Sem categoria

Sorrentino: Brasil precisa de novo projeto de desenvolvimento

Em entrevista ao caderno baiano do Vermelho, o secretário nacional de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, apresentou as principais ideias em debate no 12º Congresso do partido, que acontece em novembro. A defesa de um novo projeto nacional de desenvo

Quais as ideias em debate no 12º Congresso do PCdoB?


 


O Congresso do PCdoB vai lançar mão de um debate que interessa não apenas aos comunistas, mas a toda a nação brasileira porque consideramos que o Brasil está diante de enormes riscos e, ao mesmo tempo, enormes oportunidades. Riscos devido à crise capitalista, advindos da grande potência imperialista dos EUA, que tentam manter seu domínio sobre o mundo e também riscos vinculados aos opositores de Lula. Apesar de estar sem programas e bandeiras, a oposição é muito raivosa e ainda detém muito poder, principalmente na mídia. Por outro lado, há enormes oportunidades porque o Brasil está mais preparado do que nunca para enfrentar essa crise e, apesar do poderio norteamericano, estamos num mundo em transição, onde vão surgindo outras potências emergentes econômicas, políticas e sociais, entre as quais o Brasil, e isso permite uma maior margem de manobra para o país obter um caminho próprio para o seu desenvolvimento. Aliás, o Brasil sempre aproveitou as crises para aprofundar o seu desenvolvimento, a sua soberania e afirmação nacional. E, finalmente, de oportunidades porque, em 2010, podemos, sim, ter uma terceira vitória do povo, e isso vai abrir uma perspectiva muito mais avançada para o país.



 
E quais são as propostas em debate?


 


A proposta do PCdoB é unir a ampla maioria da nação para lutar por um novo projeto nacional de desenvolvimento, que reforce o Estado nacional, a ação soberana, democrática e com prosperidade. E isso, do nosso ponto de vista, seria o caminho brasileiro para o socialismo, que é o nosso objetivo enquanto partido, através do fortalecimento da nação com distribuição de renda, democracia e o fim das desigualdades e disparidades sociais e regionais. Consideramos este caminho como a possibilidade de ser o terceiro grande salto civilizacional, depois da Independência, que nos legou um Estado nacional e onde o Brasil se fez Brasil; e o segundo grande salto civilizacional vivido a partir da Revolução de 30, que nos legou esse país moderno, urbano, industrializado e de uma cultura florescente.
 


Qual a relação dessa proposta com o governo Lula?


 


O Brasil, no século 20, foi o país que mais se desenvolveu em toda a história do mundo capitalista. Ou seja, o que a China é hoje, o Brasil foi durante o século 20 e, no entanto, esgotou-se esse processo e o país se viu diante de duas décadas perdidas nos anos 1980 e 1990. Então, nós somos muito otimistas e consideramos que, em apenas sete anos de governo Lula, o Brasil recuperou horizontes. Mas o país está numa encruzilhada histórica: ou se afirma enquanto nação e se desenvolve ou vai ter destino incerto.



 
E para avançar?


 


A nova geração de brasileiros está fazendo uma nova experiência política e anseia por desenvolvimento, progresso e liberdade, pela união do povo em torno desse grande ideal de uma nação próspera, democrática e solidária; e é este o caminho que o PCdoB quer propor à sociedade. É óbvio que há muitas lutas, e essas lutas – seja pela via eleitoral ou não eleitoral – envolvem destruir ou enfrentar os principais adversários deste caminho. Primeiro, o imperialismo, que está articulado ao poderio norteamericano. Em segundo, estão os interesses latifundiários e, em terceiro, os grandes e poderosos interesses da oligarquia financeira do sistema financeiro internacional. Temos que unir os setores produtivos, populares e os setores de trabalhadores em grandes jornadas de lutas. Tudo no Brasil foi assim: a Independência não foi um ato único do dia 7 de setembro de 1822; foi precedido de muita luta antes e depois. Em 1930, a mesma coisa. Já estamos em meio a essa nova onda de luta; a vitória de Lula é uma expressão disso em 2002 e 2006, e nós certamente teremos, em 2010, um novo episódio dessa mesma luta.
 


Como o PCdoB vê as eleições de 2010?



 
Em 2010 é preciso trilhar caminhos mais acelerados no rumo de um novo projeto nacional de desenvolvimento, porque podemos ser uma das grandes nações mundiais. O objetivo do PCdoB é, essencialmente, constituir uma forte aliança, para qual é importante também o PMDB, mas onde as forças de esquerda constituam o centro dessa articulação, porque assim se pode ampliar sem se descaracterizar, trazer forças da sociedade e do mundo político para, além de vencer, garantir a governabilidade. O PCdoB é o único partido, além do PT, que votou em Lula desde 1989, então é natural que reconheçamos que vamos enfrentar a batalha de 2010 sob a liderança de Lula e com as forças políticas que ele representa.


 


E quanto às reformas que o PCdoB defende?


 


Esse projeto nacional de desenvolvimento proposto pelo PCdoB gira em torno de seis reformas estruturais. Em primeiro lugar, uma reforma política democrática, porque o Brasil precisa de mais democracia para incorporar o povo à vida política. Segundo, uma reforma agrária para acabar com o latifúndio improdutivo. Terceiro, uma reforma da educação pra erradicar o analfabetismo e acelerar a formação do povo brasileiro para novos estágios de desenvolvimento. Quarto, uma reforma do sistema de saúde para universalizar o SUS e dar garantia de saúde a todos. Quinto, uma reforma nos meios de comunicação, porque não tem nada mais antidemocrático no nosso país que os meios de comunicação nas mãos de seis famílias que dizem o que querem, sem qualquer controle social. E, por último, uma reforma tributária para fazer com que os ricos paguem mais impostos do que o povo e impulsionem o financiamento do desenvolvimento, porque isso vai custar o esforço de toda uma geração de brasileiros.


 



De Salvador,
Camila Jasmin