente com sua equipe. De repente isso desmorona e é preciso fazer um esforço enorme para negociar, para repor recursos. Isso é o que mais perturba e atrapalha o trabalho.



Às vezes o senhor entra em polêmicas, como no caso da Lei da Anistia, quando teve problemas com militares, e quando discutiu com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso das algemas usadas na prisão do empresário Daniel Dantas. O senhor se considera um provocador?


Em nenhum momento perdi minha condição de ser um homem de esquerda – e o presidente Lula nunca me pediu para renunciar às minhas posições como homem de esquerda democrática, pluralista. Não abandonei algumas utopias que vêm dessa formação libertária que está na origem da esquerda mundial e brasileira. Assumo determinados temas como posições políticas que pretendo debater fora e dentro do governo. Não acho que seja provocação. Nunca assumi nenhuma posição de desrespeito aos adversários. Nunca ofendi ou humilhei ninguém. Na questão da tortura, as pessoas condenadas pela Justiça Militar foram expostas publicamente e anistiadas depois. Todo mundo conhece o passado e o que fizeram essas pessoas. Os torturadores ninguém conhece. Eles não assumem essa identidade, muitas vezes negam que houve tortura. Acho justo que a sociedade avalie isso. Nunca propus revisar a Lei da Anistia. Sobre as algemas, acho que a súmula das algemas tem de ser respeitada. Não podemos algemar pobres e miseráveis e proteger publicamente os ricos. Que não se algeme ninguém. São questões como essa que são polêmicas, mas que não ofendem ninguém. Não me considero um provocador. Acho que tenho posições firmes – que às vezes podem até estar erradas – e sustentáveis.



Que desfecho o senhor espera para o caso Cesare Battisti?


Entendo que o Supremo vai manter meu despacho. Mudar a jurisprudência em cima de um caso concreto, sem nenhuma fundamentação diferente, seria uma mudança tão brusca e radical que seria uma ruptura com a tradição jurídica libertária desde a Constituição de 88, sob a questão dos políticos que aqui recebem acolhimento. Acho que essa discussão é importante, que as posições diferentes da minha são válidas. Decidi de acordo com as decisões anteriores do Supremo, com a tradição do direito internacional sobre essas questões e com uma visão histórica do que ocorreu naquela época. Isso nada tem a ver com um desabono à democracia italiana, muito menos aos seus juristas e magistrados.



As operações da Polícia Federal agradam à opinião pública, mas não aos políticos, empresários, analistas, advogados, que muitas vezes consideram essas operações abusivas e midiáticas. O senhor vê algum excesso que precisa ser contido?


Esse desagrado se origina de uma situação: a Polícia Federal não tem critério de classe para investigar. Ela investiga com o mesmo rigor e profundidade traficantes de drogas, pessoas que cometem delitos contra o Estado, pessoas que estimulam a corrupção, lavam dinheiro, traficam armas. Nos últimos anos, algumas investigações pegaram a elite econômica do País, que tem relações com a elite política. É uma minoria, mas que causa grande impacto. Ninguém se queixa de uma operação da PF que prende pessoas envolvidas com tráfico de drogas. Quando a operação bate no pessoal endinheirado sempre tem uma repercussão maior. Assim como não tem critério de classe, a PF não tem preconceito de classe. E essas investigações continuarão sendo feitas. Parte da imprensa trata de maneira diferente quando vê um secretário ou banqueiro americanos algemados. É uma demonstração da superioridade americana. No Brasil, é diferente. Aqui, é visto com preconceito, como se aquelas pessoas estivessem sendo presas por serem ricas.



Qual deverá ser o destino do delegado Protógenes Queiroz? Há quem diga que ele será expulso da PF, o que representaria uma vitória do crime organizado.


Quanto à primeira parte da pergunta, não tenho como afirmar. A corregedoria está fazendo os devidos inquéritos e investigações. Presumidamente, ele responderá um processo judicial. Não acompanho os detalhes porque não é minha função. Quanto à proteção do crime organizado, em absoluto. As investigações deste delegado – qualquer delegado – são sobre ilegalidades que ele cometeu na sua função. Não sobre legalidade, não quando acertou. O que é investigado é se ele andou fora de lei e por quê. Se for verificado que ele andou fora da lei, quais são as conseqüências disso para a corporação. O crime organizado só tem a perder. Ilegalidades que delegados cometem em inquéritos levam a absolvição dos bandidos e daqueles que cometem qualquer violação do Código Penal. Uma atitude vanguardista de um delegado, qualquer atitude de justiceiro que ele tome, pode resultar na nulidade do inquérito e, portanto, favorece o crime.



As eleições de 2010 serão difíceis? O lulismo é maior que o PT, é até mundial…


Depois que o Obama disse que ele é o cara. Até eu me senti lisonjeado. Afinal, o Lula é nosso presidente de honra.



Nas eleições de outubro do ano passado para prefeito vimos que a popularidade do Lula não se transfere facilmente para seus candidatos. As próximas eleições serão difíceis?


São eleições difíceis. Isso não tem a ver com a Dilma ser candidata. Qualquer um de nós teria dificuldades. Não temos a popularidade e a capacidade política do Lula. Ninguém. Um tem qualidades “a”, outros “b”. Mas nenhum reúne todas as qualidades políticas do Lula. Em segundo lugar, a oposição, ao que tudo indica, terá um candidato forte: ou o Serra ou o Aécio. São governadores de Estado, têm simpatizantes em todas as classes sociais. Eles podem aproveitar um certo ranço, um certo preconceito que ainda paira sobre o PT em boa parte da grande imprensa.



A pré-candidata Dilma Rousseff sofre resistência dentro do PT porque dizem que ela tem pouca militância no partido. O senhor chegou a se imaginar candidato petista à presidência?


Não. Passava pela cabeça de alguns companheiros essa idéia. Há mais de dois anos tirei essa idéia da cabeça. Mostrei aos meus companheiros que não seria candidato porque não haveria dentro do partido uma coesão política majoritária em torno do meu nome em função das lutas políticas internas que travei em momentos difíceis – e não me arrependo de tê-las travado. Se o presidente eventualmente pensasse no meu nome, o partido ia entrar num conflito muito grande, prejudicando a unidade o partido. Tirei isso da cabeça há muito tempo. Quando as pessoas falavam, até achava que eu, o Patrus, o Jacques Wagner, o Aloísio Mercadante, o José Dirceu. Falavam em vários nomes e as pessoas especulavam. Há mais de dois anos tirei isso da cabeça completamente sabedor de que o presidente faria uma opção política e que ela não se dirigiria ao sul. Fui o primeiro a chamar a atenção para a Dilma, dizendo que ela poderia ser uma boa candidata se aprofundar as relações com o partido. Naquele momento isso causou um escândalo, as pessoas ficaram com bico empinado, outras me criticaram e algumas acharam uma boa idéia. Isso teve um efeito positivo porque a Dilma começou a dar mais atenção ao partido. Não é um demérito não estar no partido, não ter vínculos. O que é um demérito é a pessoa querer ser candidato à presidência e não saber que tem de ter vínculos com o partido que vai lutar por ela. Não me arrependo de ter feito a afirmação. A partir de então, várias pessoas passaram a dizer que ela tem de estreitar a relação. E ela tem feito. É uma candidata que tem condição de nos representar. O importante é que o partido tem um candidato que confie, que preste atenção no partido, sem perder a amplitude que tem de ter o presidente da República.



E o senhor vai se candidatar ao governo gaúcho ou vai voltar a disputar a vaga no Supremo?


Essa história do Supremo surge de vez em quando na imprensa. Não estou disputando vaga no Supremo, nunca disputei. Nunca fui sondado para ir ao Supremo e não aceitaria ir. Não faz parte do meu projeto, do meu roteiro como sujeito público. Não me imagino no STF por uma série de razões, e não são razões que degradariam o convite. Acho estranho quando alguém diz que estou preiteando novamente quando nunca pleiteei. Em relação ao governo do Estado, é uma possibilidade. Mas não sou a única opção no Rio Grande do Sul e não estou preparando uma campanha para disputar uma prévia. Estou participando de uma negociação de alto nível no meu Estado para ver qual será o melhor nome para a eleição estadual. Se a maioria achar que sou eu, posso ser candidato sem qualquer tipo de conflito. Estou maduro politicamente. Já cometi muitos erros, aprendi muito. E tive bons acertos. Adquiri uma certa maturidade num determinado momento que você começa a ver os conflitos internos do partido de maneira diferentes. Antes, via como elemento de vitalidade, de produção de uma estratégia linear do partido. Hoje, sou mais uma pessoa da consertação, da formação de bloco de negociação. Até porque o PT já atingiu sua melhor possibilidade, que é a eleição do presidente Lula. Daqui para adiante tem de se renovar como partido para dar um salto como partido dirigente de uma grande frente política, de consolidação da democracia e de promoção de profundas mudanças democráticas e sociais no Brasil.



Fonte: Terra