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Argentina: Kirchner encerra campanha criticando privatizações

Em um resumo do que foi sua estratégia para as eleições legislativas na Argentina, o ex-presidente Néstor Kirchner – marido da atual presidente, Cristina Kirchner – encerrou, nesta quinta-feira, sua campanha a deputado em La Matanza, município mais pop

Diante de uma plateia de cerca de 10 mil pessoas, e na presença de sua mulher e de quase todo o gabinete presidencial, Kirchner defendeu as estatizações feitas ao longo de sua gestão (2003-2007) e da atual. Ao tocar no polêmico fim do sistema privado de previdência, estatizado por Cristina, o candidato assumiu um tom de paternidade da ideia e admitiu que espera ver a Argentina “repetir o exemplo do Brasil”, onde as aposentadorias criam um “círculo virtuoso”.

Kirchner tratou, em seu discurso, de responder a seus opositores, que ameaçam conquistar a maioria na Câmara e travar o governo de Cristina. Mas se preocupou especialmente em confirmar o voto que espera receber dos eleitores que mais se beneficiaram dos programas sociais criados em sua gestão. Para tanto, enfatizou o sucesso da estatal responsável pela rede de água e esgoto – necessidade ainda presente no cotidiano de La Matanza.

“A Aerolíneas é de todos os argentinos e sua maior rentabilidade é a integração”, insistiu Kirchner, ao destacar o esforço de sua mulher, Cristina, para “recolher a companhia (aérea) da ruínas”. A salvação da empresa dificilmente tocará a vida dos habitantes da periferia de Buenos Aires, mas Kirchner foi astuto ao abordar o aspecto nacionalista da medida – que custa, em média, mais de US$ 1 milhão ao governo.

As eleições de domingo renovarão aproximadamente metade da Câmara e um terço do Senado. São decisivas para o governo, cuja aprovação tem caído desde o conflito tributário com o campo, em 2008, e os impactos da crise econômica mundial. Com a economia em retração, o governo conferiu tom de plebiscito à eleição: antecipou o pleito em quatro meses e lançou seus principais nomes como candidatos.

Em 2007, um de cada quatro votos de Cristina saiu da região de La Matanza. Durante a campanha, Kirchner visitou 22 das 24 cidades.

“Foi Kirchner quem nos deu trabalho”, disse Carlos Luguercho, 52 anos, beneficiário do equivalente a R$ 75 mensais do governo e membro de uma cooperativa de trabalho em Avellaneda, outra cidade da Grande Buenos Aires.

Meios de comunicação

Kirchner também dedicou grande parte de seu discurso de encerramento de campanha para atacar os meios de comunicação e defender o polêmico projeto de lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, que o governo de  Cristina Kirchner, pretende enviar ao Congresso para substituir a atual Lei de Rádio Difusão, aprovada durante a última ditadura militar (1976-1983).

“Não podem existir grupos concentrados que tentem se favorecer usando instrumentos que devem ser usados para informar com pluralidade”, disse.

O ex-presidente questionou a existência de “grupos concentrados” e assegurou que os meios de comunicação de seu país começaram a atuar como partidos políticos opositores desde que foi apresentado o projeto.

Também aproveitou o ato para criticar a atitude do vice-presidente Julio Cobos (que nesta eleição terá candidatos próprios).

O cenário

Esta é a primeira vez que os Kirchner enfrentam uma eleição em cenário econômico desfavorável. Por conta da crise, a Argentina não goza mais de taxas de crescimento de 8%, fruto da política de estímulo à industrialização dos Kirchner, o que permitiu levantar a economia após a crise de 2001-2002.

Por ser a principal província e ter o marido da presidente na disputa, a batalha eleitoral de Buenos Aires está no cenro das atenções. Lá votam 40% dos eleitores.

Além de representar o governo,  líder do partido peronista, Nestor Kirchner tem ainda a seu favor os resultados de sua própria passsagem pela presidência, a exemplo da reabertura dos processos contra militares acusados de violações dos direitos humanos durante a ditadura (1976-1983).

Seu principal adversário, o rico empresário Francisco De Narvaez encarna, com seu aliado, o prefeito de Buenos Aires Mauricio Macri, a volta das ideias neoliberais do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).

As últimas pesquisas mostram uma disputa acirrada entre Kirchenr e Narvaez, ainda que o ex-presidente apareça em posição de vantagem.

No país, cerca de 27 milhões de argentinos estão habilitados a comparecerem às urnas. No exterior, 46 mil foram convocados ao pleito.

Os argentinos que vivem em outros países, como Brasil, Estados Unidos, França, Uruguai e Espanha, votarão no domingo em 62 embaixadas, 30 consulados gerais e 21 consulados, num total de 69 países.


Com O Estado de S.Paulo