Oposição no Senado manobra contra Venezuela no Mercosul
Uma reunião longa e tensa marcou a discussão sobre adesão da Venezuela ao Mercosul na Comissão de Relações Exteriores do Senado nesta quinta-feira (16). O protocolo de adesão já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pela Representação Brasileira no
Publicado 17/04/2009 16:38
Os embaixadores e o representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), convidados para o debate, que durou três horas, se posicionaram favoráveis ao ingresso da Venezuela. Os diplomatas disseram, em contraposição as razões políticas e ideológicas contrárias ao Presidente venezuelano, apresentadas pela oposição, de que Hugo Chavez não é eterno, mas a Venezuela perdurará.
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) alertou para a necessidade de análise da questão sem passionalismo e sem luta ideológica. “A entrada da Venezuela no Mercosul significa a inclusão de um país que tem crescido econômica e politicamente”, disse. Ele fez um apelo para levar em conta as fortes relações comerciais construídas entre o Brasil e a Venezuela, que até algum tempo atrás eram inexistentes.
Defesa dos embaixadores
O embaixador Paulo de Tarso Flecha de Lima defendeu a entrada da Venezuela no bloco, alertando para o fato de o tema estar sendo discutido de forma passional no Brasil. “Peço que não percamos de vista, neste caso, a questão estratégica que envolve a entrada da Venezuela no Mercosul e o significativo crescimento das negociações comerciais entre o Brasil e aquele país nos últimos anos”, afirmou o embaixador, acrescentando que Hugo Chávez, motivo pelo qual muitos recusam a ideia do ingresso da Venezuela no grupo, não será eterno, mas a Venezuela perdurará.
Já o embaixador Sérgio Amaral disse que se for aprovado o ingresso da Venezuela no Mercosul, a medida será assimilada de uma forma ou de outra, já que será uma decisão legal, envolvendo um país que merece fazer parte do bloco.
O embaixador Rubens Barbosa disse que é favorável ao ingresso da Venezuela, mas alertou para a necessidade de o Brasil se munir de todas as informações possíveis acerca da conjuntura política e econômica daquele país, antes de decidir sobre o Protocolo de Adesão.
Multiplicado por 8
O diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho, disse aos senadores que o estágio de acordos comerciais entre o Brasil e aquele país deve ser obrigatoriamente levado em consideração nas discussões sobre o ingresso da Venezuela no bloco.
“As trocas comerciais do Brasil cresceram extraordinariamente entre 1998 e 2008, quando foram multiplicadas em quatro vezes as exportações feitas pelo país, mas com a Venezuela a multiplicação foi de oito vezes. A maioria dos requisitos impostos para entrada da Venezuela no Mercosul foram cumpridas por aquele país”, explicou.
Intriga da oposição
Ao final da reunião, a Comissão aprovou requerimento solicitando ao governo brasileiro informações oficiais a respeito do andamento das negociações para a adesão do novo sócio. Entre as informações solicitadas estão as referentes ao estabelecimento de um cronograma de liberalização do comércio entre esse país e os quatro atuais membros permanentes do bloco – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
O senador da matéria, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) vai propor a realização de um ciclo de debates com autoridades e especialistas no tema, o que está sendo interpretado como uma forma de protelar a decisão.
No dia 30, a comissão realiza a segunda audiência pública para debater o tema. Estarão presentes o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim; o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior; e o embaixador do Brasil em Caracas, Antonio Simões.
Argumentos irrelevantes
Nas discussões sobre o assunto, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) recordou as críticas feitas por Hugo Chavez ao Senado brasileiro acusando o Presidente venezuelano de alimentar a animosidade na região.
O presidente da Comissão, o tucano Eduardo Azeredo (MG), lembrou que o presidente da Venezuela deve explicações e desculpas ao Senado que em 2007, aprovou uma moção condenando o fechamento da Radio Caracas Televisión (RCTV).
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), para se manifestou contra Hugo Chávez, disse que aspecto mais relevante que o Brasil deve levar em conta para decidir sobre a adesão da Venezuela ao Mercosul é a consciência política do ato. Na sua avaliação, as autoridades envolvidas na decisão devem saber que Chávez fará uso político da entrada de seu país no bloco.
O senador Inácio Arruda considerou irrelevantes os argumentos utilizados pela oposição. Segundo ele, o ingresso da Venezuela no Mercosul é consenso entre embaixadores e a maioria dos senadores, dentro do espírito de alargamento do Mercosul.
De Brasília
Márcia Xavier
Com agências