50 anos de Roberto Carlos: bom repertório, apesar da Globo
Foi difícil. Para ver Roberto Carlos na TV primeiro era preciso ver Tony Ramos contracenando com uma vaca faminta durante dez minutos, na conexão Índia-Leblon da novela das oito. Só quando a novela acabasse o show poderia começar, mesmo com a chuv
Publicado 13/07/2009 20:57
E não foi um capítulo curto. Depois, impunha-se cruzar os dedos: transmissão de shows de música, na Globo, cheiram sempre a pasteurização. São todos iguais, réveillon, ação beneficente, tributo ou improviso de ministro-cantor.
A Globo fazia questão de mostrar que aquele era o “seu artista” desde o princípio, com boletins de reportagens mostrando a ansiedade do público e a preparação do palco. A chancela definitiva de propriedade artística veio com a apresentação de Patrícia Poeta, âncora do Fantástico, vestida para uma noite no Municipal. Os globais na audiência, em transmissões desse tipo, cumprem dupla função: são claque e merchandising e eram mostrados a todo o tempo pelas câmeras.
Transposto todo esse invólucro, aí sim havia Roberto Carlos. Mais artificial e decoradinho do que de costume, menos emocionante do que de costume, ele disse, de cara, que aquele era o show mais emocionante de sua vida. Mas é assim o velho Roberto, que fez shows muito mais emocionantes, como em 2000, no seu retorno aos palcos após dois anos de luto pela mulher, no Recife, no qual quase não conseguia cantar, de tanto chorar.
O show televisivo, dirigido pelo veterano Jodele Larcher, teve o mérito de não usar truques. Nada dos fogos artificiais que a Globo inventou desde a transmissão do Panamericano. Roberto era enquadrado com sobriedade, seus músicos em detalhes harmonizados com a música que tocavam.
Do ponto de vista musical, o bacana foi ver que Roberto incluiu o repertório sentimental de sua formação, como Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo, em homenagem ao pai, o relojoeiro Robertino, e Lady Laura. Essas canções voltaram a seu show no dia do seu aniversário, em Cachoeiro do Itapemirim, e mostram que ele, um dia, foi muito mais do que um artista programado para entreter.