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Aumenta pressão para abrir todos os arquivos do Araguaia

A divulgação pelo Estado de S.Paulo de documentos sobre a Guerrilha do Araguaia ampliou a mobilização pela abertura dos arquivos oficiais e pela busca de corpos dos mortos no conflito. Papéis guardados pelo oficial da reserva Sebastião Curió R

O secretário dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, pedirá ao presidente Lula que pressione o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a aceitar a participação de representantes das famílias de guerrilheiros na expedição organizada pelo Exército para localizar corpos. ''Toda colaboração com elementos para ajudar na elucidação dos fatos é extraordinária'', afirmou Jobim.


 


Criméia Almeida, que perdeu o marido, o sogro e o cunhado no Araguaia, disse ter ficado ''chocada'' com a reportagem.


 


Representantes de entidades de direitos humanos dizem que a abertura do arquivo de Curió força o governo a identificar os restos de corpos retirados em 1996 e 2001 de cemitérios na região de Xambioá, onde ocorreu o conflito, entre 1972 e 1975. Dez restos de corpos esperam por identificação nos armários do Ministério da Justiça.


 


''A informação dele demonstra que os arquivos existem e que não é correta a afirmação eventual de que é difícil achar os corpos. Tem um caminho a ser percorrido para encontrar os corpos e encerrar esse capítulo obscuro e violento do País'', disse o ministro da Justiça, Tarso Genro. Desde o fim do governo militar (1964-85), a falta de arquivos e de informações oficiais é apontada como obstáculos à busca dos corpos dos guerrilheiros e da revelação do que ocorreu na repressão.


 


O secretário especial dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, afirmou que a entrevista de Curió deve ser aproveitada para que se corrija o rumo da expedição comandada pelo Ministério da Defesa na busca pelos corpos. Vannuchi quer que o ministro Nelson Jobim aceite a participação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, de representantes de familiares e do Ministério Público na expedição do Exército. Vannuchi pedirá, hoje, a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


 


Jobim, que estava em viagem à Europa, divulgou apenas uma declaração: ''Toda colaboração com elementos para ajudar na elucidação dos fatos é extraordinária. Nós apoiamos e estimulamos divulgações como essa''.


 


Documentos do arquivo de Curió publicados ontem pelo Estado contrariam versão militar de que os 67 guerrilheiros mortos estavam de armas na mão quando morreram. De acordo com o arquivo do oficial, 41 foram executados depois que estavam presos e não ofereciam risco às tropas.


 


''A revelação entra na mesma linha que estamos trabalhando: para haver reconciliação, tem de buscar a verdade. Não se pretende procurar culpados individuais, mas desvendar a operação e achar os corpos para que se consiga encerrar esse processo doloroso'', afirmou Genro, que pretende buscar mais dados com Curió.


 


O ex-deputado Aldo Arantes, representante da Fundação Maurício Grabois, ligada ao PCdoB, diz que a reportagem contribui para acelerar as medidas de identificação de ossadas. ''Esses novos elementos levantados agora vão facilitar o esclarecimento dessas ossadas.'' Arantes disse que foi ''surpreendido'' pelas declarações de Curió. ''A atitude respeitosa dele em relação aos guerrilheiros me surpreendeu. Ele não chamou os guerrilheiros de terroristas.''


 


Na Câmara, o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Pedro Wilson (PT-GO), vai pedir, na reunião de terça-feira, que Curió seja convidado para expor os documentos sobre a Guerrilha do Araguaia que está em seu poder. ''Se ele se dispuser a falar, será um salto no sentido de temos acesso a documentos importantes. Não queremos revanchismo'', disse.


 


Ex-guerrilheiro, o deputado José Genoino (PT-SP), preso em 1972 durante a primeira campanha militar na região, afirmou que a reportagem confirma fatos e dá novos detalhes. ''O governo já está com um conjunto de informações para prestar contas às famílias. O direito à memória e à verdade tem de ser garantido sem qualquer tipo de revanchismo'', disse.


 


Fonte: O Estado de S.Paulo.