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Crise econômica global: consensos e divergências do G-8 

Líderes mundiais sinalizaram nesta sexta-feira a morte do G-8, dizendo que apenas um fórum que inclua as maiores economias em desenvolvimento teria legitimidade para tomar decisões globais importantes. O G-8 é formado por países ricos do Hemisfério Nor

“Uma coisa que é absolutamente verdade é que parece ser errado pensarmos que podemos de alguma forma lidar com alguns desses desafios globais sem grandes potências como China, Índia e Brasil”, disse o presidente norte-americano, Barack Obama. As reuniões do G-8 — composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Rússia e Canadá — têm cada vez mais contado com outros países nos últimos anos.


 


Durante a cúpula anual do grupo realizada esta semana na Itália, o G-8 reuniu-se com líderes de China, Índia, Brasil, México, África do Sul e Egito, formando espontaneamente o G-14. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, acha que esse novo grupo pode se transformar em um fórum dominante para discussões em nível internacional. “No que me diz respeito, o G-14 é o formato com que no futuro teremos a melhor possibilidade de tomar as decisões mais importantes sobre a economia global, e não somente isso”, disse.


 


O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também apoiou o G-14, que representa aproximadamente 80% da economia global. “Vamos colocar o G14 em evidência em 2011, quando a França assumir o G8”, afirmou. O Canadá, que assume a direção do G-8 no ano que vem, anunciou que tentará criar um fórum mais amplo, mas acrescentou que quer que o grupo formado pelos países mais ricos sobreviva – desejo repetido pela chanceler alemã, Angela Merkel. “Em nossa visão, existem questões para as quais o G8 é o fórum apropriado”, disse ela.


 


Também buscando proeminência no cenário global está o G-20, que ganhou destaque no ano passado no combate à crise financeira. Merkel afirmou que acha que esse será um grupo fundamental no futuro e que espera uma decisão em um ano. Obama, por sua vez, declarou nesta sexta-feira que “estamos em um período de transição”. “O que estarei esperando são menos reuniões de cúpulas. Eu acho que existe uma possibilidade de organizá-las e torná-las mais efetivas”, disse.


 


Assistência alimentar


 


A reunião de L'Aquila também se comprometeu a destinar US$ 20 bilhões em três anos para combater a fome, o que representa US$ 5 bilhões a mais do que o previsto. Um representante da delegação norte-americana na cúpula disse que as promessas dos países foram mais altas do que tinha sido calculado. “Baseados nessas promessas, podemos anunciar que serão mobilizados US$ 20 bilhões”, disse.


 


Em uma folha informativa distribuída pela Casa Branca se informa que os Estados Unidos fornecerão a esse total pelo menos US$ 3,5 bilhões ao longo de três anos. Segundo explicou o representante, o aumento nos compromissos aconteceu depois do discurso do presidente Barack Obama, na sessão sobre segurança alimentar realizada esta manhã entre os países do G-8, países africanos, instituições financeiras e nações especialmente convidadas.


 


Em seu discurso, Obama, de pai queniano, recorreu a suas experiências pessoais da África e vivências de sua família para ressaltar a necessidade da governabilidade no continente. Em seu comunicado sobre segurança alimentar, o G-8 deu especial ênfase em que as iniciativas sejam realizadas de maneira “sustentável” e ressalta a importância de estimular “o setor privado” nos países receptores de ajuda.


 


No texto se plasma também a necessidade de acompanhar a assistência alimentar com a “expansão do emprego” e as políticas de apoio a “pequenos proprietários rurais, mulheres e famílias” para desenhar uma política global de assistência. O documento que os países participantes deste último dia da cúpula do G-8 terão que assinar, faz referência à mudança climática e recomenda a “gestão sustentável de água, terra, solo e outros recursos naturais”. Por outro lado, ressalta que a assistência sanitária e a educação contribuirão “para a produtividade e o crescimento econômico, que trará como consequência uma melhoria maior da nutrição e da segurança alimentar nos países pobres”.


 


Rodada de Doha


 


O grupo também tratou do impasse na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O diretor-geral da organização, Pascal Lamy, disse que o compromisso firmado em L'Aquila  pelas principais economias para alcançar um acordo até 2010 sobre as negociações da Rodada de Doha é um “claro passo adiante”.”Não tínhamos visto nunca indicações tão precisas sobre o fim das negociações”, afirmou Lamy em entrevista ao diário italiano Corriere della Sera.


 


Na entrevista, ele destaca a importância do compromisso alcançado nessa quinta-feira pelo chamado fórum FEJ, formado pelo G-8 e o G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul), junto a Austrália, Coreia do Sul e Indonésia. “O G-20 falava sobre fechar as negociações sobre as modalidades. Para que nos entendêssemos, esse acordo representava uma penúltima etapa. O alcançado em L'Aquila é um claro passo adiante”, destacou Lamy.


 


O diretor-geral da OMC assinalou que o avanço pode ser atribuído à “ameaça do protecionismo que todos temem”. “Caso se observe o comunicado do G-8, não existe nenhuma referência à data para o fechamento de Doha. Na declaração do G-8 e do G-5, esta sim já existe”, lembrou Lamy. Por outro lado, Lamy se declarou a favor do plano de 12 pontos adotados pelo G-8 para tentar estabelecer padrões no mundo todo para a gestão da economia, que não deixem de lado o fator humano da crise.


 


Banco Mundial e FMI


 


Já o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, pediu cautela nas previsões sobre a recuperação da economia mundial. “É um campo de grande incerteza. Temos de ser cuidadosos nas previsões,” declarou Zoellick. Também o diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que poderão ser necessárias mais medidas de estímulo em alguns países para que saiam da crise, embora tenha afirmado que a economia mundial está no rumo de uma recuperação no começo do próximo ano.


 


Zoellick disse que é necessário destinar mais ajuda ao mundo em desenvolvimento porque “isto está vindo em ondas.” “Começou como uma crise financeira no mundo desenvolvido, depois passou para a economia real no mundo desenvolvido. Então, foi para a economia real no mundo em esenvolvimento, E então volta para o setor financeiro,” disse ele. “Portanto, agora temos um crescente número de empréstimos vencidos na África. E você vê um pouco disto no Brasil. Lembram-se? Primeiro as pessoas pensaram: Oh, bem, nós vamos evitar isso. Mas é algo global. Você não pode evitar.”


 


Ele disse que há várias áreas de risco, incluindo possíveis medidas protecionistas no comércio à medida que os países reagem ao desemprego crescente.”Agora quando eu penso em risco, estou focando em itens que poderão afetar o crescimento: protecionismo, o sistema bancário, e o que eu chamo de fator X – aquele que você nunca vê quando está vindo, que poderia ser gripe,” afirmou.


 


Com agências