Luta pelo passe livre revela contradições do vereador Marcelo Ramos
O XXI Congresso de Estudantes da Universidade Federal do Amazonas (CEUFAM), realizado nos dias 24 e 25 de abril, no Auditório Eulálio Chaves, serviu, dentre outras coisas, para demarcar o antagonismo entre o vereador Marcelo Ramos do PCdoB e o moviment
Publicado 28/04/2009 10:01 | Editado 04/03/2020 16:12
Presente na mesa de debate cujo tema foi “Movimentos sociais nos 100 anos da UFAM”, por indicação de estudantes que fazem parte do PSB e do PSDB, o vereador Marcelo Ramos justificou o motivo da indicação ao demonstrar total vinculação com as plataformas anti-populares, anti-estudantis e elitistas defendidas pelos tucanos.
Ex-dirigente da UJS nacional ataca a juventude no Amazonas
Ele que já foi autor de um projeto de passe livre estudantil na Câmara Municipal de Manaus (CMM), tendo sido homenageado na jornada de lutas da UNE e da UBES, em 2007 e 2008, e ainda participado do último congresso da UBES onde palestrou sobre a necessidade desse benefício, afirmou que deixou de ser favorável a causa. Na ocasião, expôs sua veia tucana e, também, disse ser a favor da redução da meia passagem.
A presidente da União Estadual dos Estudantes do Amazonas (UEE-AM), Maria das Neves, presente no congresso como delegada, foi aplaudida pela plenária ao lembrar do dia 23 de dezembro do ano passado quando os estudantes invadiram o parlamento municipal e sujaram os vereadores com tintas, a fim de impedir que eles aprovassem a redução da meia passagem. Além disso, abordou a importância social desse direito para a juventude e a necessidade de sua manutenção.
No final do ano passado, o vereador Marcelo Ramos rasgou seu histórico de participação no movimento estudantil e se ausentou das discussões do projeto de golpe aos estudantes. Na primeira votação, os jornais noticiaram que ele estava numa academia de musculação e, na que ocorreu em 23 de dezembro, votou contra a redução, mas foi à delegacia policial juntamente com outros vereadores para denunciar os líderes estudantis que tinham invadido o plenário da CMM.
No XXI CEUFAM, ele explicou que fez isso por entender que a atitude dos estudantes foi vandalismo, mas “cabe os estudantes julgarem a ação”.
A mudança dos posicionamentos de Marcelo em relação às bandeiras de luta defendida pelo movimento estudantil passou a ocorrer no período de 1 ano em que ele ficou como presidente do Instituto Municipal de Transportes Urbanos (IMTU), na gestão anterior do executivo municipal. Apesar de ter atuado muito mais tempo nos movimentos juvenis, tendo sido tesoureiro nacional da UJS na gestão de Orlando Silva, adaptou-se rapidamente interesses do empresariado.
Vereador em rota de colisão com seu próprio partido
Durante o XXI Congresso de Estudantes da Universidade Federal do Amazonas (CEUFAM), o vereador Marcelo Ramos não só definiu ser contra os estudantes, como voltou a atacar o PCdoB. Na ocasião, disse que o partido tem um discurso diferente da prática e, também, que não combate os erros do governo de Eduardo Braga.
Marcelo Ramos fundamentou a afirmação de que o discurso do PCdoB não corresponde à prática ao citar o fato de que o partido está no comando da prefeitura na cidade Aracaju e lá não existe o passe livre.
Além disso, se direcionou a Maria das Neves, que é filiada ao PCdoB e compõe a sua direção estadual, perguntando o motivo deles não fazerem manifestações em frente à sede do governo do estado quando são divulgados supostas irregularidades, indicando o seu atrelamento à gestão de Eduardo Braga.
O presidente estadual do PCdoB, Antonio Levino, ponderou as declarações de Marcelo Ramos. “A contradição do Marcelo Ramos é sistemática. Numa semana ele pede desculpas pelas agressões que desferiu ao partido e, dias depois ou semanas depois, repete as atitudes que ele mesmo classificou como agressivas”, disse, referindo-se a aparição do vereador na solenidade de comemoração dos 87 anos do PCdoB, ocorrida na Assembléia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), quando subiu a tribuna e se desculpou.
Projeto eleitoral do PCdoB exige alinhamento político
De acordo com Levino, os posicionamentos de Marcelo não expressam mais os do partido que ele ainda está filiado. “As opiniões do Marcelo Ramos sobre os movimentos sociais e o partido são muito próximas das opiniões da oposição ao governo Lula, representada pelo PSDB e pelo DEM”, destacou.
Segundo a avaliação do presidente dos comunistas amazonenses, Marcelo Ramos permanece caminhando no mesmo lado que disputou as eleições municipais de 2008. “No Estado existem, atualmente, três grupos políticos. Um encabeçado pelo Amazonino Mendes, que representa as oligarquias mais atrasadas do Amazonas, outro que corresponde a base de apoio aos avanços sociais promovidas pelo governo Lula, onde o PCdoB se encontra inclusive em âmbito estadual compondo a gestão do Eduardo Braga, e um terceiro que envolve o bloco PSDB-DEM-PSB, para o qual as opiniões do Marcelo convergem”, explicou.
As eleições de 2010 podem ser o motor propulsor dessas ações. “Lançamos a pré-candidatura da Vanessa Grazziotin para disputar uma vaga do Senado. E a vaga que está sendo disputada é a do Arthur Neto, do PSDB. Então, essas coisas surgem para a oposição passar uma imagem de que o PCdoB não tem unidade interna”, avalia, dizendo que Marcelo reforça esse objetivo. “As atitudes que ele adota são contrárias ao projeto do partido”, completa Levino.
Processo disciplinar está na Comissão de Controle
Em relação ao descumprimento das diretrizes partidárias, o PCdoB já toma suas providencias. “Existe uma comissão de controle que está com um trabalho avançado na análise de matérias jornalísticas e outros dados públicos sobre as atitudes do Marcelo Ramos. O trabalho é desenvolvido formalmente e de acordo com as diretrizes estatutárias do partido”, informou.
O trabalho dessa comissão tem aumentado com as denúncias feitas por parte de alguns militantes. “Há várias denúncias de militantes que buscam o partido para informar que o Marcelo está dentro desse projeto da oposição. E as atitudes dele contribuem com as denúncias. Mas a comprovação depende do trabalho da comissão de controle”, disse.
A presença do vereador Marcelo Ramos e suas declarações no CEUFAM também estão de acordo com as denúncias que já são de conhecimento da comissão de controle criada pelo PCdoB para apurar o caso. “Algumas dessas informações dão conta de que ele articula um bloco para enfrentar o partido na frente juvenil. E o que ocorreu no CEUFAM é somente uma das manifestações que comprovam o alinhamento”, concluiu.
De Manaus,
Anderson Bahia
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