Partido comunista Tudeh pede voto reformista no Irã
''Votar nos candidatos reformistas significa dizer 'Não' ao Supremo Líder e seus candidatos'', afirma um comunicado do Comitê Central do Partido Tudeh (''Partido das Massas''), o partido comunista do Irã, sobre as eleições presidenciais desta sexta-feira.
Publicado 12/06/2009 17:51
''As décimas eleições presidenciais serão realizadas em 12 de junho sob circunstâncias muito críticas. Quatro anos após a chegada ao poder do governo antipopular e profundamente reacionário do presidente Mahmoud Ahmadinejad, o povo irá às urnas quando uma esmagadora maioria vive em condições muito piores que antes, face a pressões econômicas, à repressão e a uma profunda pobreza. Ahmadinejad foi escolhido a dedo e instalado pelo Líder Supremo, representando os militares e forças de segurança do país.
Entre os fatores que causaram profundo e extenso descontentamento do povo contra o regime de Velayat-e-Faqih (a norma do líder religioso Supremo) e o governo estão as políticas econômicas nocivas, que levaram à falência do sector produtivo e aumentaram as já elevadas taxas de desemprego e inflação.
Os líderes do regime, seus agentes e o complexo militar dilapidaram em nível sem precedentes a astronômica renda do petróleo nos últimos quatro anos. Eles reforçaram o clima de repressão e de terror com os ataques em curso contra os movimentos operário, feminino, juvenil e estudantil. Também intensificaram a pressão sobre as minorias nacionais e religiosas.
Dizer que o governo de Ahmadinejad foi um dos mais reacionários dos últimos 30 anos de história do regime de República Islâmica não seria despropositado.
Diferenças entre 2005 e 2009
As eleições presidenciais em 2005 [quando Ahmadinejad foi eleito] transcorreram em circunstâncias muito diferentes das atuais.
Durante os oito anos da administração Khatami (1997-2005), houve graves insuficiências, incluindo a incapacidade do governo para cumprir as promessas de impulsionar as reformas. A sua inação na melhoria das condições do povo, da classe trabalhadora e especialmente dos trabalhadores com salários baixos, levou grande parte destas forças sociais a se desmotivar e desapontar com o processo de reforma. Muitos se abstiveram nas eleições 2005.
Danosas divisões entre os reformistas no governo, bem como a decisão por grande parte da oposição de boicotar as eleições 2005, permitiram que os reacionários de organizassem e mobilizassem os militares em apoio ao agente mais adequado ao avanço de sua agenda.
Agora setores substanciais da população tiveram quatro anos de políticas governamentais devastadoras e sentem seu impacto direto e indireto. Devido a esta experiência, o povo chega às eleições com uma atitude diferente da de junho de 2005.
Há sinais de que o povo quer se libertar do governo de Ahmadinejad. Nos próximos dias, a vontade do povo precisa se converter numa ampla manifestação eleitoral.
Possibilidades, dificuldades e complexidades
Com a entrada de Mir-Hossein Mousavi na corrida presidencial e a súbita retirada de Mohammad Khatami (certamente influenciada pelo Supremo Líder), a eleição presidencial enfrenta sérias dificuldades e complexidades.
Nas últimas semanas, o Partido Tudeh criticou a indefinição política do candidato reformista e pediu o esclarecimento de algumas das suas posições.
Contra os candidatos reformistas estão Ahmadinejad, as facções próximas de Khamenei (o Supremo Líder) e Mohsen Reza'i, que representam setores fundamentalistas opostos a Ahmadinejad. Estes fundamentalistas acreditam que os quatro anos de Ahmadinejad prejudicaram seus interesses. Esses dois outros grupos oposição participam das eleições, num contexto de graves divergências entre simpatizantes do Líder Supremo sobre a incompetência do governo Ahmadinejad.
Se a eleição não sofrer grandes interferências e fraudes por parte das forças associadas com o Corpo Revolucionário, a milícia Basij e os criminosos ligados ao gabinete do Líder Supremo, gente como Ahmadinejad e Reza'i irá sofrerá uma pesada derrota. Relatórios indicam que o círculos governantes sabem disso e planejam uma extensa fraude. Essa parcela pode ser derrotada apenas por meio da poderosa presença de milhões de pessoas nas urnas, impondo sua vigilância sobre o processo.
Após os últimos quatro anos, não é justo permanecer neutro e abster-se nas eleições. Ficar neutro, como mero observador dos acontecimentos serviria apenas ao governo Ahmadinejad.
A campanha eleitoral é uma importante arena de luta contra o regime de Velayat-e-Faqih, e um caminho para expor o passivo de medidas antipopulares do regime e seu governo em várias esferas.
Além disso, a eleição é uma oportunidade para mobilizar as forças sociais em todo o país, somar esforços cooperar com as forças progressistas e amantes da liberdade, visando neutralizar os complôs da reação. Incentivar as pessoas a ficar em casa e boicotar as eleições sob o pretexto de ''não legitimar o regime'' não resolverá qualquer problema, ajudará a política de reação para controlar o resultado. A abstenção só se justificaria se pudesse se tornar uma ferramenta capaz de descartar o regime de Velayat-e-Faqih.
Tirar partido das limitadas possibilidades disponíveis, para organizar e fazer um esforço para impor as reivindicações do povo aos candidatos reformistas, é um passo no sentido de revitalizar o espírito de luta e superar os retrocessos do regime Ahmadinejad.
Os candidatos e o Partido Tudeh
Logo que os reformistas anunciaram suas candidaturas, que salientamos a necessidade de esclarecer suas políticas e pontos de vista. Nas últimas semanas, os dois representantes dos grupos reformistas afirmaram suas intenções sobre temas políticos, sociais e econômicos. Nosso partido analisou essas plataformas, e também o passado histórico de Mir-Hossein Mousavi e Mehdi Karrubi. Nossa estimativa é que mesmo que eles cumpram suas promessas e façam o que têm proclamado, só revitalização limitadamente o processo de reforma.
Oito anos de governo Khatami revelaram que a manutenção da estrutura de poder no Irã, do compromisso e da submissão ao regime de Velayat-e-Faqih, que desconfia das massas, é um sério obstáculo a uma evolução positiva na sociedade. É impossível observar os direitos e liberdades do povo, seguindo um caminho fundamentalmente democrático, num país onde a lei, o poder executivo as forças de segurança estão exclusivamente nas mãos de uma pessoa, ou seja, o Supremo Líder. Apenas descartando este princípio as mudanças seriam possíveis.
O processo de reforma está possibilitando a organização e crescimento do movimento popular, mobilizando-o e capacitando-o, o que poderia eventualmente impor a vontade do povo à reação no governo.
Sobre esta base, nosso partido encara o processo eleitoral não dentro da estreita moldura do voto em Mousavi ou Karrubi, mas visando mobilizar forças para derrotar Ahmadinejad e Reza'i como os candidatos do regime do Líder Supremo.
Votar nos candidatos reformistas significa dizer ''Não'' ao Supremo Líder e seus candidatos. Acreditamos que as pessoas o farão.
O Comitê Central do Partido Tudeh do Irã apela aos cidadãos politicamente conscientes do país e todas as forças que apóiam a reforma, a liberdade e a justiça para que unam forças na luta para derrotar os candidatos da reação, Mahmood Ahmadinejad e Mohsen Reza'i. O êxito nesta tarefa é um passo, embora pequeno, para aliviar as atuais pressões, avançar no processo de reforma e na reconstrução das forças sociais visando as cruciais lutas futuras para descartar o regime de Velayat-e-Faqih.
Nestas circunstâncias, a reação no governo tudo fará para impedir a manifestação da vontade popular.
A unidade de vontade e ação de milhões de eleitores nesta decisiva votação poderia desempenhar um papel em favor dos interesses nacionais e da solução dos graves problemas econômico-sociais e políticos.
Não é hora de ficar em casa e deixar as urnas à mercê dos adeptos do Líder Supremo. O vazio deixado por milhões de pessoas seria preenchido por votos forjados e manipulados pelos reacionários que monopolizam o poder. Não se pode deixar que isso ocorra.''