Nádia Campeão defende pacto que priorize trabalho e produção
“Chegamos hoje a um momento em que cresce a necessidade de reconstrução de um pacto político para priorizar o trabalho e a produção, que supere a Carta aos Brasileiros e envolva a sociedade”. Enfatizando este aspecto, Nádia Campeão, membro do Comitê Centr
Publicado 23/07/2009 19:22
Sua análise partiu da constatação de que o segundo mandato do presidente Lula foi “mais avançado e enfrentou a crise de maneira positiva no sentido de preservar a economia, a renda e o salário”. Nádia também ressaltou que o período marcou o aumento do protagonismo do movimento social e o crescimento do PCdoB e dos setores da esquerda.
No entanto, a dirigente criticou a “orientação econômica híbrida que freia o pleno funcionamento do país”. “Notamos esforços do governo em tomar boas medidas em muitas áreas, fortalecendo posições e pessoas desenvolvimentistas. É o caso dos ministros Dilma Roussef (Casa Civil) e Guido Mantega (Economia); da nomeação de Márcio Pochmann (Ipea); da escolha de Luciano Coutinho (BNDES), da implantação do PAC, que dá ao país maior dinamismo econômico; das relações multilaterais mantidas com diversos países, entre outros pontos”.
“Se houvesse compatibilização desse movimento com uma política macroeconômica diferenciada, teríamos avanços ainda mais significativos. Hoje temos um modelo intermediário que mistura elementos novos e velhos, sem grandes choques ou uma ruptura maior”, lamentou.
Desaceleração econômica
O país, no entanto, seguia uma rota positiva. Até que a crise econômica, somada à política brasileira para a área, gerou impactos relevantes. “O resultado foi a forte desaceleração da atividade econômica; a piora das contas externas brasileiras – diminuição do superávit do balanço de pagamentos, déficit das transações correntes –; manutenção da política de juros altos e dos altíssimos spreads bancários; o aumento do desemprego e o comprometimento dos avanços sociais conquistados pelo povo”.
Ela apontou ainda que, conforme indica o projeto de resolução, “não basta apenas vontade de enfrentar a banca financeira; é preciso correlação de forças para alcançar um novo pacto que enfrente o setor rentista, a oligarquia financeira”. O foco central para se enfrentar a crise e estimular o desenvolvimento deve estar na “preservação da economia nacional, na multiplicação dos investimentos públicos; na ampliação do mercado interno; na defesa do emprego e da renda do trabalhador. E o governo parece seguir este caminho”, colocou.
Parceria instável
Para lidar com essa situação, a aliança política tem um papel fundamental e hoje a base de sustentação do governo enfrenta problemas. “Há uma espécie de pluripartidarismo composto por forças heterogêneas, sem definição ideológica e programática nítida, com tendências diferenciadas em cada região do país”, explicou Nádia.
A base, composta por 14 partidos, tem como aliança fundamental a união do PT com o PMDB, “uma parceria instável em que não há aglutinação em torno de princípios muito rígidos. Se esta fosse uma aliança mais sólida, mais programática, estaríamos em uma situação mais estável”, disse Nádia. Ela defendeu um centro de esquerda – PCdoB, PT, PSB, PDT, entre outros – para conduzir o governo no rumo do desenvolvimento.
No lado oposto está a oposição de direita “sem bandeiras e que, com a derrota dos paradigmas neoliberais, apoia-se no ideário da moralização formal, dos preceitos udenistas e no ‘choque de gestão’ com o apoio da grande mídia”. Nas próximas eleições, “a oposição vai ter que enfrentar o êxito dos dois governos Lula e o fracasso do ideário neoliberal”. Mas, alertou a comunista, “deve apresentar um candidato competitivo e experiente e tentará angariar o apoio total do DEM e disputar parte substancial do PMDB”.
Na opinião do PCdoB, para que seja possível continuar e aprofundar o ciclo iniciado por Lula é preciso, conforme Nádia destacou, “uma proposta de programa de governo verdadeiramente desenvolvimentista, que supere entraves macro-econômicos, afirme a soberania e a integração regional, a democracia e a valorização do trabalho; a formação de ampla frente com forças sociais e políticas comprometidas com o programa e a conformação de um núcleo de esquerda capaz de contribuir na orientação do governo e, por último, o lançamento de candidaturas que encarnem o programa e galvanizem o prestígio de Lula”.
Para possibilitar esse conjunto de ações, o partido buscará eleger numerosa bancada de deputados federais e empenhar-se pela unidade das forças populares e democráticas, como a CTB, a CMS, o movimento estudantil (UNE e UBES), o movimento comunitário (CONAM), entre outros.
Nádia Campeão, por fim, enumerou os itens da plataforma de ações imediatas defendidas pelo PCdoB: enfrentar a crise e abrir caminho ao novo projeto nacional de desenvolvimento; preservar e fortalecer o investimento e o mercado interno, a economia nacional e o Estado nacional; formar um sistema financeiro público fortalecido, integrado como polo de crédito para investimentos em infraestrutura; aproveitar todo o potencial energético do país, em suas variadas matrizes; demarcar com especuladores e rentistas em busca de um controle seletivo das entradas e saídas de capitais e da limitação às operações cambiais no mercado futuro e no mercado à vista; adaptar a atual legislação que regula as remessas de lucro e dividendos ao exterior; reverter as políticas monetária, cambial e fiscal, com queda gradativa da taxa de juros, administração da flutuação da taxa de câmbio e redução do superávit primário e adotar nova política industrial e de inovação tecnológica.
O curso de nível 3 da Escola Nacional do PCdoB acontece até dia 31 em Atibaia (SP) e reúne cerca de 80 militantes, quadros e dirigentes do partido de 22 estados.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
Leia aqui o documento-base sobre a situação nacional