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Dirceu quer que PT supere o “partido de tendências”

O PT “precisa superar seu estreitamento de hoje – um partido de tendências – , precisa abrir-se para se transformar numa agremiação de milhões de filiados para evitar se tornar um partido parlamentar ou de governo, exclusivamente, o que está acontecend

Dirceu sintetiza no artigo a sua visão sobre o nascimento, trajetória, credenciais, desafios e tarefas do PT, tendo em vista o 3º Congresso da sigla, em novembro. Derrubado da chefia da Casa Civil e com o mandato de deputado cassado pela crise do “Mensalão”, ele conserva forte influência sobre a legenda que ajudou a fundar em 1980 e presidiu entre 1995 e 2003, como  estrategista de sua tendência hegemônica, a Articulação-Unidade na Luta.



Como seria de esperar, o texto é um entusiástico elogio da sigla da estrela, mas não um elogio acrítico. No capítulo dos “desafios”, ele “destaca” uma plataforma que seria uma reforma estrutural do partido.



“Fortalecimento de sua estrutura de organização, de comunicação, de formação política, de construção de políticas públicas, sua autonomia financeira e sua consolidação como uma organização nacional de massas”. E, para isso, “a legenda precisa superar seu estreitamento de hoje – um partido de tendências – , precisa abrir-se para se transformar numa agremiação de milhões de filiados para evitar se tornar um partido parlamentar ou de governo, exclusivamente, o que está acontecendo, não apenas pela força dos mandatos, mas também pela incapacidade de decisões políticas e formas de organização”.



Ambas as mudanças chamam a atenção, em especial por partirem de quem foi talvez o principal arquiteto do PT tal como existe hoje. E é de esperar que ambas se defrontarão com renhida resistência.



No caso da mutação, em curso, em “partido exclusivamente parlamentar ou de governo”, a resistência dificilmente se explicitará às claras, já que a advertência de Dirceu coincide com um discurso oficial petista que vem do berço. O que não significa que será uma resistência menos encarniçada.



Já a proposta de “superar” o “partido de tendências” deve desde agora acender um debate apaixonado nas fileiras petistas. A hegemonia da Articulação desde 1980 tem sido sempre nítida mas nunca incontestada, e as contestações se renovaram com a crise de 2005. O 3º Congresso o dirá, mas há razões para crer que é mais fácil criar um partido de tendências que “superá-lo”.



Veja a íntegra do artigo de José Dirceu:




“O futuro do PT”



“Para uma legenda de 30 anos, o PT pode ser considerado um caso à parte na história recente dos partidos políticos de esquerda socialista e democrática. Fundado no auge das lutas sociais na década de 1970, filho das lutas contra a ditadura, conquistou o apoio da esquerda independente, dos intelectuais e artistas, e de amplos setores da classe média. Nascido sob a liderança de Lula, consolidou-se como agremiação partidária, ganhou experiência nas lutas sociais e sindicais, aprendeu a disputar eleições, a legislar, a governar e a construir políticas públicas, programas de governo e alianças.



Não foi um caminho fácil, mas se consolidou como um partido nacional com amplo apoio popular e formou quadros políticos, parlamentares e administradores. E o mais importante: conheceu o Brasil e seus problemas. Como toda a legenda, enfrenta o drama e a riqueza de ser um partido vivo de militantes, diretórios e núcleos setoriais; de atuar no Parlamento e governar, além de viver a contradição de um partido socialista que tem que governar sem maioria no Parlamento e no país, fazendo alianças e reformas econômicas, sociais e políticas.



Combatido e rejeitado pelo conservadorismo e pela direita, o PT vive sob o fogo cerrado da oposição e de grande parte da mídia, mas é, acima de tudo, um  partido que tem como credencial ter governado a nação e reeleito um presidente popular que mudou o Brasil para melhor. No governo, retomou um projeto de desenvolvimento nacional, apoiado no mercado interno e na distribuição de renda, no combate à pobreza e à miséria, na integração sul-americana e na presença soberana do país no mundo.



Sobre o futuro, qualquer que seja o resultado das eleições presidenciais de 2010 (a tendência é de mais uma vitória), o PT será uma força política institucional decisiva na vida brasileira, governará Estados importantes e, tudo indica, será de novo o partido mais votado para a Câmara dos Deputados, terá presença forte no Senado, e um número razoável de deputados estaduais, prefeitos e vereadores, sem esquecer sua força na sociedade e liderança nos movimentos sociais e populares.



Independentemente do resultado eleitoral de 2010, o PT terá novos desafios, entre os quais destaco o fortalecimento de sua estrutura de organização, de comunicação, de formação política, de construção de políticas públicas, sua autonomia financeira e sua consolidação como uma organização nacional de massas. Para que isso seja realidade, a legenda precisa superar seu estreitamento de hoje – um partido de tendências – , precisa abrir-se para se transformar numa agremiação de milhões de filiados para evitar se tornar um partido parlamentar ou de governo, exclusivamente, o que está acontecendo, não apenas pela força dos mandatos, mas também pela incapacidade de decisões políticas e formas de organização que permitam seu crescimento.



O PT tem desafios imediatos: enfrentar junto com o presidente Lula a crise econômica, retomar o crescimento, construir uma candidatura de Dilma Rousseff e suas alianças, seu programa, começando pelo resgate da bandeira das reformas política e administrativa. Essas são, acredito, as tarefas do PT e de seu 3º Congresso em novembro deste ano, com um olhar nas conquistas do passado, mas consciente dos desafios do futuro.”