A Guerra de Obama e o segundo turno no Afeganistão
"No dia 7 de novembro os eleitores afegãos terão de decidir em um segundo turno se o próximo presidente será Hamid Karzai ou Abdullah Abdullah". Editoria do jornal online ODiário.info.
Publicado 21/10/2009 18:00
"Karzai, pressionado no domingo pelo senador John Kerry, de visita ao país, aceitou a decisão da Comissão Eleitoral depois de a Comissão de Queixas ter pedido a anulação do primeiro escrutínio por existirem provas "claras e convincentes" de uma gigantesca fraude na eleição de agosto.
No seu relatório, essa Comissão, patrocinada pela ONU, concluiu que Karzai recebeu mais de um milhão de votos fraudulentos; em algumas regiões 90 por cento de votos de eleitores inexistentes entraram nas urnas.
O general Stanley McChrystal, comandante das forças de ocupação dos EUA, informara com antecedência o presidente Obama de que a reeleição ilegítima de Karzai impediria a formação de "um governo estável e crível" no pais, imprescindível à aplicação da nova estratégia por ele sugerida com o apoio do general Petraeus, comandante supremo estadunidense para o Oriente Médio e Ásia Central.
A situação criada coloca o presidente Barack Obama numa postura muito incômoda. Em agosto tinha qualificado de "positivo" o processo eleitoral, conformando-se com a reeleição de Karzai; agora foi forçado a dar o dito por não dito, reconhecendo que fora fraudulenta. Cabe recordar que a maioria dos governantes da União Europeia assumiu então a mesma atitude. Alguns não hesitaram em felicitar Karzai pela sua "vitória democrática". José Sócrates decidiu, aliás, enviar mais soldados portugueses para o Afeganistão.
Entretanto, Obama realizou cinco reuniões na Casa Branca para apreciar o pedido do general McChrystal de mais 40.000 soldados. Foram inconclusivos esses encontros. Finalmente, chegou à conclusão que a formação de um "governo crível" em Cabul é uma impossibilidade absoluta num contexto de corrupção generalizada, agravado pelo fracasso (com recorde de baixas) da ofensiva das forças estadunidenses e britânicas na Província do Helmand.
Segundo observadores das ONU, a fórmula da segunda volta permitirá a eleição de Abdullah Abdullah, um político merecedor de uma confiança relativa do Departamento de Estado e do Pentágono. O general McChrystal poderia então, com a aprovação de Obama, receber pelo menos uma parcela do reforço de tropas solicitado e desenvolver a "nova estratégia" por ele concebida. Sem mais tropas, a guerra, na sua opinião, está perdida.
O embaixador Francesc Vendrell, que foi até 2008 o representante da ONU no Afeganistão, afirma, porém, que não há garantias mínimas de que a eleição de 7 de Novembro não seja fraudulenta, tal como a primeira.
A única certeza no momento é a de que a escalada militar no Afeganistão, agora extensiva ao Noroeste do Paquistão, onde o caos alastra, prosseguirá. O presidente distinguido com o Prêmio Nobel da Paz insiste em identificar na guerra em que os EUA estão atolados uma prioridade da sua política externa.
O povo dos EUA não o acompanha nessa convicção. Uma sondagem realizada na semana passada revelou que 59 por cento dos seus compatriotas pensam que o país se envolveu num "novo Vietnã".
Será que permitiremos que o Afeganistão se torne no prólogo de uma nova tragédia para a Humanidade?"